domingo, 26 de setembro de 2010

A ARTE E A INFÂNCIA



Final de semana passado vivenciamos uma fantástica experiência para entreter nossas duas pequenas – assistimos a famosa obra de Rossini “O Barbeiro de Sevilha” no palco principal do Teatro Castro Alves. A forma como a ópera lhes foi apresentada é das mais interessantes, mais breve do que o espetáculo para adultos e entremeada pela história contada pelo ator que interpretava Fígaro. É a primeira montagem da Companhia Brasileira de Ópera, que tem ainda um trunfo imbatível para prender a atenção dos pequenos – personagens humanos contracenam com desenhos animados. Uma iniciativa pra lá de bem vinda, ideal instrumento para aprendizado e diversão.

Parece-me claro que a arte desempenha importante papel no desenvolvimento das crianças. Através dela é possível trabalhar a sensibilidade, melhorar a capacidade de raciocínio e de expressão, bem como incentivar a socialização. Todas as formas de arte podem contribuir nesta área, não apenas fomentando o gosto desde a infância, o que é importante para formarmos as futuras platéias, mas também estimulando a descoberta de novos talentos.

A arte atua como facilitador, produzindo uma maneira de expressão que vai além do visível. Este aspecto cognitivo precisa ser valorizado, criando uma nova maneira de inserir a arte na educação, com mais fundamentação e planejamento, vislumbrando sua importância desde a educação infantil. Mais espaço para o conhecimento de forma lúdica vai além da educação formal; no cotidiano a infância já inspira mesmo criatividade, e daí a inserir as manifestações artísticas é quase que natural. Tudo o que se canta, a infinidade de lápis, tintas e pincéis, as histórias que se lê, as danças e o quanto que se inventa personagens, a sementinha está sempre lá.

Diversas habilidades podem ser potencializadas seja por música, pintura, literatura, dança ou teatro.  A música, por exemplo, é capaz de transformar; ainda no útero materno já parece exercer influencia sobre o bebê. Ouvir melhora o vocabulário e faz a imaginação viajar, tocar capacita as habilidades motoras. Vale ressaltar que devemos prezar pela qualidade, fugindo dos modismos quando o assunto é educação. Refinar o gosto dos filhos faz parte do nosso papel de pais, o que significa ensinar a reconhecer e apreciar o belo, seja no erudito ou no popular.

sábado, 18 de setembro de 2010

O REAL E O IMAGINÁRIO




Há tempos venho tentando fazer coleta seletiva do lixo doméstico. Passada a fase de acostumar os próprios moradores da casa a jogar o lixo no lugar certo, o que fazer com ele fora de casa tornou-se um problema. O impressionante é que esbarramos na total impossibilidade de levar isso a cabo. Sei de alguns condomínios que dispõem do serviço, mas de fato não é uma prática amplamente disseminada. Aos demais resta a impotência diante do que seria um pequeno investimento que resultaria em grandes benefícios.

O lixo é um problema de saúde pública, é alvo de debates intermináveis, principalmente no que tange à responsabilidade social, o modo como lidamos com ele. O IBGE já divulgou pesquisa que revela que o Brasil produz cerca de 228mil toneladas de lixo ao dia, sendo cerca de metade de lixo domiciliar, com apenas 2% disso sendo encaminhado para a coleta seletiva. É um número quase assustador, principalmente se atentarmos para onde vai o excedente – boa parte em lixões a céu aberto que trazem danos os quais nem é preciso citar. Se levarmos em conta o tempo de decomposição de alguns materiais, a coisa fica mais assustadora ainda.

No até agora imaginário cenário proposto pelos ambientalistas para melhor lidar com o lixo, colocaríamos em prática a “regra dos três erres” – redução do consumo, reutilização de materiais e reciclagem. A disseminação da coleta seletiva para implementação da reciclagem seria um passo importante para a mudança desta realidade, embora nem todo tipo de material possa ser reciclado.

