sábado, 27 de novembro de 2010

Ai que endurecer, pero ...



Nestes últimos dias assistimos a uma explosão de violência no Rio de Janeiro, praticamente uma guerra, que expõe uma ferida existente no país inteiro. A sensação de impotência é generalizada e o enfrentamento que as policias dão a esta questão está na pauta do dia. Combater crimes dos mais diversos, neste momento com atenção especial ao trafico de drogas, exige um trabalho de inteligência, mas muitas vezes depende da força bruta. E qual deve ser a intensidade desta força?

A impressão inicial quando discuto o modus operandi das forças policiais no cotidiano do cidadão é de truculência. Conversando um pouco sobre o assunto chega-se ao incômodo senso comum de que as abordagens de fato não são nada gentis, mas que por outro lado o agente fardado que pára um automóvel numa blitz não sabe que tipo de pessoa vai encontrar dentro dele e portanto precisa estar na defensiva. Estas impressões são bem diferentes quando se pensa no confronto direto com bandidos. Me faz lembrar Tropa de Elite e uma frase dita pelo Capitão Nascimento vivido por Wagner Moura (abro um parêntese para me declarar fã) – “para a sociedade, bandido bom é bandido morto”. E nesse cenário entra uma questão importante, muitas vezes delicada, que é a dos Direitos Humanos.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento adotado pela Organização das Nações Unidas, toca a atuação das forças policiais quando declara que ninguém será submetido a tortura e tratamento cruel, desumano ou degradante, e ainda quando declara que ninguém será detido arbitrariamente. Destes princípios derivam a noção de que episódios como o do Carandiru (assim popularizado) ferem a maneira aceitável de lidar com criminosos. Partem da noção da dignidade humana, defendida por diversos segmentos sociais, em que a necessidade de repressão aos crimes passa longe dos maltratos. Citando mais uma vez o filme, quando assisti a continuação fiquei apreensiva com modo como iriam tratar dos “intelectuaiszinhos de esquerda”, justamente na abordagem à questão dos Direitos Humanos, porém com o desenrolar da fita fica claro que estes têm seu valor reconhecido. Na outra ponta da equação o personagem principal nos remete a um desconcertante desejo de que em muitas situações a força seja usada de forma exagerada na relação polícia-bandido. Não é isso que reza a Declaração Universal dos Direitos Humanos, ainda que queiramos  trazer à tona os crimes mais hediondos.  

Um aspecto fundamental quando se analisa a medida da força policial no enfrentamento da criminalidade é que o cidadão comum está sempre no entorno e precisará ser preservado a todo custo. Imagino que numa ação policial coordenada se possa evitar mortes de inocentes, e talvez seja este o caminho – comandar ações de embate direto com ações de inteligência. É pressuposto da função policial só usar a violência em último caso, quando todos os outros recursos estão esgotados. Não se pode colocar este agente na figura do exterminador de criminosos, quando na realidade seu objeto é o crime. O problema é que com a crescente violência estes conceitos acabam sendo subvertidos, e a sociedade, ora refém, termina por endossar o uso abusivo da força. E como não se sentir assim, se seu direito de ir e vir muitas vezes é cerceado, você se sente meio prisioneiro em sua própria casa, começa a olhar qualquer estranho com desconfiança e o medo se generaliza? Mesmo parecendo natural, a sociedade não pode deixar de indignar-se e seguir tolerante a determinados atos, esquecendo-se de que o indivíduo é inocente até que se prove o contrário, dando direito a todos de ser amplamente defendidos em juízo (quantos são os casos que se noticia de pessoas mortas por engano).

Concluo que medir e determinar a força empregada pelas polícias é tarefa impossível, porém é fácil ver quando agem com arbitrariedade, e é este comportamento que deve ser rechaçado, desde a simples abordagem a cidadãos comuns numa blitz até o confronto direto com bandidos. Ainda mais quando sabemos o quanto estas forças estão também infiltradas por desvios de conduta e criminalidade, muitas vezes deixando dúvidas do papel que desempenham – mocinho ou bandido. Espera-se que respondam com firmeza, mas sem truculência, agindo com precisão e não de forma anárquica, nos protegendo e não transformando todos nós em vítimas potenciais. Não é fomentando a matança que será resolvido o problema da criminalidade, que tem raízes profundas na forma como nossa sociedade vem se organizando. A criminalidade não é apenas assunto de polícia, é antes de tudo assunto das políticas sociais no que tange a educação de qualidade, infraestrutura e oportunidades de emprego.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Música para maninha

