sábado, 31 de julho de 2010

Sedução Japonesa




Nunca esqueço meu amigo Marcos Mello dizendo: “comida japonesa é in, mas deixa eu ser out”.  Muito provavelmente isso já tenha mudado. Até ele já deve ter se rendido aos sabores da culinária japonesa.

Nos últimos anos a proliferação de restaurantes japoneses no Brasil foi significativa, e é apreciada por crianças, jovens e adultos, é Temakeria para todos os lados. Pessoalmente me agrada muito, é de fato uma sedução.

Inicialmente os brasileiros encaravam o sushi e seus derivados como uma comida exótica, e demoraram a gostar. Esta resistência inicial explica o fato da apresentação de um cardápio variado, fugindo da tradicional especialização. Atualmente, existem mais restaurantes nipônicos em São Paulo do que churrascarias (são cerca de 600 casas que oferecem pratos japoneses contra 500 casas especializadas em rodízio de carnes segundo a Abresi - Associação Brasileira de Gastronomia, Hospedagem e Turismo). Alguns motivos desta explosão estão nos pratos diferentes e extravagantes, sendo saudáveis, frescos e sem muita gordura, sem falar na técnica e na sutileza, típicas da culinária japonesa.

Há mil anos, a culinária japonesa era apenas uma cópia do que se fazia na China e na Coréia. Até o século X, praticamente tudo o que se comia no país, como o arroz e o macarrão, era preparado de acordo com os costumes dos vizinhos. Foi nos séculos seguintes que as influências estrangeiras passaram a ser transformadas e adaptadas às condições e preferências locais. Nascia, finalmente, a autêntica gastronomia japonesa.

Quando os primeiros imigrantes japoneses chegaram ao Brasil, em 1908, trouxeram vários hábitos como comer com hashi (aquelas duas varetas usadas para levar o alimento à boca), inicialmente se instalaram no interior do estado de São Paulo, onde surgiram os restaurantes mais formais, no bairro da Liberdade. 
Um século depois, algumas das tais esquisitices orientais se integraram ao cotidiano dos brasileiros. Comer com pauzinhos virou moda até em lanchonetes e palavras como sushi e sashimi já fazem parte do nosso vocabulário.

Daí para o sushi passar de alimento preservado a fast food foi um pulo. É verdade que o sushi/sashimi contemporâneo é bem diferente do original. O namasu, citado em textos do século VIII, eram fatias de peixe cru servidas num molho feito de vinagre e missô (pasta de soja). O peixe já vinha misturado ao molho e ninguém reparava se tinha sido bem ou mal cortado. Só no século XV o japonês passou a preparar o sashimi como faz hoje: peixe cru fatiado com maestria, para que o chef possa exibir toda sua habilidade de cortar e arrumar o peixe. Hoje a maioria dos restaurantes japoneses serve tanto sushi quanto comidas quentes, tentam lidar com o cardápio limitado pela pouca variedade de peixes e mariscos no oceano atlântico. Nos grandes restaurantes, longe dos citados fast-food, muitos produtos precisam ser importados. A boa culinária japonesa é cara, pois não se pode dissociar da apresentação, como uma boa cerâmica e utensílios diferenciados. 

Além da questão de se popularizar ou não a comida japonesa, existe mais recentemente a tendência chamada “fusion”, que como o nome diz, consiste na mistura das culinárias, a exemplo da caipirinha com saquê. Os amantes da culinária japonesa tradicional torcem o nariz, mas os novos chefs se esbaldam em inovações. Para fazer o fusion é preciso saber o que se está misturando, o que nem sempre dá certo, inclusive porque  a própria culinária japonesa já é uma fusão. Estão fazendo até pizza de sushi, para desespero de italianos e japoneses.

Tradições e polêmicas à parte, é muito bom ter contato a tudo isso, e o bom é fazer deste momento a porta de entrada para a rica cultura oriental que, nem é preciso dizer, vai muito além da culinária. 

sábado, 24 de julho de 2010

CONTRA O AMOR

Calma! Este é apenas o titulo de um livro que acabei de ler. Para comprá-lo passei por cima de algumas angustias internas, pois minha referencia era de um conhecido que concluiu com a leitura que amor e casamento não combinam. Pensei estar totalmente fora daquilo que acredito. Será que é tão convincente a ponto de desestruturar minhas crenças nesta área? Meu casamento é suficientemente firme para tolerar esta leitura? Vou expor feridas escondidas? Dei uma balançada. 

