Primeira semana do ano. Um hábito que se
repete há anos mais uma vez foi posto em prática. Ela acariciou a capa onde se
lia 2014, pensando que um novo ciclo estava se iniciando, que seria uma nova
chance de consertar velhos erros, um momento para iniciar novos projetos. Riu
de si mesma por se deixar tomar por esta sensação irresistível todos os anos; a
de que o mundo para no 31 de dezembro à espera do ano seguinte, como se de fato
fragmentasse todas as coisas. Abriu a agenda na página dos calendários, deu uma
checada nos feriados, já fez uns planos por alto de pequenas viagens que daria
pra fazer, viu em que dia da semana cairiam as festas do fim de ano e lá estava
ela escrevendo os planos para os próximos doze meses.
Agora escrever os planos de janeiro;
ainda dá tempo de desejar “Feliz Ano Novo” para alguns amigos, é preciso
refazer a planilha de gastos e começar com as contas em dia, alguns impostos,
refazer o contrato do aluguel, material da escola das crianças e dar as férias
da babá. Era tanta coisa, que decidiu ir
vivendo mais aos poucos, sem esquecer dos planos a longo prazo, os quais saiu
pontuando na agenda. Precisava anotar mais momentos para estar com a família,
um tempo para si, pôr a leitura em dia. O ócio pode ser produtivo e curativo;
então mais lazer na sua agenda, sem se importar com o calendário. Foi marcando
as datas de aniversário da família e amigos; pensar nas pessoas e com
uma simples ligação lhes dizer o quanto são importantes vale muito. Lembrou-se
de mudar a forma de lidar com certos problemas, tentaria ser mais condescendente
com os erros alheios. Marcou um almoço com colegas de escola que não via há
anos. Muito importante cultivar as velhas amizades e manter os laços com quem
se gosta. Colocou que em fevereiro, um mês tão curto, daria umas pinceladas
domésticas como arrumar o armário de roupas da família, o de brinquedos e
outras coisa que se vai acumulando meio compulsivamente, e no final doar o que
ainda puder ser usado. Foi deixando papel e caneta de lado; existem aquelas
coisas que saltam ao coração e não dão tempo a planejar. Desde pequenas coisas,
como correr para o jardim a tempo de tomar um banho de mangueira com as
crianças. Hora certa para recordar-se de que a felicidade é um estado imaginário
e que nós mesmos o construímos, escrevendo dia após dia.
E a vida segue assim, como uma agenda a ser
preparada. Alguns compromissos anteriores precisam ser mantidos, acordos a
serem honrados, contas a pagar, trabalho e obrigações, mas há muito espaço para
mudanças na trajetória. Tudo depende da forma como se encara o que nos chega. Um
olhar otimista e corajoso muda completamente a percepção do que é problema e do
que é solução. Ganhar esse novo fôlego é algo positivo, alavanca novas
empreitadas e enche de ânimo. É uma espécie de psicoterapia coletiva, com
resultados visíveis. Resta aprender como prorrogar essa energia e transformá-la
em conquistas reais.
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