O Prêmio Oscar foi em no mês de Fevereiro, mas
bem podia ter sido em Março, mês em que se comemora o Dia Internacional da
Mulher. Abro parênteses aqui para falar da importância desse dia, que muitos
não vêem; não é nascido da vontade de render homenagens e sim da necessidade de
parar para pensar no quanto ainda há de preconceito contra elas, do quanto
ainda tem condições de trabalho inferiores aos dos homens, de apesar de serem
em maior número nas faculdades, serem número muito menor nas empresas, de que
continuam sendo subjugadas pela força sofrendo maus tratos, agressões (físicas
e psicológicas) e estupros.
Voltando
ao Oscar, ele acabou coroando o mês de Março nesse pensamento voltado à mulher
no momento em que se destacou a participação da atriz hollywoodiana Patrícia Arquete. Vencedora do prêmio de Melhor Atriz
Coadjuvante pelo filme Boyhood – da
infância a adolescência, a atriz voltou seu discurso de agradecimento a
essa luta, a pela igualdade de gêneros. Sim, a indústria do cinema também é
dada a sectarismos; profissionais de várias áreas ainda hoje, ano de 2015, são
vistas de forma diferentes por serem mulheres, independente de sua qualidade
técnico. E isso se estende por vários campos em nosso cotidiano, contaminando a
visão do meu colega de trabalho, do meu fornecedor, do meu cliente e do meu
chefe (isto também, pois tenho muito mais chefes de sexo masculino do que
feminino); as minhas roupas têm que ser “anti-estupro”, minha dedicação é
menor, aguento menos trabalho, o fato de ter licença maternidade atrapalha a
empresa, por minha família em primeiro
lugar desvia minha atenção. Esta visão da mulher é absolutamente equivocada – a
competência não se esvai com a multiplicidade de interesses, pelo contrário, a
torna mais robusta. É claro que ser mulher ou homem encerra algumas
particularidades, mas num mundo de tanta diversidade quanto o que vivemos hoje,
estes traços, que são meramente culturais, vão se diluindo e embricando. Lembrar
o discurso de Arquete me trouxe à mente o caso da jovem que foi denunciada pelo
médico por ter praticado o aborto. Como resultado, saiu do posto de saúde
presa, humilhada. Não vou me ater a julgar a atitude do meu colega; sobre ela o
Conselho Federal de Medicina já se posicionou, mas todo o problema reside na
criminalização de um ato de foro tão íntimo da mulher. Independente de ser a
favor ou contra (em que pese que sou contra), não é o tipo de atitude que deva
ser considerada criminosa uma vez que a mulher precisa ter o direito de decidir
o que fazer com seu próprio corpo. Aqui entram diversas questões a serem
discutidas, argumentos de muitas procedências, mas o episódio retrata o quanto
ainda temos, enquanto sociedade, o que debater e encarar de frente.
Então
mulheres, aproveitem as homenagens, mas não percam de vista a verdadeira razão
dele, que é fruto de luta e de luto de mulheres que lá no início do século XX
já bradavam pelas demandas que, a despeito de obviamente muita coisa ter
melhorado, ainda são nossas nos dias atuais.
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