Tentando definir o que é paixão. Um
sentimento que se alimenta de fogo, velocidade e adrenalina; aquela loucura e
vontade de estar junto, aquele friozinho na barriga que antecede cada encontro;
um nó na garganta, a dúvida, o sobressalto quando o telefone toca; sensação de
jovialidade, mas que isso, de que se está vivo. Pena que a ciência já bateu o
martelo: a paixão acaba. Postulam inclusive que ela dura em média dois anos. Se
fôssemos escolher ela duraria para sempre, mesmo sabendo que para tanto se
despende uma enorme quantidade de energia e que custa atenção que é sonegada a
várias outras áreas de sua vida; pouco importa, quem mergulha nesta aventura o
faz feliz.
Uma criatura apaixonada é capaz de quase
tudo, vive no verdadeiro éden, rindo à toa. O mundo ganha um colorido diferente
e a sensação de bem estar se espalha de maneira avassaladora. Algo assim, tão
insidioso, soa tão fantástico que é sempre alvo de diversos ensaios, sejam
artísticos ou científicos. Na arte a paixão se espalha por toda parte; músicas
de corações dilacerados, filmes arrebatadores e crônicas acachapantes. Aliás toda paixão é embalada por uma bela e envolvente canção. Aos cientistas, desde
a neurociências até a psicologia, coube, como vício de função, justificá-la
(ainda que no capítulo destinado à conclusão só lhes reste estabelecer que não é
preciso justificar a paixão). Neste campo uma característica da paixão já foi
destacada – seu poder analgésico. Isso mesmo! Um estudo americano revela que as
experiências de dor física são minimizadas pela paixão, aparentemente por
ativar neuroreceptores idênticos aos ativados pelos fármacos.
Muito já se falou sobre a diferença entre
paixão e amor, a primeira tachada como efêmera e inconsequente, turbulenta como
uma montanha russa; já o amor significa navegar em águas calmas e longevas.
Tais adjetivos soam por vezes pejorativos, contudo fato é que todo mundo quer
viver uma paixão. E olhando com intimidade a questão, paixão e amor estão mais
para metades indivisíveis de um único sentimento do que opositores ferozes.
Mais provável que sejam espectro de um mesmo estado patológico do qual não se
deseja curar jamais.
Para felicidade geral (e quem sabe até consolo),
aquela sentença de finitude da paixão já foi contestada – cientistas da
Universidade Stony Brooks em Nova York analisaram a atividade cerebral de
casais que estão juntos há muito tempo e descobriram que 10% deles mantém as
mesmas reações químicas que casais em início de romance. Não se sabe que
fatores influenciam nisto, mas as descobertas indicam que alguns “elementos da
paixão amadurecem, permitindo que alguns casais consigam desfrutá-los por longo
tempo”. Cabe a cada um tecer os meios de manter a chama sempre acesa, e aqui
permitam mais uma vez citar o poetinha: “que não seja imortal, posto que é chama,
mas que seja infinito enquanto dure”. Seja qual for o embasamento, científico
ou não, é bastante saber que em se tratando do coração (e da mente) tudo é
possível.
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