Ela é uma mulher de sagitário
Regida pelas palavras sinceridade, independência, amizade e liberdade
Esta mulher hoje vira mais um ciclo e se reiventa
Nova chance de ser o que não foi
Oportunidade de repetir os acertos
E como só Djavan poderia dizer
"Esse imenso e desmedido amor
Vai além de ser o que for"


domingo, 21 de novembro de 2010

E COM VOCÊS... A VERDADEIRA MULTIMULHER!




E Deus fez a genética! Graças a isto trazemos no DNA heranças das mais diversas. Herança que evoco quando trago à tona o alterego multimulher, não como uma forma de me vangloriar, mas para apontar um elo entre todas nós. Obviamente nem toda mulher deseja ou precisa se desdobrar em múltiplos papéis, ainda que um fato não se possa refutar: tem gente que nasce para isso.

Pois sim, a multimulher vem de longe, dos tempos em que minha mãe, com os filhos pequenos se multiplicava para desempenhar todas as tarefas dentro e fora de casa. Penso que ser multimulher em outras épocas era muito mais pesado. Longe de ser uma opção, era o que lhe delegava a sociedade em que o homem era criado para ser o provedor e ponto. A mulher que de forma libertária desejava andar fora destes trilhos era discriminada. Hoje se opta por ser “mãe em tempo integral” ou conciliar filhos e profissão, podendo estar temporariamente num papel ou noutro e se recolocar no mercado de trabalho; as expectativas pessoais também são outras, havendo possibilidades maiores de planejamento familiar. Nos tempos em que ser “dona de casa” é quase um palavrão, minha mãe acha estranho quando ter uma família não é uma primeira escolha ou quando suas filhas querem dividir igualmente as tarefas com os maridos.

As diferenças também incluem um ponto de vista prático – os recursos tecnológicos nos permitem ter maior agilidade no trabalho doméstico, maior interatividade entre as pessoas, formas de vigilância domiciliar sem sua presença física e novas modalidades de entretenimento. O mundo moderno, dito globalizado, também aproxima as gerações, fazendo com que muitas lacunas antigas já não existam mais.

Ainda assim, como diz o antigo slogan, “nada substitui o talento”. É preciso ter o dom de se multiplicar, é preciso muito amor para se doar e não estar em primeiro lugar. Não faço a apologia da anulação de si próprio; refiro-me àquela generosidade atemporal que transforma as pessoas. Ter talento para desatar nós, resolver toda sorte de problemas, ser aquela que acha tudo numa casa, a que comanda a equipe de trabalho com tranqüilidade, a que sabe resolver o almoço do batalhão, a que corre para deixar o filho na escola e na volta passa no supermercado, a que fica linda e cheirosa e só sai depois que nina a prole, a que é um ombro amigo de todas as horas e a que, acima de tudo, é feliz com seu jeito de levar a vida.

Mulheres assim são na verdade raras, difíceis de repetir, mas é possível tomá-las como exemplo. E quem sabe a tal genética nos favorece presenteando com esta essência fabulosa capaz de suavizar tão árdua empreitada. Considero importante elogiá-las, e principalmente, tecer os elogios enquanto estamos juntos para que no futuro o não ter dito não seja um arrependimento. Costumo repetir que se eu for metade da mãe que a minha é, já estarei satisfeita. É um jeito de lhe dizer o quanto sua atuação em todo o meu caminho é marcada por acertos, plena de amor e digna de se orgulhar, podendo assim desejar Feliz Aniversário. Com certeza muitos filhos comungam desta admiração por sua mãe e não deixa de ser também uma homenagem coletiva. Nesse caso em particular, ser abnegada, manter os filhos como absoluta prioridade e educar ao velho estilo “faça de mim uma escada” foram lições que sempre me acompanharam (me agarro com todas as forças à máxima de que filho de peixe, peixinho é), e me estimulam hoje a tentar plagiar a verdadeira multimulher. 

sábado, 20 de novembro de 2010

CONSCIÊNCIA NEGRA

Mais uma pincelada na cor do Novembro Negro, especialmente no dia de hoje.



