domingo, 20 de março de 2011

SOBRE AS PEQUENAS COISAS...


Pequenas coisas - 14 Bis

Um amigo me mandou um poema de Mário Quintana sobre encontrar a felicidade nas pequenas coisas, de forma mais realista, ao contrário de viver numa corrida sem fim atrás às vezes do impossível. Ele nos instiga a pensar na felicidade como algo de total simplicidade e que para ser alcançada é preciso que se perceba isto. Seu pensamento me chamou muito a atenção, até por ser algo de que tento me lembrar todos os dias. É o exercício do “carpe diem”; não deixar de ser feliz agora, com tudo de bom que já temos.

O que determina a dimensão das coisas, da importância dos nossos atos e dos acontecimentos? Chamar o que se vive no dia-a-dia de pequenas coisas é apenas um modo de falar, pois apesar de acontecerem corriqueiramente encerram em si o verdadeiro sentido de viver.  Toda mãe sabe o quanto é imensa a emoção da troca de olhar com seu filho enquanto o amamenta. É algo tão simples, e por outro lado tão ímpar. E o sorriso que ele abre quando o pai chega? Faz todo o sufoco do dia de trabalho inteiro passar a significar nada, afinal ao voltar para casa se ganha esse prêmio. Como não achar maravilhoso aquele friozinho na barriga dos primeiros encontros, quando não se sabe o que dizer, como se comportar e tudo é novo? O que dizer daquele pôr do sol incrível, daquela tarde despretensiosa no parque, um passeio de bicicleta, um jantarzinho com os amigos para jogar conversa fora, um mergulho no mar num dia quente de verão ou a primeira vez que tocou na neve? Me recuso a não valorizar estas coisas. Elas são o esteio do que nos faz sentir plenos, são os tijolos dos quais construímos nossa história pessoal.

O ritmo de vida do nosso tempo nos impele ao imediatismo, à velocidade, a valorizar o que nem sempre é fundamental, é uma época de excessos em que a sensibilidade se torna crucial para sabermos separar o essencial da perfumaria. Trata-se de mudar a ótica, alterar a perspectiva, passar a ver o mundo com olhos mais atentos ao que realmente nos impulsiona e nos motiva. Estamos afeitos a olhar o todo, a pensar no macro – para o bem e para o mal – é comum num relacionamento não enxergarmos os pequenos gestos, mas quando a relação se complica apontamos qualquer pequeno deslize. A mudança desta sintonia é imprescindível para se resgatar leveza de simplesmente ser feliz.

Não estou sugerindo que nos contentemos com pouco (não tomemos simples como simplório), isto definitivamente está fora de questão; o pensamento é sobre não se deixar iludir pela possibilidade distante só porque não se foi capaz de olhar em volta. A busca pelos nossos sonhos é absolutamente lícita, desde que este caminho seja trilhado com sabedoria, aproveitando o amor que sentimos pelo outro, as amizades que cultivamos ao longo da caminhada, as alegrias que são geradas pelos pequenos atos, enfim, não focalizar o pote de ouro no fim da estrada sem perceber as moedas que já surgiram à sua frente. No fim o que de fato permanece são essas ditas pequenas coisas, marcas indeléveis de que se soube aproveitar cada minuto de nossa rápida existência.

sábado, 12 de março de 2011

IRMÃOS



Uma das coisas que mais pensei quando tive minha primeira filha foi que ela precisava (e merecia) um irmão (independente do sexo). Hoje, ainda que elas sejam pequenas, já percebo a importância de uma na vida da outra. Esta certeza vinha da minha própria vivência com meus irmãos, por ter sido ela fomentadora de uma relação única e responsável por uma infância maravilhosa, tendo chance de trocar experiências, ter cumplicidade e partilhar o nascimento de suas próprias famílias.

O mês de Março sempre foi muito festivo em nossa casa, afinal de contas meus dois irmãos fazem aniversário. Por esta ocasião tenho resgatado lembranças que me são muito caras – em tudo tem um pouco deles. Apesar das diferenças de idade, o clima fraterno sempre foi privilegiado - com o mais velho um modelo por quem se pautar e com o mais novo uma relação quase maternal.   Além das festinhas, dos aniversários recordo também pelas traquinagens, já que o aniversariante aprontava o dia todo, talvez percebendo a passagem do tempo. Trazendo esse passado que está logo ali, sinto a força destes laços que dificilmente se encontra fora do ambiente familiar.

