Lá vem ela de novo. Essa multimulher não para
nem por um segundo, até seu sono é produtivo ( e ai dele se não for!). Mas como
falar de dores e delícias sem falar da multimulher, o protótipo da ambiguidade.
No campo maternidade então, essa
assertiva se realiza plenamente.
Ser mãe tem tudo a ver com a letra de Caetano
Veloso que diz “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”, até porque, com
perdão do trocadilho, a maternidade tem seu dom de iludir, e também por isso é uma
aventura maravilhosa.
A gestação, à parte a possibilidade dos
enjôos, mal estar e repouso forçado para algumas, é uma ilusão fantástica. Está
ali o pequenino ser no ventre, podendo ser levado a qualquer lugar, obediente e
sob controle. A áurea sublime que cerca esse momento parece ser uma trégua
providencial para o dia em que seu bebê vem ao mundo se seu peito racha, sua
bexiga dói e seus olhos pesam. Até você, que nunca curtiu uma rave vai curtir a
noitada e vai entrar em alfa ao trocar olhares com aquela pessoinha na
madrugada. (Parênteses para alerta: depois das primeiras noites, já
estabelecida a relação, opte por não estabelecer contato visual, não acenda
luzes e faça o mínimo barulho possível; verá que é mais fácil fazer o rebento
dormir novamente). Ainda assim, sentir-se realizada é a tônica.
Com crianças pequenas o trabalho braçal é
enorme, muitas vezes parece se estar correndo num carrossel de hamster; não há
como descer. E é mesmo um processo que se autoalimenta; acorda, dá comida, dá
banho, brinca, se suja dá mais banho, mais comida, brinca, se suja... não sem
um beijinho gostoso com a sinceridade que só criança tem, um abraço com aquela
mão de chocolate e aquela exclusiva troca de olhar. E nas noites febris vem
tanto aperto no coração (mesmo que você chega médica, e pediatra; esta ainda
pior pela quantidade de possibilidades diagnósticas que lhe vem à cabeça),
trocaria de lugar facilmente e faria qualquer coisa para devolver-lhe o
bem-estar. Felizmente há a incrível capacidade de recuperação das crianças, e com
ela o retorno da tranquilidade. Quem sempre foi cheia de nove horas para tudo,
agora põe a mão em cocô, xixi e toda sorte de secreções sem cerimônia. E está
tudo certo!
Para as mães dos maiores entra em cena mais
uma tarefa, a de motorista. É um tal de leva para a escola, da escola para a
natação, daí para o balé e depois ainda tem a aula de inglês, de robótica, de
judô, e um sem número de coisas que esses pequenos executivos fazem nos dias de
hoje. A multimulher supira cansada, a esta altura já não se culpa por querer
dar uma parada de vez em quando, mas a cumplicidade continua, e se sente a
alegria da missão sendo cumprida e ver que contribui para entregar ao mundo um
ser humano valoroso.
A vida segue, e provavelmente algum dia a angústia do ninho vazio vai passar por aquela mulher, contudo a sua essência multi-interessada a fará ter outros focos para colocar sua energia, embora sempre exercendo a maternidade, ainda que posicionada de uma outra forma. Tudo porque aquela primeira troca de olhar simboliza um laço absolutamente insolúvel e faz parte das delícias da maternidade, que estão acima de todas as dores.
E você doutora conseguiu me fazer chorar.. me enxergar... de cansada suspirar... e à minha tripla labuta retornar.. parabéns a todas nós por sermos multimulheres... sermos MÃE.
ResponderExcluirOh, amiga! essa labuta é quádrupla, hein? Mas a força está com a gente. Beijos.
ExcluirNão posso deixar de compartilhar!!!! Amiga, vou roubar
ResponderExcluiruns textos seus para publicar no Test Drive Mami, posso??