Ainda nesta ótica, leia excelente post no Biscoito fino e a massa .

Nos porões de um navio negreiro
Conta-se do martírio de um tempo
Lágrimas de um continente inteiro

Canaviais e cafezais
Nova casa, novo tudo
A liberdade não me cabia mais

Muita luta travada
Alforria formal assinada
A princesa ora pressionada

E volto ao cativeiro
Refém da miséria
Da falta de instrução
Insatisfação

Por muito excluído da escola
A ignorância me devora
Realizo onde o poder mora
É na busca diária pelo conhecimento
Reconhecimento
Expulso o sofrimento

Tal fênix renasço
Pela força da consciência me refaço
Estou diante de um novo horizonte
Onde é possível que tudo se reconte
A terra cultivada por mim
Pode ser meu porto seguro enfim

sábado, 13 de novembro de 2010

O PERIGO MORA AO LADO!



Não é à toa aquela expressão “criança cega a gente”. Chega a ser desconcertante, como citou a pediatra Denise Katz em entrevista sobre acidentes com crianças. Ela destaca que basta um segundo para as crianças escaparem do olhar dos adultos e aprontar alguma estripulia, além do que, é próprio da natureza infantil a falta absoluta de noção do perigo a que se expõem.

Quando minha amiga Ana Lísia, mãe de Gui, e com preocupações maternas bastante peculiares me apresentou a iniciativa do grupo Ergotríade (http://www.ergotriade.blogspot.com/), especializado em ergonomia, segurança no trabalho e saúde ocupacional, veio ao encontro a um aspecto que me causa apreensão e a todos que lidam com crianças (pais, avós, professores, cuidadores e afins). Trazem uma orientação técnica de segurança, tipo que precisa ser massificada, uma vez que os números em termos de acidentes com crianças são alarmantes.
  
Em 2008 a OMS e o UNICEF divulgaram o Relatório Mundial sobre Prevenção de Acidentes com Crianças e Adolescentes, fruto de discussão entre especialistas do mundo inteiro, confirmando-se uma impressão já presente no imaginário coletivo - toda criança tem o direito de crescer e se desenvolver em ambientes seguros, protegidas dos riscos de acidentes.  Muitas vidas poderiam ser salvas integrando a prevenção de acidentes a outros esforços globais voltados à saúde da criança. Sendo assim é importante o desenvolvimento de ambientes, comunidades e serviços de emergências adequados às especificidades da criança.

Os acidentes, ou lesões não-intencionais, representam a principal causa de morte de crianças de 1 a 14 anos no Brasil. É triste, mas real a constatação de que tudo isso tem haver com a pobreza e condições de vida em nosso país – o mesmo relatório da OMS/UNICEF aponta que crianças de comunidades pobres estão mais expostas aos acidentes por geralmente viverem em casas com maior risco de incêndios, janelas desprotegidas, parapeitos e escadas sem segurança ou locais de trânsito intenso. No total, mais de cinco mil crianças morrem e cerca de 137 mil são hospitalizadas anualmente, segundo dados do Ministério da Saúde, configurando-se como uma séria questão de saúde pública. Por outro lado, o que é também um alento, os estudos mostram que pelo menos 90% dessas lesões poderiam ser evitadas com atitudes de prevenção. 

Considerando-se um problema de saúde pública, as orientações das políticas públicas também integram diretrizes para a abordagem da prevenção em vários níveis, inclusive no contexto da escola de forma transversal no ensino fundamental, o que revela o tamanho da preocupação que o problema merece. Colocarmos a questão desta forma não exime a responsabilidade de todos, o que exige um comprometimento individual. Nesse sentido a movimentação sobre o tema nos diversos setores da sociedade é enorme, mas ainda há muito que se discutir e conscientizar. A ONG Criança Segura (http://www.criancasegura.org.br) instituiu o Dia de Prevenção de Acidentes com Crianças, como um meio de alertar e gerar discussão sobre o tema. Nesta linha de prestação de serviço a organização mantém ainda seu site com dados e dicas de prevenção a acidentes.

