Há oito anos conversava com uma pessoa muito
querida, inteligente e bem informada sobre Ações Afirmativas. Fiquei espantada
pois meu interlocutor nunca sequer ouvira sobre o assunto. Aquilo me deu a
medida do quanto se precisava discutir sobre racismo em nosso país – alguém
instruído, formador de opinião estava à margem daquela discussão. De lá para cá
muita coisa mudou, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
(criada em 2003) tomou corpo e hoje tem status de Ministério, atores negros protagonizando
novelas não é mais novidade, História Afro-brasileira é realidade nas escolas e
um indígena consegue espaço na TV falando seu próprio dialeto. Por outro lado
não é difícil perceber que muito ainda há para fazer. Existe toda uma geração
que de uma forma ou de outra traz encrustrado no subconsciente noções
segregacionistas, e esta geração vem criando seus filhos com um discurso
“politicamente correto”, porém chama o vizinho negro de macaco na primeira
oportunidade, diz que fulano tem o cabelo ruim ou mesmo se diz moreno quando
questionado sobre sua cor. Ainda hoje se dizima nações indígenas em total
desrespeito à sua cultura. Estatísticas oficiais dão conta de que um bebê negro
tem 25% mais chance de morrer no primeiro ano de vida comparada a um bebê
branco, o que é ainda pior para uma criança indígena (50%). Se despir de tudo
isso é mesmo difícil, ainda mais num pais que vende uma imagem mundo afora de
ser multirracial e conviver bem. O mundo também vem trilhando esses novos
caminhos, contudo há uma longa estrada pela frente. Concluo que o foco de
atenção agora tem que ser nossas crianças – é preciso falar no assunto
abertamente, colocar o dedo na ferida. Quanto mais se discute, quanto mais se
divulga, mais se torna robusta a argumentação. E quando se trata de criação,
seja qual for o assunto, permanece verdadeira a máxima de que um exemplo vale
mais que palavras.
Com este pensamento, o UNICEF vem divulgando
uma campanha intitulada “Por uma infância sem racismo”, que visa alertar a
sociedade sobre os impactos do racismo na infância e na adolescência e da
necessidade de uma mobilização social para assegurar o respeito desde a
infância. Existem várias peças da campanha vinculadas na mídia, algumas já
receberam prêmios pela iniciativa. Um conteúdo que é bem esclarecedor está sob
o tópico “Dez maneiras de contribuir para uma infância sem racismo”, que
reproduzo a seguir (fonte: http://www.unicef.org/brazil/pt/multimedia_19297.htm):
1.Eduque as crianças para o respeito à diferença. Ela está nos tipos de
brinquedos, nas línguas faladas, nos vários costumes entre os amigos e pessoas
de diferentes culturas, raças e etnias. As diferenças enriquecem nosso
conhecimento.
2.Textos, histórias, olhares,
piadas e expressões podem ser estigmatizantes com outras crianças, culturas e
tradições. Indigne-se e esteja alerta se isso acontecer – contextualize e
sensibilize!
3.Não classifique o outro
pela cor da pele; o essencial você ainda não viu. Lembre-se: racismo é crime.
4.Se seu filho ou filha foi
discriminado, abrace-o, apoie-o. Mostre-lhe que a diferença entre as pessoas é
legal e que cada um pode usufruir de seus direitos igualmente. Toda criança tem
o direito de crescer sem ser discriminada.
5.Não deixe de denunciar. Em todos os casos de discriminação, você deve
buscar defesa no conselho tutelar, nas ouvidorias dos serviços públicos, na OAB
e nas delegacias de proteção à infância e adolescência. A discriminação é uma
violação de direitos.
6.Proporcione e estimule a
convivência de crianças de diferentes raças e etnias nas brincadeiras, nas
salas de aula, em casa ou em qualquer outro lugar.
7.Valorize e incentive o comportamento respeitoso e sem preconceito em
relação à diversidade étnico-racial.
8.Muitas empresas estão
revendo sua política de seleção e de pessoal com base na multiculturalidade e
na igualdade racial. Procure saber se o local onde você trabalha participa
também dessa agenda. Se não, fale disso com seus colegas e supervisores.
9.Órgãos públicos de saúde e
de assistência social estão trabalhando com rotinas de atendimento sem
discriminação para famílias indígenas e negras. Você pode cobrar essa postura
dos serviços de saúde e sociais da sua cidade. Valorize as iniciativas nesse
sentido.
10.As escolas são grandes
espaços de aprendizagem. Em muitas, as crianças e os adolescentes estão
aprendendo sobre a história e a cultura dos povos indígenas e da população
negra; e como enfrentar o racismo. Ajude a escola de seus filhos a também adotar
essa postura.
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