É impressionante como a leitura de uma mesma relação é distinta para cada irmão; são filhos dos mesmos pais, em tese criados do mesmo modo, porém são todos diferentes. Li recentemente um artigo de uma pedagoga que falava o quanto esta troca entre irmãos contribui para o desenvolvimento psicossocial. Cita um termo chamado outridade, que indica a força psicológica que o outro causa, daí a razão pela qual os irmãos acabam por moldar o comportamento entre si. A presença de um irmão proporciona a oportunidade de exercitar a resolução de conflitos e descobrir-se como indivíduo, além de auxiliar na inserção em determinados grupos sociais; com freqüência o irmão mais velho é cicerone do mais novo. O cuidar também é experimentado nesta relação, devendo ser uma via de mão dupla. É um vínculo extremamente duradouro mesmo que a distância se interponha, o qual valorizamos, tanto que o extrapolamos  do âmbito familiar buscando-o também na sociedade com os nossos amigos. Aqui cabe dizer que a relação com o irmão precisa ser bem cuidada e nisso os pais têm papel fundamental; como pontuou a psicóloga Lunalva Fiuza Chagas, muitas vezes mantemos uma intimidade e cumplicidade bem maior com um amigo do que com o próprio consangüíneo porque a ela é dispensado maior cuidado (pela possibilidade de rompimento). Com os próprios irmãos sentimos ser o laço indissolúvel podendo ser o tempo todo ameaçado sem risco de ruptura, contudo esta atitude pode criar um fosso que segue por toda a vida.

A convivência não é livre de tensão, briga-se pelo espaço, pelos brinquedos, pela TV e pelo computador, enfim tudo pode ser motivo de desacordo. Dizem os estudiosos do assunto que a convivência é mais amena com sexos opostos por não terem objetivos que se cruzam e sim caminham em paralelo, caso contrário é comum sobressair a competição. A sorte é que vamos todos crescendo e a forma de nos relacionarmos também se modifica; aquelas brigas aparentemente intermináveis se transformam no nosso formato de família, fortes e cooperativos, dando suporte nos momentos mais complicados e dividindo as alegrias. Faz parte de tudo isso seguir comemorando os aniversários e desejar felicidades em alto e bom tom.                                                  

sábado, 5 de março de 2011

DIA INTERNACIONAL DA MULHER


O dia 8 de Março foi escolhido como Dia Internacional da Mulher; e adotado pela ONU para lembrar as suas conquistas sociais e econômicas, bem como a discriminação ainda hoje presente nas várias sociedades. Teve origem na Rússia, numa época em que se estava contratando a mão de obra feminina em massa e as mulheres lutavam por “Pão e Paz” – contra as péssimas condições de vida e contra a entrada de seu país na Primeira Guerra Mundial. A data é o dia que, em 1857, operárias de uma fábrica americana fizeram uma greve por melhores condições de trabalho, redução da jornada de trabalho e equiparação com os salários dos homens (chegavam a receber um terço deste).   A manifestação foi reprimida com tal violência, que as tecelãs foram trancadas e a fábrica incendiada, provocando a morte de mais de uma centena de mulheres.

Este dia precisa ser lembrado, mais que isso comemorado, dada a sua importância. Muito foi feito pelas gerações de mulheres que nos antecederam; foram às ruas, deram “a cara à tapa”, queimaram soutiens em praça pública e hoje é possível experimentar a mudança. É por conta deste passado que se conseguiu uma inserção expressiva das mulheres no mercado de trabalho, mulheres ocupam uma posição familiar de maior poder de decisão (até porque com as mudanças no âmbito do trabalho houve ascensão no seu poder aquisitivo e muitas famílias passaram a ser chefiadas por elas). É também fruto deste passado o voto feminino, a possibilidade de ter mais e mais mulheres nos três níveis de poder e aqui no Brasil a inédita eleição de uma mulher para a Presidência da República.

Infelizmente o dia não merece lembrança apenas pelas conquistas, que apesar de não terem sido poucas, de forma alguma encerram a questão. Ainda hoje se luta pela equiparação salarial – por que motivo mulheres e homens em cargos semelhantes recebem uma média salarial diferente? Com o mundo globalizado se expõe cada vez mais as mazelas um dia ocultas, não sendo mais possível olhar apenas as questões mais próximas – mulheres ao redor do mundo ainda são inferiorizadas, mutiladas e castigadas por não terem o devido respeito aos seus “senhores”. O problema não é só criar leis, sem tirar sua importância (a exemplo da brasileira Lei Maria da Penha), mas mudar a mentalidade, e isto sim têm sido uma luta árdua.

Entre conquistas e lutas, no século XXI as mulheres se encontram numa verdadeira encruzilhada emocional – se por um lado é muito bom ter vez e voz, tomar as rédeas do seu destino também significou correria, jornada de trabalho tripla, múltiplos interesses, tudo em oposição àquela vidinha boa de ficar tricotando, decorando a casa, ensinando novas receitas para as amigas, cuidando das flores, estando presente na rotina das crianças, e pra falar a verdade, com domínio completo sobre a vida dos homens. Sem falar que os homens, revoltados, além de confusos (com tanta revolução feminina), resistem em mandar flores e abrir a porta do carro. E agora? Pedir as contas? Parar o trem, pois a gente quer saltar?

Longe de ter a resposta, seguimos tentando acertar, com apenas uma certeza: não vamos encampar uma guerra dos sexos; não é disso que se trata. Precisamos nos manter unidos por uma sociedade mais bacana, com mais oportunidades para todos, e para isso somos todos aliados.  Mulheres querem brigar pelo seu espaço, mas também ser cuidadas; deixar os homens fazendo o papel de “macho” da relação, mas sem querer “domar” o sexo oposto. Enfim, queremos poder ser e ter tudo. E porque não?