As estatísticas mostram que a maioria dos acidentes envolvendo crianças acontece em casa, mais comumente na cozinha ou no banheiro, o que reitera aquela necessidade que citei anteriormente do comprometimento de cada indivíduo nestes cuidados, demandando atenção redobrada ao movimento dos pequenos. Algumas empresas no mercado para crianças se especializaram nesta área de segurança doméstica, produzindo travas, pisos antiderrapantes, banquetas especiais, protetores de vasos sanitários e de quinas, portãozinhos, tampa para tomadas e vários outros dispositivos, todos capazes de aumentar a segurança dos espaços. Desde bebês, o cuidado com a seleção dos brinquedos, forma de oferecer os alimentos, posição em que colocá-los para dormir e várias outras orientações devem ser atentadas. Existe uma campanha da Pastoral da Criança especificamente voltada para o fato de que dormir de barriga para cima (em oposição a o que os mais antigos orientavam de colocar os bebês para dormir “de bruço”) pode reduzir em até 70% o risco de morte súbita nos bebês.

As crianças precisam desbravar o mundo, explorar os espaços, brincar e experimentar como parte de seu desenvolvimento, não cabendo, portanto, impedi-las, porém o que fica muito claro é que nada substitui a supervisão ativa e constante de um adulto.

Aqui vão algumas dicas do manual da Ergotríade:
Segurança em casa
Na cozinha (de preferência isolar a área, pois cozinha não é lugar de criança):
1.    Panelas – deixar apoiadas com os cabos para dentro, preferir as bocas de trás do fogão
2.    Facas e objetos cortantes – sempre fora do alcance
3.    Fósforos e isqueiros – proibição total ao acesso, repreenda as brincadeiras. Fogo não combina com criança.
4.    Piso molhado – providencie algo para entreter as crianças enquanto se lava a cozinha. Não permita a passagem pelo local enquanto o piso estiver molhado.
5.    Remédios – por serem coloridos despertem a atenção das crianças. Mantenha-os juntos, armazenados, longe do alcance. Evite ingerir diante das crianças para não despertar o interesse.
No banheiro:
1.    Manter sempre fechado.
2.    Banheiras podem oferecer risco de afogamento – nunca deixe as crianças sozinhas.
3.   Espelhos – o reflexo da imagem causa curiosidade, principalmente os de corpo inteiro, podendo levar ao risco de quebra quando a criança se esbarra ou lança algum objeto.
4.   Vasos sanitários – não permitir que subam e mantê-los de preferência travados pelo risco de acesso à água, podendo haver até afogamento.
No quarto e na sala:
1.    Cuidado com as janelas – em apartamentos, independente do andar, uso grades ou telas de proteção. Estas devem ser instaladas por empresas especializadas.
2.    Fiações elétricas e tomadas – não permitam que as crianças manipulem, de preferência use protetores de tomadas
Na piscina:
1.    Supervisão constante.
2.    Piscinas móveis devem ser desmontadas e esvaziadas após o uso e as fixas isoladas por grade de pelo menos 1,5m.
3.   É muito aconselhável que as crianças aprendam a nadar (com profissionais especializados)
Animais:
1.    Faça o período de adaptação da criança com o animal, quando a chegar deixe o animal se aproximar desde o início e perceber que é um novo membro da família para evitar o ciúme.
2.    Ensine a criança a respeitar e cuidar do animal, mesmos os mais dóceis podem responder instintivamente se agredidos.
3.    Supervisione as brincadeiras
Estranhos:
1.    Eduque desde cedo seu filho não dar atenção a estranhos.
2.    Orientação específica aos maiores ao andarem na rua, permanecer afastados de estranhos, se perceberem aproximação mudar de calçada ou inverter o sentido.
3.    Shoppings são locais favoritos para escolha de vítimas – se os maiores já vão sozinhos, ensine-os a não conversar com estranhos, a qualquer suspeita falar com o segurança do shopping. Não dê muito dinheiro, apenas o necessário.
Parques e playgrounds:
1.    Atenção especial com o estado de conservação dos brinquedos e itens de segurança.
2.    Em parques maiores, com crianças maiores, que não vão ficar todo o tempo sob sua visão, combinar pontos de encontro, se possível manter comunicação por rádio.
Na Escola:
1.    Vá às reuniões, conheça os amigos dos seus filhos e como é seu comportamento.
2.    Oriente desde cedo sobre o perigo das drogas.
Na praia:
1.    Se você quer curtir a praia, relaxado sem pensar em nada, não leve as crianças.
2.    Observação constante, atento ao grande número de pessoas circulando e ao mar.
3.    Cuidado com o sol – as duas únicas coisas que podem ser consumida sem moderação são água e protetor solar.
Babás e empregadas:
1.    Ao contratar alguém para cuidar de seu filho, não tenha vergonha de parecer chata, exija e cheque referências, faça perguntas, observe o comportamento.
2.    Procure não manter uma constante no que diz respeito a horários.
3.    Converse com seu filho e observe sua relação com a pessoa que o cuida.
4.    Veja seus filhos sem roupas, investigue sobre manchas e machucados.
5.    Se possível instale câmeras na casa – não precisa espionar, jogue limpo e diga que prefere monitorar na sua ausência.
Outros adultos:
1.    Contato com qualquer outro adulto também deve ser alvo de vigilância o quanto possível e sempre de orientação, sejam professores, parentes ou amigos. Mantenha a regra de se manter alerta.
Riscos especiais:
1.    Armas de fogo – livre-se delas ou mantenha compulsivamente longe do alcance e das vistas das crianças de qualquer idade.
2.    Cofres – são a representação de riqueza e atrai bandidos, portanto não deixe que as crianças saibam que há um em casa, elas poderão revelar a terceiros. Para os maiores, que não dá para esconder, não revele senhas e códigos.
3.    Pipas – brincadeira sempre supervisionada, em local livre de redes elétricas e trânsito de carros.
4.    No carro – crianças menores de oito anos sempre no banco de trás e com sinto de segurança; as crianças menores devem ser transportadas em cadeiras e acentos especiais; cuidado especial com o travamento das portas.
5.    No transporte escolar – antes de contratar dedique um tempo para colher informações sobre o serviço, converse com outros pais, inspecione o veículo, exija documentação completa do motorista e ensine seu filho como se comportar durante o transporte (permanecer sentado, obedecer às orientações do monitor, só descer com o carro totalmente parado, não fazer algazarra e conversar com o motorista).
6.    Na Internet – manter bom relacionamento e confiança mútua com seu filho, oriente o que deve ou não acessar, esteja atento ao tempo que as crianças permanecem no computador. Programas espiões vão além do zelo, uma vez que violam a intimidade do seu filho; pode funcionar com os menores, mas para os filhos maiores não é adequado.