DESTINO
PAPEL
PLÁSTICO
VIDROS
METAIS
COLETA SELETIVA
papéis de escritório, papelão, caixas em geral, jornais, revistas, livros, listas telefônicas, cadernos, papel cartão, cartolinas, embalagens longa vida, listas telefônicas, livros
sacos, CDs, disquetes, embalagens de produtos de limpeza, PET (como garrafas de refrigerante), canos e tubos, plásticos em geral (retire antes o excesso de sujeira)
garrafas de bebida, frascos em geral, potes de produtos alimentícios, copos (retire antes o excesso de sujeira)
latas de alumínio (refrigerante, cerveja, suco), latas de produtos alimentícios (óleo, leite em pó, conservas), tampas de garrafa, embalagens metálicas de congelados, folhas-de-flandres
LIXO COMUM
papel carbono, celofane, papel vegetal, termofax, papéis encerados ou palstificados, papel higiênico, lenços de papel, guardanapos, fotografias, fitas ou etiquetas adesivas
plásticos termofixos (usados na indústria eletroeletrônica e na produção de alguns computadores, telefones e eletrodomésticos), embalagens plásticas metalizadas (como as de salgadinhos)
espelhos, cristais, vidros de janelas, vidros de automóveis, lâmpadas, ampolas de medicamentos, cerâmicas, porcelanas, tubos de TV e de computadores
clipes, grampos, esponjas de aço, tachinhas, pregos e canos
Fonte: Instituto Akatu


O destino do lixo é benéfico inclusive do ponto de vista econômico; a quantidade de energia e água gastas na reciclagem de papel é 50% menos do que se gasta na fabricação de papel novo. Os resíduos orgânicos destinados para a compostagem também diminuem a utilização de adubos industrializados, reduzindo os custos de produção.  O considerado lixo tóxico, como pilhas e baterias de celulares, também precisam ter seu destino pensado em virtude de seus potenciais danos. É preciso haver um movimento da indústria sentido da melhor disposição destes metais pesados, embora ainda se considere que esse processo não gere lucro, até porque, uma resolução do conselho Nacional do Meio ambiente responsabiliza os fabricantes e comerciantes pelo destino final dos produtos.

A atuação dos poderes públicos nesta área ainda é muito tímida na maioria das cidades brasileiras. Alguns municípios de forma isolada realizam experiências que tem sido positivas, como o uso de taxas de lixo, a adoção de sistemas específicos de coleta e campanhas de conscientização. Os sistemas de coleta são de especial importância, já que dão destino àquele lixo que sai separado das nossas casas. A simples disponibilização de uma maior quantidade de pontos de coleta já solucionaria parte do problema. Em tudo isso, muito ainda no campo das idéias, reside a diferença entre o real e o imaginário no que diz respeito ao desenvolvimento sustentável.

domingo, 12 de setembro de 2010

A mão do Estado



Pessoalmente acho importante educar as crianças na base da conversa.  Não quero passar a noção de que vence o mais forte. Obviamente a relação pai-filho já pressupõe uma desproporção, mas não concordo em usá-la de forma agressiva. Outras habilidades, que não o poder de bater deverão ser cultivadas. Por outro lado sei que o cotidiano de educar uma criança requer amor e boa dose de paciência, de forma que não recrimino os que recorrem a uma palmada nesse processo (nem preciso dizer que aqui se excluem os excessos). A questão é que inúmeros são os casos que extrapolam de apenas uma palmada corretiva para violência brutal contra crianças que vemos todos os dias nos jornais. Neste campo é necessária sim a interferência do estado, porém até que ponto o foro íntimo de cada família pode ser invadido?

O assunto veio a baila por conta do projeto de lei da Deputada Federal Maria do Rosário do PT gaúcho proibindo os castigos físicos. Os especialistas dizem que o projeto não criminaliza palmada, mas apenas tenta servir de paradigma para a sociedade perceber o que é “certo” na educação das crianças. 