Por outro lado, se as coisas são realmente sólidas, vou ter que suportar a simples opinião da autora. Aqui cabe nota sobre a mesma, Laura Kipnis, PhD em psicologia, conhecida por instigar o leitor a refletir sobre dogmas, polêmicas e tabus.  Para os que apreciam assuntos complexos e polêmicos é sempre uma grande oportunidade.  

Depois de muito papo cabeça, a autora escreve neste livro sobre as barreiras impostas pela sociedade que sonegam ao ser-humano o livre direito de amar em sua total plenitude. Versa sobre uma suposta contradição entre o amor e o casamento, constatando que o primeiro por essência é livre e o casamento, nos moldes concebidos por nós ocidentais, exige fidelidade. Partindo desse pressuposto, o casamento seria um terreno fértil para o adultério.

Eu, aqui com meus botões, respirei aliviada por não me sentir abalada. Até concordo que o amor é um sentimento que liberta, e que de várias formas o casamento prende, mas não deve ser visto como uma prisão de fato, portanto quando o livre amor bate asas, é hora de partir para outra. E se o amor se foi, não quer dizer que não deu certo, pois citando mais uma vez o inesquecível Vinicius de Moraes, “que não seja imortal posto que é chama, mas que seja eterno enquanto dure”.

No fundo o livro representa a indignação com os desestimuladores índices de divórcios e separações de casais, antes apaixonados e felizes, mas frustrados após o casório. Enaltece o amor adolescente, a paixão juvenil e todo o frescor que deve ser cultivado na rotina de um casal.  O respeito à individualidade de cada um e o amor-próprio também devem ser mantidos, e não a perda de identidade da mulher ou do homem, como geralmente acontece. ( Pelo visto volto ao Diário da Multimulher, de forma recorrente acabo voltando por ser tema também recorrente nas conversas entre todas as mulheres)Encontro mais respostas positivas ao meu questionamento anterior – há vida após o casamento? Termino minha leitura em paz.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

DIÁRIO DA MULTIMULHER



Lamentei não mais sentir aquele friozinho na barriga. Como era excitante esperar ele chegar, a troca de olhares, toda a paixão que se insinuava. O simples toque das mãos já provocava furor. Me preocupou  pensar ... bons tempos aqueles ... Será que não há vida após o casamento?
A verdade é que fui levando a vida de esposa, gerenciando a casa, batalhando por  objetivos profissionais e  fui ser mãe (muito mãe!). Não esqueci o casamento, nem do amor que me uniu ao meu par para sempre, mas vamos combinar que tudo isso ocupa tanto espaço que quando você se dá conta a vida do casal está em segundo plano.
Então de novo me encontro no ponto de interrogação e me pergunto onde vou mexer para mais uma vez poder experimentar o tal friozinho na barriga. Acredito sim que o casamento pode ser melhor do que a fase de namoro, até porque formar uma família ainda é nosso mais importante projeto.
São conhecidas as estatísticas sobre casamentos - grande parte deles acaba no primeiro ano do primeiro filho por este ser o momento em que se cruza a fronteira entre mulher-amante e mulher-mãe; para os casais sem filhos também apontam a “burocratização” do sexo como fator preponderante para o desgaste das relações; existem ainda dados sobre a famosa crise dos sete anos, para a qual alguns psicólogos afirmam haver grande culpa da rotina em que caímos.  As pesquisadoras Maria Lúcia Garcia e Eda Tassara trabalharam no projeto “Da Utopia do Amor Romântico ao Cotidiano do Casamento”–evidenciou-se que falar, pensar, viver ou planejar manter uma relação afetivo-sexual faz parte da biografia de uma boa parte da população e que adotamos diversos estratagemas para tal. Para muitos autores e justamente quando chegamos ao cotidiano do casamento que precisamos manter a atenção redobrada, ao contrario do que normalmente fazemos – muito investimento pessoal durante a conquista e depois liga o piloto automático.
Estas reflexões me acompanham sempre, e é assim mesmo; quando a coisa vai se acomodando a gente tem que dar uma sacudida. É meio como se precisássemos re-enamorar a nova pessoa que surge á nossa frente, afinal todos nós vamos mudando ao longo da vida e se não estivermos atentos um dia olharemos para o outro e nos depararemos com um estranho.
Sem querer ser pretensiosa vou arriscar uma solução: voltar a namorar. Valorizar o olhar mais para o outro, o tocar mais o outro.  Que tal aquele programinha que adorávamos fazer, cineminha, namorar no escurinho, dividir o sorvete, e porque não?, lembrar de elogiar o cheirinho delicioso de seu perfume. É preciso reinventar o casamento todos os dias, o que exige também jogo de cintura e maturidade. 

