domingo, 8 de março de 2015

CRÔNICAS DE MARÇO: O OSCAR, O ABORTO E O DIA INTERNACIONAL DA MULHER




O  Prêmio Oscar foi em no mês de Fevereiro, mas bem podia ter sido em Março, mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher. Abro parênteses aqui para falar da importância desse dia, que muitos não vêem; não é nascido da vontade de render homenagens e sim da necessidade de parar para pensar no quanto ainda há de preconceito contra elas, do quanto ainda tem condições de trabalho inferiores aos dos homens, de apesar de serem em maior número nas faculdades, serem número muito menor nas empresas, de que continuam sendo subjugadas pela força sofrendo maus tratos, agressões (físicas e psicológicas) e estupros.

Voltando ao Oscar, ele acabou coroando o mês de Março nesse pensamento voltado à mulher no momento em que se destacou a participação da atriz hollywoodiana Patrícia Arquete. Vencedora do prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante pelo filme Boyhood – da infância a adolescência, a atriz voltou seu discurso de agradecimento a essa luta, a pela igualdade de gêneros. Sim, a indústria do cinema também é dada a sectarismos; profissionais de várias áreas ainda hoje, ano de 2015, são vistas de forma diferentes por serem mulheres, independente de sua qualidade técnico. E isso se estende por vários campos em nosso cotidiano, contaminando a visão do meu colega de trabalho, do meu fornecedor, do meu cliente e do meu chefe (isto também, pois tenho muito mais chefes de sexo masculino do que feminino); as minhas roupas têm que ser “anti-estupro”, minha dedicação é menor, aguento menos trabalho, o fato de ter licença maternidade atrapalha a empresa, por  minha família em primeiro lugar desvia minha atenção. Esta visão da mulher é absolutamente equivocada – a competência não se esvai com a multiplicidade de interesses, pelo contrário, a torna mais robusta. É claro que ser mulher ou homem encerra algumas particularidades, mas num mundo de tanta diversidade quanto o que vivemos hoje, estes traços, que são meramente culturais, vão se diluindo e embricando. Lembrar o discurso de Arquete me trouxe à mente o caso da jovem que foi denunciada pelo médico por ter praticado o aborto. Como resultado, saiu do posto de saúde presa, humilhada. Não vou me ater a julgar a atitude do meu colega; sobre ela o Conselho Federal de Medicina já se posicionou, mas todo o problema reside na criminalização de um ato de foro tão íntimo da mulher. Independente de ser a favor ou contra (em que pese que sou contra), não é o tipo de atitude que deva ser considerada criminosa uma vez que a mulher precisa ter o direito de decidir o que fazer com seu próprio corpo. Aqui entram diversas questões a serem discutidas, argumentos de muitas procedências, mas o episódio retrata o quanto ainda temos, enquanto sociedade, o que debater e encarar de frente.


Então mulheres, aproveitem as homenagens, mas não percam de vista a verdadeira razão dele, que é fruto de luta e de luto de mulheres que lá no início do século XX já bradavam pelas demandas que, a despeito de obviamente muita coisa ter melhorado, ainda são nossas nos dias atuais.