Considero salutar fomentar uma cultura de paz, porém me pergunto se é possível fazer um julgamento de valor, se é possível determinar ao pai como educar. E será esse o papel do Estado?  A jornalista Eliane Brum escreveu em um de seus artigos que “ao exercer sua autoridade de forma abusiva, o Estado infantiliza seus cidadãos”.

A interferência já existe em vários aspectos...pense no voto obrigatório, nas regulamentações para casar e descasar, e muitas outras coisas. Não me escapa um certo temor de que hoje a interferência é na orientação sobre educação, e depois ninguém sabe o que pode vir. Me lembra admirável mundo novo, de Aldous Huxley. Cabe discutir esses limites e se manter atento.

sábado, 4 de setembro de 2010

DIÁRIO DA MULTIMULHER - PARTE 2 (3, 4, 5...)







Meu marido costuma repetir uma frase que ouviu não sei onde – mulher não é para entender, é para decorar (e eu complemento com minha contribuição de estímulo à monogamia; decore a sua, ponto!). Será que as mulheres de fato são tão difíceis de entender? O imaginário coletivo reverbera esta crença, o tempo todo ouvimos dizer o quanto homens e mulheres são diferentes (confesso que repito isso com um certo ar de superioridade; mulher é multi, e dá realmente conta de várias coisas ao mesmo tempo), que toda mulher é meio maluca, e por aí vai.


Nos moldes de investigadores que me antecederam, fui a campo em busca de respostas. Defini por não revelar aos “meus entrevistados” a existência da minha enquete, mantendo apenas conversas informais (por isso não serão reveladas as identidades dos queridinhos).  Comecei por um veterinário com quem tenho muita intimidade e que soltou mais uma pérola; “mulher é bicho brabo, sangra todo mês e não morre, ah! ah!, brincadeirinha, mas é tudo esquisita!” Conversando com um Administrador, descobri que é mais prudente dizer que elas têm razão do que seguir em frente num bate-boca (elas não desistem nunca e ainda guardam pequenos erros para futuras referências). Num certo plantão os colegas deixaram escapar que não dá para entender as mulheres – o solteiro pensava que as mulheres faziam tipo até casar, mas depois se revelavam espécies de tiranas, e o casado teve que ser mais comedido dizendo que o problema era a TPM (termo consagrado, muitas vezes utilizado erroneamente, principalmente quando eles não querem dar crédito às nossas queixas). Um amigo, muito chegado, reclamava que a mulher exigia que ele não só realizasse as tarefas domésticas, como também quisesse fazê-las – “querer fazer já é demais”!  


Minha percepção é de que a opinião é meio que unânime (não vai dar para usar aquela história de que toda unanimidade é burra). A verdade é que saímos do sério porque ele só faz as coisas quando solicitado, vivemos à beira de um ataque de nervos, dizemos um não que quer dizer sim, exigimos que ele leia as entrelinhas, tudo que mais queremos é que a vida dele tenha começado depois de nos conhecer, mas não resistimos à curiosidade pelos relacionamentos antigos. E as músicas? Complicada e perfeitinha; mulher é bicho esquisito; toda mulher se faz de doida; dizem que a mulher é sexo frágil, mas que mentira absurda. Há de existir um nexo causal.


Como o assunto tem tudo haver com Psicanálise, consultei o que dizem os especialistas. Lacan dizia que as mulheres não existem, no sentido de que não há uma definição padrão do que é ser mulher.  O psicanalista e psiquiatra paulista Jorge Forbes escreveu que as mulheres são basicamente insatisfeitas. Heloneida Neri, em sua dissertação de mestrado, constata que na maioria dos atos transgressivos das mulheres, a paixão e o amor aparecem como causas. O italiano Contardo Caligaris da sua receita para lhe dar com as mulheres: amar o outro não apesar de sua diferença, mas por ele ser diferente. Fui obrigada a tomar tudo isso como verdade depois que li a seguinte frase de Freud: “a grande pergunta que nunca foi contestada e à qual nunca pude responder, apesar de meus 30 anos de investigação da alma feminina, é: o que quer uma mulher?” Se nem Freud explica...