sábado, 6 de novembro de 2010

AO MESTRE COM CARINHO

To sir with Love, tema de um dos melhores filmes que já vi, com Sidney Pottier.


Lulu - To Sir With Love - 1967



Magno Burgos era um mestre. Já de saída brigava com o próprio nome, que dizia ser um adjetivo. O aguerrido militante político, a voz lúcida e questionadora nas rodas dos amigos de toda uma vida, merecia sim tal adjetivo como nome.

Nunca fui muito afeita a discussões sobre política. Sendo bastante franca, meu entendimento era pífio. A coisa foi mudando sutilmente nos últimos anos pela convivência com Magno. Ele era capaz de envolver com eloqüência e firmeza, nunca com agressividade, o mais distante dos interlocutores.

Dignidade e coerência foram marcas com que esse santamarense (na verdade nascido em Ituaçu, mas criado em Santo Amaro desde sempre) viveu seus oitenta anos.  Vereador pelo PTB em Londrina, preso político (tive a oportunidade de ouvir histórias da Galeria F da Penitenciária Lemos Brito), perseguido pela ditadura militar, ativista na luta pela redemocratização pós golpe de 64, Magno Burgos jamais deixou calar suas ideologias. Acreditava nos ideais trabalhistas, os quais nortearam toda a sua existência, ainda que fora do circuito político oficial, mantendo-se sempre atualizado, enxergava além do exposto na grande mídia. Dono de uma memória formidável, era de uma conversa extremamente agradável, sobre este e outros assuntos.

Nestes dias de eleições ele estaria extasiado. Todo seu movimento pessoal sendo brindado pela eleição da primeira mulher presidente, com uma história de luta contra a ditadura, também presa política e alinhada com sua ideologia social. A verdade é que Magno foi embora na situação, exercício ora tão prazeroso quanto ser da oposição. Mais do que vencer a luta, ele apreciava o bom combate no campo das idéias.

