sábado, 29 de janeiro de 2011

O CAOS AÉREO EXISTE

“Já pintou verão, calor no coração, a festa vai começar...” e com ela o famoso caos aéreo. Talvez duvidasse que ele de fato existisse, quem sabe falácia de jornal, até ficar horas num saguão de aeroporto, sem ao menos terem a gentileza de dar satisfações ou exporem os motivos, aguardando um vôo atrasado, em companhia apenas de um laptopzinho através do qual se lança um grito no espaço agora. O pior é que os monitores exibem a mesma mensagem para diversos vôos – previsto para... Questionado, o funcionário da empresa aérea culpa o vilão da história, o Aeroporto de Congonhas, por onde passam a maioria das rotas e onde se concentram (e não se distribui) as informações que ele não sabe dar. Mas que entidade é essa, o Aeroporto de Congonhas? Do jeito que ele levou a culpa parece até gente, com vontade própria. Não seria ele fruto da total falta de infra-estrutura do transporte aéreo no Brasil?

Tudo começou a ser percebido pelo público geral em 2006, com o chamado apagão aéreo na greve branca dos controladores de vôo (são militares e a eles é vedado fazer greve de fato, portanto apenas seguiram as regras de segurança e diminuíram o número de aeronaves controladas por cada um). Em seguida veio o terrível acidente do Boing da Gol com o Legacy  americano, expondo de vez a crise vivida pelo sistema aeroportuário do país, assolado  pelo  crescimento do movimento de passageiros em ritmo acelerado em  contrapartida de uma redução dos investimentos oficiais no setor. Alguma coisa se vê nas reformas de aeroportos de cidades importantes, mas o controle de vôo, formação de equipes e equipamentos são deixados de lado (é a face que a população não vê).  Os controladores reclamam das condições de trabalho, da falta de pessoal, dos radares com zonas cegas e das comunicações falhas, elos de uma corrente pelo visto muito frágil. A administração desta rede é de responsabilidade da Aeronáutica, junto com a Infraero e a ANAC.  E a pergunta que não quer e não pode calar: faltam recursos para se investir no setor?   Tomando-se como base as taxas de embarque cobradas já se faz uma idéia de que o que não falta é dinheiro, o que leva a crer que mais uma vez trata-se de um problema de gestão.

Apesar de ser uma constatação mais do que habitual, é preciso expor que novamente quem paga a conta é o cidadão comum. Não só paga a conta literalmente, assim como paga tendo sua vida totalmente conturbada pelos atrasos que se acumulam em cascata; já pensou perder uma conexão ou uma viagem internacional planejada por meses?  Todo mundo tem uma história destas para contar. A outra ponta também é a falta de respeito das empresas aéreas para com os consumidores – além da falta de satisfação dada, praticam o famigerado overbooking e impera os interesses financeiros e não nas pessoas (se não vale a pena pousar pelo diminuto número de passageiros, cancela-se descaradamente o vôo, com passageiros já no aeroporto).                                                                                                                                                                                                                     
Enquanto isso os passageiros seguem protestando, em sua grande maioria de forma agressiva (cansaço, sono, fome, choro de crianças e outras potenciais razões), com aquele mesmo funcionário, que continua sem saber o que responder. É um bom momento para pesquisar sobre os direitos dos passageiros numa situação como esta. O PROCON sinaliza os direitos agora baseados na última resolução da ANAC, em que há uma tolerância de quatro horas para que comecem a valer tais direitos (de certa forma legitimam a forma abusiva com que as empresas trabalham). Controvérsias a respeito deste tempo à parte, o Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC) trás sua cartilha de orientações, disponível no site (http://www.idec.org.br), destacando-se o que se segue:
Atrasos e cancelamentos de vôo – Direitos do consumidor
Se o vôo atrasar ou for cancelado, o consumidor tem direito a:
● ter informações e orientações das companhias aéreas sobre
horários, procedimentos e direitos;
● receber assistência imediata (alimentação e, se for o caso, hospedagem e transporte terrestre) das companhias aéreas;
● desistir da viagem e ter o reembolso integral dos valores pagos à companhia aérea;
Em caso de cancelamento, o Idec entende que o consumidor tem o direito de fazer a viagem por outros meios ou outras aeronaves por conta da companhia aérea.
Se já estiver acomodado na aeronave e ocorrer o atraso, o consumidor pode, por motivo justificado (como perda de compromisso ou situações de urgência), pedir para sair da aeronave.
Como proceder
● Dirija-se ao balcão da companhia aérea e exija informações sobre o que está acontecendo e quais as providências serão adotadas (tempo de atraso etc.)
● Formalize reclamação nos postos de atendimento da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), localizados nos aeroportos;
● Se não desejar mais viajar, dirija-se à empresa e formalize o pedido de desistência e reembolso da passagem e despesas efetuadas;
● Para receber a assistência a que têm direito (alimentação, hospedagem...), procure a empresa e faça a solicitação formal;
● Guarde todos os recibos e notas de alimentação, hospedagem, transporte etc. Estes comprovarão gastos e também o tempo de atraso;
● Para solicitação de ressarcimento, o consumidor deve inicialmente procurar a companhia aérea (de preferência enviando carta com Aviso de Recebimento). Caso o problema não seja resolvido, entrar em contato com órgãos de defesa do consumidor e, se mesmo assim não houver acordo, procurar a Justiça. É importante guardar todos os documentos relacionados ao compromisso ou atividade que seriam cumpridos no destino para averiguação e cobrança de eventuais prejuízos

