sexta-feira, 26 de julho de 2013

O DIA EM QUE KATE FOI PRA GALERA



Esta semana o noticiário não parou de falar no nascimento real. Tudo previsível e até justo, em que pese ser uma desproporcional invasão de privacidade, afinal a monarquia inglesa sempre desperta interesse. E já que o assunto é quase imposto, deliberadamente preferi olhar outro ângulo da notícia; o quanto esse evento na vida da princesa faz com que se aproxime de todas nós simples plebéias.

 Com a chegada do bebê vai ser preciso uma pausa no conto de fadas para lidar com os dilemas comuns aos mortais, que já vem no pacote da maternidade. Toda a avalanche de sentimentos e de dúvidas também batem à porta da realeza, como para qualquer mulher. A tarefa agora é nova, como o é para cada uma de nós; ter uma pessoinha que depende exclusivamente de você, para o bem e para o mal, sentir crescer incondicionalmente o amor e redimensionar as certezas que se tinha. Sai de cena a princesa e  estréia a mãe.

Além da proximidade emocional que experimentamos neste momento, tem o trabalho braçal do dia-a-dia (tudo bem que o pequeno príncipe já deve ter sua própria ala de criados). De qualquer modo ser lançada ao universo das fraldas sujas, do choro à noite, das cólicas e do coração muitas vezes apertado coloca a princesa definitivamente perto, afinal as fissuras no mamilo são pessoais e intransferíveis. 

O imaginário coletivo mantém pessoas como os membros da família real britânica tão distantes, e de fato vivem uma realidade quase que paralela, mas sempre há as interseções onde se vê o quanto têm de humanidade, são pessoas que sofrem, choram e enfrentam problemas como qualquer um. A princesa agora está logo ali, partilhando as agruras e os deleites de ser mãe. E que bom que pode ser assim. A vida é isso!


domingo, 14 de julho de 2013

O SHOW DAS PODEROSAS



“Prepara que é hora do show das poderosas!”. Como diz a letra da música, a mulherada hoje quer e tem poder.  Adotam uma postura  de decisão, querem traçar seus próprios destinos. Eis o motivo de tanto sucesso deste quase grito de guerra em que a mulher está no comando, nada mais atual. Por outro lado os Tons de Cinza viram best sellers, a autoridade masculina levada ao último grau  alvoroça a psique feminina. Dialético sim, mas é essa a mulher moderna, a multimulher.

O fenômeno é quase palpável; a mulher traçou um caminho que revela uma ânsia por ter um pouco de cada coisa, viver com o melhor de tudo. E é absolutamente lícito. Muita coisa que antigamente era natural nas relações tornou-se inadmissível nos dias de hoje, a mulher passou a ter voz ativa em vários aspectos que antes não tinha, segue reivindicando seu direito de decidir, e isso se reflete do escritório ao canteiro de obras, da sala de estar à cama do casal. As estatísticas mostram o quanto estão à frente das empresas e o quanto detém da renda familiar. Há total possibilidade de se realizarem profissionalmente, estarem em postos anteriormente apenas ocupados por homens, decidem quando e com quem vão estar, adiam ou não a maternidade, ou optam por viver sem ela.

O mundo se abriu completamente e as escolhas são infinitas, mas isso tudo não trouxe a satisfação esperada. Que toda mulher quer ser amada já ouvimos de Rita Lee, que também sentenciou - mulher é bicho esquisito. Querem e têm poder mas querem exercê-lo na dita hora certa, sentem uma falta quase pré-histórica da proteção masculina. E não se engane, pois por  falar em pré-histórico, tem hora que querem mesmo é ser arrastadas pras cavernas, ter um homem para tomar as rédeas, sem falar em alguém para abrir a porta do carro, ceder seu casaco numa noite fria, e porque não, pagar a conta. Um amante à moda moda antiga tem sua hora e seu lugar.

