domingo, 28 de outubro de 2012

PAIXÃO OU RAZÃO




Esta não é apenas uma história de amor. Na verdade é uma história de paixão. É sobre o momento em que uma decisão importante está para ser tomada e talvez por isso não devesse se basear na paixão, mas se pronuncie quem for capaz de controlá-la. Na verdade é uma história de razão, mas o que dizer sobre as razões que a própria razão desconhece?

Sob a ótica da paixão as questões ganham dimensões muitas vezes distantes da realidade, tomam um cunho obviamente pessoal. Deixa-se de lado justificativas plausíveis, não precisa ter razão de ser, carece deliberadamente de fundamentação. Visto assim soa inconsequente, contudo escolhas decisivas são feitas assim todos os dias, e não necessariamente leva ao erro. Pode ser o que origina o passo mais acertado de sua vida, pode ser a fonte inspiradora para todas as suas conquistas, sua receita de sucesso. Hoje pode ser um desses dias.

Há, por outro lado, a racionalidade pura, a objetividade, que poderá lhe dar dados probabilísticos em direção ao acerto. Mesmo que não represente cem por cento de certeza, para alguns representa segurança. Estar embasado, fundamentado em fatos reais, buscando conhecer o modus operandi dos atores envolvidos em dada situação, sua trajetória trás a sensação de se estar tomando a decisão correta. Algumas situações certamente exigem tal estratégia. Hoje pode ser um desses dias.

O grande acerto num dia como esses, em que se degladiam paixão e razão, é ter sabedoria para distinguir se é hora de usar uma coisa ou outra. Mais ainda quando estamos um por todos e todos por um, com o gesto de um afetando a vida do outro. Não se espante; num dia como esses ambas podem ter seu lugar, e tudo pode se apresentar de forma suficientemente confusa a ponto de você sequer perceber. Então encare o momento de frente, tome as rédeas e decida o que só cabe a você. Ao final de tudo busque a serenidade, não apenas para aceitar os resultados, mas para ser agente de uma possível mudança se julgar necessário, de forma lúcida e coerente. Até porque outros dias como este chegam de tempos em tempos, e sem dúvida você vai querer fazer o melhor, com paixão ou com razão.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A MORTE DA DIALÉTICA



“Toda unanimidade é burra”. A frase atribuída a Nélson Rodrigues expressa o quanto a dialética é importante para o enriquecimento humano. Manter viva a discussão no sentido de  fazer refletir é fundamental para mover o pensamento adiante.

A presença da dialética supõe confronto de idéias, não necessariamente o conflito. Requer respeito e serenidade para que ter diante de si o outro lado da moeda suscite a busca pelo denominador comum, e não simplesmente dominar. Não por acaso, os opostos se atraem a fim de se complementarem. Discordar é bom e é saudável, desde que seja privilegiada a tolerância. Quando a dialética morre, o discurso se torna vazio, mera retórica, e que não leva a lugar algum.

Nos dias atuais o antagonismo das idéias muitas vezes parece pálido; criaram-se diversas ditaduras de comportamento e padrões a que todos devem seguir. Quem pensa fora da caixinha é tido como inadequado. Casos de bulimia e anorexia têm como origem a necessidade extremada de se encaixar em dado estereótipo. E as pessoas que vivem marginalizadas por terem um estilo de vida que se distancia de um status pré-determinado. Assim acontece no campo político, quando adversários limitam-se à agressão mútua e a apontar os erros do outro, esquecendo-se do foco da disputa. Pouco adianta levantar os problemas sem pensar para eles soluções e viabilizá-las. Aqui cabe perfeitamente aprender a ouvir e pensar na contribuição que cada um tem a dar.

Em suma, fazer pulsar a dialética é um exercício diário e significa sair da atitude defensiva, pressuposto para viver em harmonia, respeitando as diferenças.

domingo, 7 de outubro de 2012

O SACO DE BESTAGEM DE VANDEU

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Domingo é dia da meninada. A programação vai sendo adaptada ao gostinho dos pequenos e invariavelmente envolve saídas longas. Quem tem filho pequeno sabe que uma mochila é sempre bem vinda, onde se coloca coisas que possivelmente vão usar, mesmo para os maiores, é um lanche, uma água ou uma muda de roupa. Até aí tudo normal. O engraçado hoje foi a interferência das estrelinhas na arrumação da tal mochila (coisa que vem se tornando bastante comum) – é tanta buginganga que acham importante levar, inclusive todas com justificativas extensamente balisadas, seja a cabeça decepada de uma boneca velha ou uma toalhinha rasgada deixada de lado, passando por um bloquinho de papel e um lápis sob o disfarce de diário a título de se escrever as aventuras que acontecerem no passeio. E nessa hora algumas coisas vêm à mente: o peso da mochila, toda hora ter que abrir a mochila, por consequência ter que fechar a mochila, derrubar um monte de coisa no abre-fecha da mochila e torcer para não esquecer a bendita mochila. Fez lembrar  O SACO DE BESTAGEM DE VANDEU (assim mesmo com letras maiúsculas dada a entidade de que se tratava).

O tal saco (saco mesmo!) era emblemático, inseparável de seu dono e parecia ter vida própria. Parecia ser uma espécie de alterego e às vezes é possível que chegassem a dialogar entre si, dono e objeto. Simbiose como esta suscitava fantasias a cerca do que haveria dentro dele, ainda mais para quem, puxando agora da memória, nunca vira o conteúdo do saco. O episódio de hoje revirou-o e viu tanta coisa lá dentro, afinal que lógica pode ter a fantasia? E não é que viu que levava também seu caderninho para anotar as aventuras do dia, que não eram poucas,  e as tiradas impagáveis, contar do amor que tinha pela família, do quanto sabia curtir a vida, explicar a diferença entre pôde e podre, além de ensinar a encarar o mundo com o mais genuíno bom humor.

Sendo assim, deixa as pequenas colocarem o que quiserem na mochila, aliás cada uma com a sua, um território particular onde tudo é possível, criando seu próprio saco de bestagens onde poderá brotar livremente suas fantasias de criança e um dia poder ser uma deliciosa lembrança.