Enfim, milhares de pessoas paradas nos aeroportos todos os dias, dormindo no chão e perdendo compromissos tornou-se, infelizmente, lugar comum.  Pelo menos alguns aproveitaram o tempo para escrever!

sábado, 22 de janeiro de 2011

SERENATA DO ADEUS


O poema Serenata do adeus fala da dor de amor, mas foi lembrado na vivência da morte de uma pessoa querida neste final de semana, dando início a uma jornada reflexiva importante. “Amar é se ir morrendo pela vida afora, é refletir na lágrima um momento breve de uma estrela pura cuja luz morreu”. A morte, apesar de inexorável à existência humana, continua sendo uma experiência dolorosa. A reflexão se deu em torno da total incapacidade de se estar preparado, sendo sempre um processo doloroso, talvez por colocar de frente o medo da própria morte ou por sempre trazer uma sensação de perda.


A crença religiosa e a espiritualidade em suas diversas formas fazem a aceitação ser possível. Por se entender que a vida não acaba aqui vislumbra-se que a morte é apenas uma passagem, embora sempre fique a saudade.  Chorar e extravasar toda a emoção do momento é natural pois é uma forma de viver o luto.    Ainda assim, não se pode considerar estar preparado para morte do outro (nem para a nossa, mas aí já é assunto para outro post).

Quando se fala sobre estar preparado para a morte pensa-se logo em, uma vez tendo-a como certa, não sofrer com ela. Veja que é impossível. Como dissociá-la daquela citada sensação de perda? Por outro lado, se o pensamento for viver de forma reta, fazer da convivência com as pessoas um ato de amor e não ter arrependimentos, estar preparado torna-se possível. É saber que aquele que partiu teve tudo de você, que nada ficou sem ser dito e que as coisas que nortearam aquela vida serão levadas adiante. 


Por fim revela-se uma certeza alentadora, que providencialmente embaça a provável nostalgia que o texto provocou, de que estar preparado é no fundo uma maneira de celebrar a vida.                                                           

sábado, 15 de janeiro de 2011

DESARME-SE



Na última segunda-feira fomos bombardeados por notícias sobre criminalidade em Salvador; diziam ser 33 homicídios num único final de semana. Não que se trate de uma novidade, porém quando esta realidade é esfregada nos seus olhos gera uma espécie de choque elétrico. Fiquei muito preocupada e verdadeiramente apreensiva, aliás como qualquer cidadão que se vê refém da violência, principal causa de morte nos dias de hoje.  Nestas horas pensamos logo em nossas crianças, em que futuro terão e no que é possível fazer para mudar esse cenário. Lembrei-me da campanha de desarmamento, uma iniciativa do poder público abraçada por parte da sociedade.

