terça-feira, 21 de janeiro de 2014

SHAKESPEARE NA CABECEIRA



A leitura é um prazer imenso e é em si um hábito, como tal podendo ser cultivado. Para crianças pequenas isso é especialmente verdade. Dependendo do que lhe seja apresentado, e como, desde muito cedo, os livros podem se tornar companheiros de toda vida. Já são conhecidos os benefícios pedagógicos da leitura; pessoas que costumam ler melhoram seu raciocínio, seu senso crítico, escrevem melhor, enriquecem culturalmente, aumentam o vocabulário, além da leitura ajudar a fixar a grafia das palavras, aproximando da escrita e trazendo melhor desempenho escolar. São atributos fundamentais e fazem a diferença na fase de alfabetização. Há ainda os benefícios lúdicos; crianças que tem esse contato íntimo e livre com os livros viajam na imaginação e desenvolvem a criatividade. A importância da literatura na educação infantil é tão grande que já foi alvo de diversos estudos que trouxeram os citados benefícios, além de benefícios ao desempenho profissional na vida adulta. Um estudo da americana National Children´s Reading Foundation afirma que para crianças de 0 a 5 anos, cada ano ouvindo histórias e folheando livros equivale a 50 mil dólares a mais em sua futura renda.

Existe uma variedade enorme de temas na literatura infantil, muitas formas de abordagem podem vir da nossa vivência com as crianças. Não é tarefa fácil, é importante compreender o universo da criança, sua maturidade, o que sua faixa etária permite compreender. Pode parecer complicado competir com tantos brinquedos cheios de recursos e cada vez mais lúdicos, mas o incentivo é eficaz, mostrando que cada livro é um mundo de possibilidades. E como tudo em educação, nada mais eficiente nessa tarefa que o exemplo. Pais que costumam ler e mostram uma relação gostosa com os livros passam para as crianças naturalmente. Mas se você não tem a literatura como hábito (sempre é tempo de corrigir), dando livre acesso aos livros já estará fazendo um grande trabalho. A autora Simone Tinti listou algumas dicas para estimular a leitura em casa; o primeiro – e principal – passo é dar o exemplo. Tenha livros em casa e, o mais importante: leia com (e para) a criança. Vá com as crianças a espaços culturais,  onde sempre há eventos relacionados ao universo literário, como contações ou peças de teatro adaptadas de livros. Em bibliotecas e livrarias, ao invés de deixar a meninada sozinha explorando as prateleiras, ajude a escolher as obras mais adequadas e leia as histórias. Aproveite a ocasião para ensinar que é preciso cuidar do livro – ou seja, que não vale rasgar, amassar ou rabiscar as páginas. Em casa, deixe os livros em locais de fácil acesso para o seu filho. Vale ter exemplares na caixa de brinquedos, na banheira e no berço (e não só na estante). Não basta apenas deixar os livros à vista das crianças. Os pais precisam fazer a ponte, criar o interesse, ser o mediador nessa relação.

Um investimento lucrativo em todos os sentidos, o incentivo a leitura está enormemente a cargo dos pais. Desde fomentá-la até a guiá-la em termos de qualidade. É uma preocupação que deve estar na pauta do dia-a-dia com nossos filhos, de maneira suave, confortável, natural e prazerosa. Vários são os relatos dos grandes escritores, de como os livros entraram em sua vida, de como lidavam com eles na infância. Não posso saber se minha filha vai se embrenhar pelo mundo das artes, ou se um dia vai contar a história de como Shakespeare veio parar em sua cabeceira, mas posso relatar agora eu mesma, par ficar registrado e para servir de estímulo aos outros pais. Sempre valorizamos os benefícios amplos da leitura e tentamos estimulá-la. Sempre ouvi o quanto nosso papel de pais era o fiel dessa balança. Sempre acreditei na importância de gastar um tempo produtivo com seu filho; não interessando que seja um tempo curto, mas que estejamos lá inteiros. Recentemente vivemos, minha filha e eu, um processo sutil, tateado, que resultou num entusiasmo enorme por parte dela que está sendo muito gratificante.  Assistíamos um programa infantil em que se falava da história de Romeu e Julieta. Notei o interesse da pequena (nessa idade elas já estão românticas), e contei de onde a história havia surgido, quem era Shakespeare e que inclusive tíamos em casa livros desse autor. Fiquei até altas horas lendo para ela e um já foi pra cabeceira. Amei demais! Que bom que estávamos juntas naquele momento, que bom que deixei minha série favorita no outro aparelho, que bom que exercitei essa nossa capacidade de estar atento aos filhos. Ser mãe/pai é isso!

domingo, 5 de janeiro de 2014

A AGENDA



Primeira semana do ano. Um hábito que se repete há anos mais uma vez foi posto em prática. Ela acariciou a capa onde se lia 2014, pensando que um novo ciclo estava se iniciando, que seria uma nova chance de consertar velhos erros, um momento para iniciar novos projetos. Riu de si mesma por se deixar tomar por esta sensação irresistível todos os anos; a de que o mundo para no 31 de dezembro à espera do ano seguinte, como se de fato fragmentasse todas as coisas. Abriu a agenda na página dos calendários, deu uma checada nos feriados, já fez uns planos por alto de pequenas viagens que daria pra fazer, viu em que dia da semana cairiam as festas do fim de ano e lá estava ela escrevendo os planos para os próximos doze meses. 

Agora escrever os planos de janeiro; ainda dá tempo de desejar “Feliz Ano Novo” para alguns amigos, é preciso refazer a planilha de gastos e começar com as contas em dia, alguns impostos, refazer o contrato do aluguel, material da escola das crianças e dar as férias da babá. Era tanta coisa, que  decidiu ir vivendo mais aos poucos, sem esquecer dos planos a longo prazo, os quais saiu pontuando na agenda. Precisava anotar mais momentos para estar com a família, um tempo para si, pôr a leitura em dia. O ócio pode ser produtivo e curativo; então mais lazer na sua agenda, sem se importar com o calendário. Foi marcando as datas de aniversário da família e amigos; pensar nas pessoas e com uma simples ligação lhes dizer o quanto são importantes vale muito. Lembrou-se de mudar a forma de lidar com certos problemas, tentaria ser mais condescendente com os erros alheios. Marcou um almoço com colegas de escola que não via há anos. Muito importante cultivar as velhas amizades e manter os laços com quem se gosta. Colocou que em fevereiro, um mês tão curto, daria umas pinceladas domésticas como arrumar o armário de roupas da família, o de brinquedos e outras coisa que se vai acumulando meio compulsivamente, e no final doar o que ainda puder ser usado. Foi deixando papel e caneta de lado; existem aquelas coisas que saltam ao coração e não dão tempo a planejar. Desde pequenas coisas, como correr para o jardim a tempo de tomar um banho de mangueira com as crianças. Hora certa para recordar-se de que a felicidade é um estado imaginário e que nós mesmos o construímos, escrevendo dia após dia.

E a vida segue assim, como uma agenda a ser preparada. Alguns compromissos anteriores precisam ser mantidos, acordos a serem honrados, contas a pagar, trabalho e obrigações, mas há muito espaço para mudanças na trajetória. Tudo depende da forma como se encara o que nos chega. Um olhar otimista e corajoso muda completamente a percepção do que é problema e do que é solução. Ganhar esse novo fôlego é algo positivo, alavanca novas empreitadas e enche de ânimo. É uma espécie de psicoterapia coletiva, com resultados visíveis. Resta aprender como prorrogar essa energia e transformá-la em conquistas reais.