E fez-se a confusão. Para eles é claro. Quando ser o quê? Impossível não se remeter a um questionamento freudiano que eternamente povoa o imaginário masculino; afinal, o que querem as mulheres? E se for viável elaborar uma resposta ela está justamente nesta ambivalência. Conquistou-se um espaço social e profissional desenhado pela luta por igualdade de direitos com os homens, consegue-se com naturalidade uma divisão de tarefas no lar impensável há cinquenta anos, viu-se os homens reagirem de maneira positiva, ocupando seu lugar na rotina das famílias e em especial dos filhos, tem-se uma liberdade de escolhas de como e com quem viver. Contudo, a mulher não deixou de apreciar cavalheirismo e gentileza, ainda quer um homem que ame com proteção, resquícios do provedor de outros tempos, machista talvez, mas acima de tudo macho. A mulherada quer que o homem de hoje seja gentil e companheiro, mas tenha “pegada”, tem que ter inteligência para transitar na alternância de poder e saber a hora certa de dominar.

A boa notícia é que o equilíbrio é possível, mulheres e homens expressando sinceramente suas vontades e conseguindo harmonizar tantos anseios, e neste ponto a palavra de ordem é antiga; cada um cede um pouco, tudo em função de algo maior que é estar junto. O verdadeiro poder reside nesta capacidade de transmutar e transcender. 

segunda-feira, 1 de julho de 2013

E SE ELA CHAMAR A BABÁ DE MÃE?




Durante muito tempo esse era o fantasma que mais me assombrava. Ouvir minha pequena cria chamando aquela pessoa de mãe seria como um atestado de minha incompetência em me fazer presente em sua vida. Seria como pagar um preço alto demais pela necessidade de voltar ao mercado de trabalho depois da maternidade e por delegar parte de seu cuidado a terceiros. Seria a prova de que queimar o soutien em praça pública foi a maior bobagem e a conquista da independência feminina não valesse a pena. Esse fantasma não foi de todo ruim. À sua sombra magnifiquei ainda mais a vontade de me desdobrar, de participar da rotina em casa, enfim de tornar o menor tempo disponível mais prazeroso e intenso.

Quantas de nós não viveram um verdadeiro drama ao reestruturar sua casa e sua família para abraçar um novo membro. Depois de tudo planejado, encontrar alguém que vá cuidar do bebê (seja babá, seja parente, seja creche), na hora de colocar o pé para fora de casa depara-se com uma angústia imensa. E vamos seguindo em frente porque não somos as primeiras nem seremos as últimas, a vida continua e temos que tocar em frente, o trabalho não lhe espera, e os filhos crescem. 

A pessoa que cuida do seu filho cuida do seu bem mais precioso, e como tal precisa ser valorizado por isso. Partindo deste ponto você entende que é preciso fomentar uma boa relação entre ela e seu filho, e com todo o resto da família. Eu, que sou dada a dilemas, já me peguei contrariando o raciocínio lógico e tentando manter minhas filhas firmemente atadas a mim.  Tenho certeza que a mulherada entende, pois se cabeça de mulher muitas vezes já foge da lógica, imagina a de mãe. Apesar deste embate diário, a necessidade é imperativa. No meu caso, com muita sorte, entrou nas nossas vidas alguém muito especial que foi construindo laços fortes de confiança e dedicação.

Num mundo ideal essa odisséia seria uma jornada tranquila, mas sabemos que muitos tropeçam pelo caminho. De qualquer modo, saber que o filho gosta de quem cuida dele e mais ainda, que há uma recíproca, é alentador. Ameniza sobremaneira a turbulência da saída de casa e torna a nova configuração familiar muito mais harmônica.

O medo é mesmo aprisionador, mas sinto que me libertei. Minhas filhas nunca chamaram a babá de mãe, apenas porque reservaram a designação para mim. Hoje compreendo que mãe pode sim ter outros nomes. E o que isso me diz é que desempenhamos bem nosso papel de pais quando escolhemos aquela pessoa para multiplicar esse amor. Enfim aprendi  que ouvir minha pequena cria chamando aquela pessoa de mãe seria como um atestado de que ela está bem cuidada.