sábado, 10 de julho de 2010

Solidão

Há muito tempo li uma reportagem de uma jornalista americana cobrindo a Guerra do Golfo. Ela a certa altura dizia “ a solidão é intrínseca ao ser humano”. Fiquei com aquilo na cabeça rememorando o que ela relatava; tentava em suas ligações para o marido passar o que sentia em meio a todo aquele cenário de guerra, do quanto se sentia angustiada, mas no fundo sabia que era difícil fazê-lo sentir o mesmo que ela.  

O filósofo alemão Martin Heidegger afirmava que estar só é a condição original de todo ser humano. Não significa algo negativo, é experimentar sensações que o outro não pode vivenciar por você. Ouvimos com frequência coisas do tipo “só vivendo para saber”, e é de fato impossível imaginar que cada um de nós tem respostas idênticas a todas as coisas. É o espectro da individualidade. No decorrer da vida passamos pela angústia de diversas situações que pertencem apenas a nos, pelo menos a maneira como lidamos com elas, principalmente a forma como sofremos nossas dores. As alegrias também têm um gostinho especial para quem as vive. Todos que nos cercam ate podem estar contentes por nós, mas só ali dentro, no escurinho do seu próprio eu, explode o gostinho da felicidade.

Viver isto positivamente é  enriquecer-se com suas próprias experiências e tornar-se mais interessante para o outro. Esta dita solidão do ser humano pode gerar um sentimento de abandono, mas uma criatura de fé valoriza a liberdade advinda dela. Liberdade sim, pois a individualidade é o que permite que tomemos nossas próprias decisões, responsáveis por erros e acertos.

Depois de muitos anos concluo que o que aquela repórter me despertou sobre a solidão não é uma catástrofe, e sim uma condição da existência humana, com a qual podemos lidar bem, e seguir em frente. Não quero com isso fazer apologia ao viver sozinho, pelo contrario; me parece que é estarmos juntos e trocando mutuamente que nos torna plenos. 

sábado, 3 de julho de 2010

ANDAR COM FÉ EU VOU...


       Estava cantarolando a música de Gilberto Gil... andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá! Nestes dias difíceis não me sai da cabeça. E é muito verdadeira... certo ou errado, a fé vai onde quer que eu vá...mesmo a quem não tem fé, a fé costuma acompanhar...

       É inerente ao ser humano, mesmo aos que se dizem céticos ou agnósticos, apegar-se a algo que não se vê, mas que se espera. E diante de verdades cientificas tão amplamente comprovadas, vale a fé? Penso que fé e ciência não são excludentes. Como disse Edward Mitchell, um dos primeiros homens a pisar na Lua: “O Universo é a verdadeira revelação da divindade, uma prova da ordem universal da existência de uma inteligência acima de tudo o que podemos compreender”.  Diversos cientistas importantes, ganhadores de prêmios Nobel, estudiosos de várias áreas reconhecem a existência de Deus. Mesmo o conhecido racionalista e inimigo da fé católica Voltaire, certa feita declarou: “O mundo me perturba e não posso imaginar que este relógio funcione e não tenha tido relojoeiro”. 

      Posto que como mulher das ciências estou autorizada a confortavelmente transitar no campo da fé, me ponho a desejar tê-la sempre, não só quando o chão sob os meus pés parece fugir.  Confronto minhas crenças e percebo que é fácil continuar seguindo em frente se você acredita que nada lhe faltará, que segurando nesta mão que lhe está sempre estendida não há o que temer, que estamos aqui para finais felizes. É esta mesma fé que nos faz aceitar tranqüilos o conceito de crescer na dor, e acreditar que a solução para todas as coisas sempre chega.

     Não se trata de um discurso conformista conformado com o determinismo das coisas. Pelo contrário, é um testemunho de que a fé é a mola propulsora para lutarmos nossos combates sem  esmorecer, não se dar por vencido e usar os revezes para sermos mais fortes. É a absoluta certeza de que fé e ciência se complementam – a ciência livra a fé de uma possível ingenuidade e com a fé a ciência se exime de afirmar que o mundo é apenas matéria.