Longe de ser um intelectual recluso, Magno se sentia à vontade mesmo frente aos questionamentos, analisando a conjuntura da época, traçando estratégias. Sabia também ouvir, sendo importante conselheiro em momentos cruciais da nossa história. Sabia ainda ser ranzinza, encrenqueiro, com suas múltiplas caretas, na família se dizia que Magno escondia as coisas de dia para poder procurar à noite; uma figura rara que costumava sentar com as pernas enoveladas uma na outra. Apesar de ser apegado à rotina, freqüentando por muito tempo os mesmos lugares, era também boêmio, conhecido companheiro de copo e conversa que deixa saudades.

Aliás, foi desse tipo de saudade que nasceu um clássico da música brasileira, o qual foi muito bem referido a Magno Burgos: “naquela mesa ele sentava sempre, e me dizia sempre o que é viver melhor, naquela mesa ele contava histórias que hoje na memória eu guardo e sei de cor”. Assim como nesta homenagem de filho para pai, a relação com a família também pautou sua caminhada. A união com os irmãos e primos (na sua época se conseguia criar todos como irmãos) era um dos exemplos mais bonitos que pude presenciar. Com os filhos estabeleceu um laço em que era indissociável amor e admiração mútuos. Magno, Magueu, Vovô Guegueu (“... agora mudei de projeto, eu quero é neto”), é uma daquelas pessoas que se agigantam de tal forma que transcendem a vida.  Apropriando-me de uma frase dita por Daniel; “foi um privilégio desfrutar da convivência com Magueu”.


P.S.: Sob pena de fazer as lembranças causar-lhes sofrimento, peço licença a Daniel, Leonardo e Cristiano. A intenção é colaborar, um pouquinho que seja, para que nossos filhos conheçam e tenham orgulho do seu DNA.


Naquela mesa, composição de Sérgio Bittencourt em homenagem a seu pai, Jacob do Bandolim, por Elizete Cardoso .

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O poder do silêncio




Quem me conhece sabe, não sou de silêncios. Ter opinião sobre as coisas que me cercam, é importante para mim. Mais que isso, deixar o silêncio exercer seu poder de permitir que injustiças aconteçam, me parece inaceitável. Como tenho usado a rede para me manifestar e me conectar, ainda que com um número relativamente pequeno de meus bons amigos, me sinto na obrigação de fazê-lo agora para não ser conivente com meu silêncio.

Aos que ainda não tiveram acesso, a onda de xenofobia que tem assolado a rede desde que a nova presidente foi eleita no último domingo é vergonhosa. Os reacionários (que fique claro obviamente não engloba todos os sulistas ou serristas) andam culpando o Nordeste pela derrota de sua ideologia. Aqueles que também repudiam estas atitudes precisam se manifestar publicamente com seus pares. Quero pontuar que Dilma ganhou no Nordeste sim ( o que já era esperado, uma vez que no governo atual houve um olhar para esta região), perdeu em São Paulo (por diferença muito menor do que se viu em estados do Nordeste), mas ganhou no Rio de Janeiro e, para surpresa de alguns, em Minas Gerais (ah, estão culpando também Aécio pela derrota).

É bem verdade que nós nordestinos sabemos que esta é mais uma onda de xenofobia como muitas outras que já ocorreram. Quantos de nós, morando ou de passagem pelo sul/sudeste, não tivemos que responder (ou não) a piadinhas com  “baianada”, “oh, paraíba!”, “cabeça chata”, e por aí vai. Nada de disso nos detém, portanto não vai ser agora que vamos nos calar e nos sentir menores. A falácia do Brasil dividido tem mais uma vez que ser rechaçada, principalmente por nós que convivemos com quem tem opiniões contrárias. Disseminar o racismo e o separatismo é também uma forma de violência.  

Agora os autores têm nome e sobrenome, quem sabe facilmente encontrados, e portanto também alvo de processos no Ministério Público e na Polícia Federal. Quem sabe assim, com ações reais, fora do campo das idéias, se consiga manter nossa sociedade afastada do facismo que tem chegado travestido nas mais diferentes vestes?

