Brinquedo com cara
inocente e na embalagem a faixa etária adequada. É o suficiente para levar para casa. Engano!
A faixa etária é em
princípio norteada por critérios do INMETRO de acordo com critérios de
segurança. Para as crianças menores isso é ótimo e bem rigoroso. Muito
importante comprar brinquedos certificados pois os testes são reconhecidamente
bem elaborados e empregados. Os riscos à saúde de crianças pequenas utilizando
brinquedos com pequenas peças, por exemplo é enorme. A escolha pelo brinquedo
apropriado não se encerra aqui.
Outro aspecto na
avaliação dos brinquedos apropriados para determinada faixa etária é o
psicopedagógico. Por este ângulo se avalia as capacidades motoras e
psicológicas que as crianças desenvolvem na infância. Os especialistas apontam,
em linhas gerais, que até os três anos as crianças devam experimentar brinquedos
que favoreçam o movimento e a descoberta de sensações; dos três aos cinco anos
brinquedos lúdicos que estimulem o faz-de-conta; de cinco a sete anos os jogos
de raciocínio e brincadeiras em grupo, e a partir dos sete brincadeiras que
aumentem o desafio. Essas são considerações bem embasadas e por isso valiosas.
Infelizmente ainda não deixa pais e educadores seguros com as classificações
etárias dadas aos brinquedos no Brasil.
Como
tudo quando se fala de filhos, é preciso estar atento. Todo brinquedo que chega
às mãos das crianças deve ser partilhado com ela, sobretudo para interagirmos,
mas também para conhercermos o que estará ao acesso da criança e fazermos nosso
próprio juízo de valor. Recentemente minha filha ganhou no aniversário de oito
anos o jogo da Estrela “Fala Sério”, baseado na obra homônima da escritora
Thalita Rebouças. Na caixa, em letras garrafais – A PARTIR DOS 7ANOS. Tenho
certeza do carinho e atenção de nossos amigos ao presentar, tendo se baseado na
indicação da caixa, que em tese leva mesmo em conta indicações do INMETRO sobre
segurança e indicações pedagógicas sobre a importância de jogos de raciocínio e
em grupo para a faixa etária. A distorção foi vista apenas na hora de abrir o
tabuleiro e distribuir as cartas, o que por sorte foi feito junto com a
criançada.
“Fala
sério” é sabidamente uma série juvenil, versando sobre o universo adolescente
com muita propriedade. Deixo aqui todas as minhas congratulações à autora que
dialoga como poucos com essa faixa de idade. Contudo, sem medo algum de parecer
retrógrada ou pudica, e até mesmo ingênua, quando começamos a brincar percebi
que nem de longe se tratava do tipo de estímulo e raciocínio adequado a minha
filha. Em meio a questões até aparentemente inocentes, como “Você cai de cara
no chão na frente dos meninos na aula de educação física. O que você faz?”,
surge uma “Tem pouco tempo que você está namorando e sua mãe chama seu atual
namorado pelo nome do ex. Oque você faz?”. Não vejo como uma pergunta desse
tipo possa estar adequado a meninas de sete anos.
Por
mais que o mundo gire velozmente, que as pessoas evoluam e as crianças já não
tenham o perfil das crianças de outras épocas, tudo tem limite. E esse limite,
definitivamente tem que ser imposto pelos pais. Não INMETRO que consiga saber
mais do que você que tipo de pessoa deseja criar. Uma das nossas funções como
pais e educadores é ajudar a criança a lidar com sua sexualidade,
proporcionando oportunidades para falarem sobre suas inquietações, mas tudo a
seu tempo. A sexualização precoce além de atropelar a infância, pode ter
efeitos deletérios sobre a formação das crianças.
Infelizmente
não é possível apontar apenas um jogo como algoz nessa situação. Estão aí certos
programas de televisão, revistas e músicas que perpetuam essa prática em nossa
sociedade. Assim como a sexualidade, outras áreas do cotidiano que precisam de
um cuidado para o contato com as crianças, como a violência, também são
frequentemente negligenciadas nos diversos jogos e brinquedos aos quais nossos
filhos têm acesso, mas com faixa etária dita adequada. É responsabilidade nossa
barrar a velocidade com que estes modelos invadem nossas casas.
Obviamente
não se tem controle por absolutamente toda informação que um filho consome, mas
intervir no que lhe chega às vistas é possível. E com equilíbrio vamos tentando acertar nas
escolhas.
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