As estatísticas do Governo apontam que a campanha do desarmamento reduziu em 11% a mortalidade por armas de fogo entre 2003 e 2009. Seria natural imaginar que esta mortalidade  estivesse apenas relacionada a violência interpessoal, crimes passionais ou acidentes, mas trata-se de uma reação em cadeia, uma vez que  o armamento do cidadão comum com freqüência vai parar nas mãos dos criminosos. Seguindo este raciocínio, a redução da circulação de armas também serve para reduzir o arsenal bélico dos criminosos. Um aspecto que se explicita em relação ao desarmamento é que há  algo estranho  em se dizer que é preciso desarmar a população. Faz lembrar a constituição de regimes totalitários que já vimos na história da humanidade, mas é essencial focar na necessidade de reduzir a circulação de armas.

Falando em arsenal bélico, uma informação chama a atenção; o Brasil é o segundo maior produtor de armas leves do Ocidente, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Este mercado movimenta milhões de dólares, de acordo com informações do Instituto de Altos Estudos Internacionais de Genebra. O mesmo levantamento aponta que existem cerca de 17 milhões de armas leves em circulação no país, quase uma para cada dez habitantes. Deste total, 57% são ilegais ou sem porte, a maior parte delas com grupos criminosos (mais que o dobro do número  de armas da policia). Para a população é importante ressaltar que possuir uma arma traz uma falsa sensação de segurança, como cita  o  coordenador do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais; e acrescenta “ a pessoa que porta uma arma se torna ainda mais vulnerável à violência”. Quanto aos criminosos, que como já foi dito, conseguem as armas principalmente roubando tanto de civis quanto das polícias, além de supostas exportações para posterior reintrodução ilegal, é preciso maior fiscalização e registro das armas no país, com controle também na compra (na tentativa de evitar que pessoas despreparadas as obtenham).

Em 2004 foi sancionado o Estatuto do Desarmamento, foi considerada uma iniciativa eficaz, e depois da última campanha em 2009, caiu no esquecimento. É verdade que em 2005 houve o referendo popular em que, apesar da alta taxa de abstenção, o povo votou contra – a maioria temerosa pela possibilidade de que o Governo não nos proporcione segurança pública e ainda nos tire a possibilidade de defesa – vejo o resultado como falta de uma discussão mais  profunda do assunto. Agora há uma retomada na questão; a campanha está sendo planejada pelo Ministério da Justiça em parceria com a Rede Desarma Brasil e será permanente a partir de 2011. As pessoas podem entregar as armas que tem em casa na Polícia Federal e receber uma indenização que varia de acordo com o modelo e data de fabricação das  mesmas.

Independente de iniciativas governamentais a sociedade precisa se desarmar, não só literalmente. É imprescindível fomentar uma cultura de paz, encontrar longe da violência  formas de resolução dos conflitos (um exemplo de como a mentalidade  influencia é o fato de  que países onde circula um maior número de armas do que o nosso tem níveis menores de violência). E se engajar na questão prática - Denis Mizne, diretor do Instituto Sou da Paz, constatou em entrevista: “se a maioria das armas está com civis, então é problema da sociedade e é ela que precisa entender sua gravidade”. 


sábado, 8 de janeiro de 2011

FELIZ ANO NOVO (PARTE 2)





Ainda na “vibe” do post anterior, vamos aproveitar para focar as metas para o ano novo. Com certeza cada um tem as suas particulares, mas agora façamos uma convocação para metas coletivas, algumas universais.

Para começar, sendo ou não eleitor da atual Presidente do Brasil, torçamos para que dê certo, e mais que isso, trabalhemos para tal. É oportuno destacar que estamos vivendo inusitada situação em nosso país, com a primeira mulher presidente, que já vem tentando aumentar o número de mulheres em todos os escalões.   

Outra meta coletiva é a questão ambiental. Todo o mundo vem experimentando mudanças climáticas; intensas ondas de calor, tempestades e secas, as quais sinalizam que a natureza vem sendo afetada pela forma como lidamos com ela. Mesmo que muitas das notícias veiculadas a este respeito pareçam fantasiosas demais e que os dados científicos às vezes soem inconsistentes, é fato que a relação não anda bem.   Portanto, como sugerido em post de setembro de 2010, comecemos com as pequenas rotinas de nossa casa, como coleta seletiva, diminuir o uso de sacolas plásticas, diminuir a emissão de gases poluentes, preferir madeira de reflorestamento, dentre outras atitudes. 


