domingo, 10 de setembro de 2017

A PERGUNTA QUE PRECISA PERSISTIR




No fundo tenho uma angústia. Para falar a verdade nem sempre é tão lá no fundo. É a pergunta que persiste. Estou fazendo certo? E quer saber? Cheguei à conclusão que é uma pergunta importante demais e deve persistir sim! Quando o assunto é criar filhos, se questionar sempre é bem-vindo. Afinal eles são fruto de muitas coisas interagindo entre si, mas certamente há um grande peso da forma como foram educados. Principalmente na primeira infância, nos primeiros ensinamentos, nas primeiras frustrações. Fico muito tocada com essa coisa da frustração na vida de minhas filhas. Confesso que tento não as deixar se frustrar, o que é uma luta por vezes inglória já quando os filhos são pequenos e depois que vão crescendo é com derrota certa. Tenho plena consciência. É nessa hora que o outro lado da moeda se mostra – se não pode com o inimigo, una-se a ele; ou melhor, se as frustrações de seu filho são inevitáveis (aquelas que você não pôde driblar, escamotear, disfarçar, esmagar, destruir, adiar, protelar...enfim...você que tem filho sabe do que estou falando), comece a ensiná-lo a lidar com elas. É um dilema! É necessário! É intransferível! É a vida!

Foi com esse dilema que me peguei agora a pouco. Minha pequena esqueceu a bolsinha num banheiro de shopping. Dentro estava seus tesourinhos do dia – seu aparelho celular recém conquistado, seu estimado gloss Victoria Secret e um dinheirinho para o lanche. Demoramos para dar por falta da bolsa. Retornamos ao tal banheiro. Sua carinha arrasada me devastou. “Não vamos desistir, amada”! “Mãe, era um banheiro infantil, as crianças devem estar tentando devolver”! Pensei comigo que as crianças talvez sim, mas há grandes chances de os adultos que as acompanham não. Guardei o pensamento; é a hora de ensinar a lidar com a frustração, mas sem destruir a crença nas pessoas, meio na dúvida se já não era hora de dar uma amenizada na crença nas pessoas, mas vamos lá!

Nos dirigimos ao “achados e perdidos”, registramos a queixa, deixamos nossos contatos, demos umas voltinhas para ver se víamos a bolsinha passeando em alguém, em meio aos reforços positivos que a situação pedia – não precisa chorar, é possível que a gente ache, se não mamãe repõe, são apenas bens materiais, tudo serve de aprendizado, da próxima vez não despendura a bolsa do corpo (essa não podia faltar!). O que queria na verdade era que as pessoas me surpreendessem (já que para minha filha crente nas pessoas não seria uma surpresa) e encontrássemos tudinho intacto.

Está aí uma coisa especial em criar filhos. Talvez lá em cima, no primeiro parágrafo, eu tenha feito soar como uma coisa unilateral. Longe de mim. É mão-dupla total. E desconfio que muito mais aprendo do que ensino. E naquele meu esforço de tentar ser realista sem ser negativa eis que ela me contagiou com sua tranquilidade e certeza de que alguém traria a tal bolsa. Porque não se trata meramente da bolsa – se trata de ter fé nas pessoas, acreditar na bondade e no respeito ao próximo. Não é isso que venho tentando ensinar? Ela aprendeu. Me ensinou de volta. Foi bem nessa hora que realizei – eu própria estava frustrada; por ela estar frustrada, por eu não ter vigiado a bolsa, por ter isso ao shopping, e sei lá mais pelo quê. Mais uma vez a vida nos golpeia dizendo que ela é um eterno aprendizado.

Sabe a frustração? Nós acabamos lidando bem com ela. Mas também o mundo sorriu muito para nós naquela noite. Depois de muita oração (outro aprendizado valioso que venho tentando passar) um telefonema nos trouxe a bolsinha de volta, intacta. Meu pensamento: “ainda tem gente de bem nesse mundo”! O dela: “claro que o mundo tem muita gente de bem”!

E foi assim que um episódio talvez cotidiano nos trouxe grandes lições. Muito provavelmente havia uma mãe ou um pai lá do outro lado, naquele banheiro infantil, experimentando aquela mesma angústia minha de fazer o certo com seus filhos. Que bom que não estamos sós!