Com a esperança de poder voltar a falar em temas mais amenos, reproduzo parte de texto do Diego Casaes, já reproduzido em outros meios:

... O fato de que o Nordeste sempre foi a região menos favorecida do país é algo bem conhecido. A região tem os piores índices de desenvolvimento do Brasil, os investimentos do governo sempre foram menores (com uma mudança clara no governo Lula) e, colocando em termos bem claros, ninguém nunca deu a mínima para as famílias que morriam de fome por aqui durante muito tempo.

O Nordeste sempre foi negligenciado pelo Brasil, e quando havia formas de colocar isso pra fora, externalizar a situação, a oportunidade era amputada, seja pela sensação de mais uma novela, ou mesmo pelo caráter cretino da mídia de massa desse país. Precisava (e ainda precisa) que venha um gringo –ou alguém que trabalha sob um olhar estrangeiro– pra gente enxergar as coisas de uma nova forma (leia esse texto da Al Jazeera tradução aqui), e ver que há mudanças, que há vozes ali a serem escutadas e vidas humanas a serem preservadas.

Um pouco de minha insatisfação se deve ao fato de eu saber que há maneiras bastante eficazes de disseminar discursos que se oponham ao ódio na rede. Movimentos coletivos e com propósitos bem definidos e articulados de sensibilização podem atingir uma repercussão muito grande. Óbvio que isso não vai mudar o (mal) caráter dos racistas e preconceituosos, mas vai mostrar pra aquele que tá no meio do fogo cruzado que histórias sempre têm mais de um lado...

...O que eu vejo que pode acontecer aqui no Brasil, é algo parecido com o que o pessoal da Libéria fez, com suas devidas dimensões e considerações é claro.

CeaseFire Liberia uniu a diáspora do país com os que ficaram/retornaram à Libéria quando a guerra civil acabou, e estabeleceu diálogos para mudanças positivas. Minha comparação tem um objetivo claro: falar pra essa galera do Nordeste que mora no sul do país que tome uma ação e divulgue o que há de bom por aqui, e que somos pessoas comuns e capazes, como qualquer outro indivíduo.

Aos meus amigos do Sul, o dever de vocês é partilhar dessa empreitada, e mostrar que esse pensamento mesquinho não representa a sociedade sulista. Digo que isso é um dever, pois é obrigação de cada povo, de cada pessoa, defender a verdade. No dia que a gente fizer isso e deixar de ser conivente com as situações de desconforto, esse país vai mudar pra melhor de forma significativa...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

MULHERES NO PODER!



Uma mudança na rotina do blog para pontuar o momento político em que vivemos. Como multimulher não posso deixar de destacar as eleições para Presidente da Republica do Brasil. Seja você de que tendência política for, há de reconhecer que uma mulher na presidência pela primeira vez é uma total mudança de paradigma; ponto para o nosso “Clube da Luluzinha”.

Os números são muito claros – a ultima vez que uma mulher esboçou comando no Brasil foi no século IX, quando a Princesa Isabel substitui seu pai por curto período; o Brasil ocupa o 111° lugar no mundo em representação política feminina; apenas 11% das diretorias das empresas brasileiras são comandadas por mulheres. O avanço é lento, mas é visível. E tem que mudar, afinal cerca de 21% dos lares brasileiros hoje são comandados por mulheres, e as duas maiores economias da América do Sul agora serão chefiadas por mulheres.

Como mulher, negra e de origem proletária, não tenho como passar ao largo desta onda de novo ânimo, de pensar a sociedade brasileira num caminho mais igualitário, onde as questões de gênero sejam mais atentadas.

Independente do voto de cada um de nós no ultimo domingo, há que se reconhecer ainda que a mulher que foi eleita conseguiu reproduzir na vida pública o que nós (multimulheres) fazemos todos os dias – se reinventou – de jovem atuante, presa política e torturada a burocrata firme e exigente, de simples desconhecida a eleita sem nunca antes ter concorrido. Lembre-se nesta jornada de reinvenção a luta contra um linfoma, que tudo teve haver com a transformação de visual (bem ao estilo multimulher).

Não posso concluir sem depositar esperanças de melhora, desejar a melhor sorte possível; o que der certo vai ser obviamente bom para todos nós. Que a presidente eleita consiga provar não ser apenas uma entidade forjada pelo governo anterior e possa dar passos firmes com suas próprias pernas. Mulheres no poder!