Definitivamente, inclusive por conta das citadas mudanças, incorporar o uso do  filtro solar na rotina diária - mulheres, homens, meninos, meninas, bebês, negros e brancos. Vai ter que ficar tão no automático quanto escovar os dentes antes de sair de casa. Aproveitemos as informações que detemos nos dias de hoje e passemos adiante. Já botei minhas pequenas nesta direção, sempre perguntando "o que uma mulher não pode deixar de fazer antes de sair de casa?" e a resposta já dada pela mais velha "passar protetor solar".

Tem uma organização doméstica que também é comum a muita gente; os brinquedos das crianças. A cada aniversário, e ainda mais agora em cima do Natal, os brinquedos se multiplicam como Gremlins. Sempre me organizei para doá-los, mas não levava até o fim porque a pequena não conseguia se desprender de nada. Este ano estou conseguindo; descobri que em certa medida quem não conseguia se desprender dos mimos era a mãe - mais uma meta – todo mundo repassando os brinquedos; bom para plantar consciência social e otimizar o espaço.  


Last, but not least, vamos investir em nosso lado B. Cada um tem um outro dentro de si – um médico cantor, um arquiteto marceneiro, um engenheiro artista plástico, um vendedor pianista, enfim, alguma atividade diversa da nossa atividade profissional que nos dá muito prazer. Então que tal aproveitar para fazer aquele curso de pintura ou finalmente entrar na aula de dança? Com certeza servirá para recarregar as energias necessárias ao dia-dia, e quem sabe até se inverte lado A e lado B.

Fiquemos por aqui, com uma lista de metas enxuta para que seja possível, e Feliz Ano Novo de novo! 

sábado, 1 de janeiro de 2011

FELIZ ANO NOVO!


Vivemos o tempo em ciclos, desde o ciclo circadiano que nos orienta do ponto de vista fisiológico, até a divisão em dias, meses e ano. O final de um ano representa o fechamento de um ciclo, mesmo que na prática seja um dia após o outro e que não experimentemos mudanças concretas, no imaginário coletivo é tempo de rever o se passou no ano anterior e definir metas para o futuro. É geral a sensação de esperança e o novo fôlego que invade a nossa vida, fazendo da virada do ano o signo da renovação.

E nossa vida recomeça em janeiro? Aqui prevalece a força da convenção cultural, tudo aquilo que aprendemos desde crianças. Ainda que vivêssemos em outra cultura teríamos uma representação de um ponto de partida, a exemplo do Ano Novo chinês e o Shivaratri para os indianos. A virada do ano segue sendo um momento reflexivo e de expectativas por novos projetos, mudanças no campo pessoal e profissional, além da confraternização mundial, fazendo de 1° de Janeiro um momento de novo ânimo. Confraternizamos-nos com família e amigos, desejamos dias melhores, saúde, amor e paz uns aos outros e brindamos a meia noite de 31 de Dezembro como quem realmente está num recomeço. Mesmo que muito desta atmosfera não passe de imaginação, considero positivo ter essa recarga de energias, rever o que foi feito de certo ou errado e fazer planos para o ano que se inicia.

Planos para o futuro mobilizam uma energia fantástica em cada um, de tal intensidade que é capaz de impulsionar grandes mudanças. O problema é quando caímos na cilada de metas vazias e planos inatingíveis, desperdiçando todo o potencial acumulado na virada do ano. Maravilha é quando se consegue canalizar todo este momento de comemoração e converter o ânimo renovado em ações. Manter-nos estimulados ao longo do ano, cobrar de nós mesmos o alcance das metas traçadas e fazer com que passem de promessas. Parece não passar de palavras, mas acredito firmemente que o ano poderá ser muito do que desejamos se os planos forem acompanhados por atitude. Sermos determinados e, é claro, trabalharmos para realizar, pois os frutos não serão colhidos sem esforço.

Então, FELIZ ANO NOVO! Sonhe sim, tenha esperança e faça planos. Parta do campo das idéias para o das ações e concretize. Comemore sim, o momento é para isto mesmo. Use esta energia para fazer com que a vida (ou muitos aspectos dela) possa realmente recomeçar em janeiro e operar nossa própria transformação.