sábado, 30 de outubro de 2010

Coragem de mãe (Mais uma da multimulher)




Livro publicado em 2009, transformou-se num sucesso de venda estrondoso, mas só agora tomei conhecimento, e fiquei muito consternada. Este título “Coragem de Mãe”, já há muito conhecido da famosa peça teatral alemã, estava sempre me remetendo a uma outra história. Diferentemente da “Mãe Coragem” de Bertold Brecht, esta não era nada alheia à realidade ao seu redor e operou uma revolução dentro de si com a possibilidade de perda dos filhos.

Sinopse: Coragem de Mãe conta a história verdadeira de Marie-Laure Picat, que com apenas 36 anos foi diagnosticada com um câncer terminal. Mãe divorciada de quatro filhos e com um histórico familiar conturbado, embarcou numa missão para manter sua família unida após sua morte. Contra todas as expectativas, Marie-Laure viveu mais um ano, comemorou os aniversários dos filhos, conheceu o presidente da nação, foi entrevistada pelos jornais mais importantes do país e cumpriu a sua missão. Apesar de suas origens simples, deixou um legado surpeendente para seus filhos e para a França. A história começa em julho de 2008, quando Marie descobriu que tinha um tumor de fígado e que lhe restava pouco tempo de vida. Os médicos lhe disseram que provavelmente não sobreviveria até o Ano-novo e imediatamente o destino de seus quatro filhos entrou em cena. O que aconteceria com eles? Decidida a cumprir seu papel de mãe até o fim, a única meta de Picat era protegê-los e garantir que fossem criados juntos na pequena cidade de Loiret Puiseaux, com o mínimo de mudanças em sua rotina. Mas de acordo com o sistema social francês, não havia garantias de que Julie, Thibault, Matthieu e Margot seriam criados juntos, nem de que viveriam no mesmo lugar onde cresceram. Revoltada com o absurdo da situação, Marie-Laure foi a público. Da noite para o dia, ela se tornou uma celebridade na França. Centenas de pessoas lhe enviaram cartas de solidariedade e, o melhor de tudo: encontrou a menos de um quilômetro de sua casa uma família perfeita para seus filhos. Em parte uma carta de amor, em parte o testemunho de uma vida de muita superação, Coragem de Mãe narra uma história de vida onde a convicção e a força de espírito vencem qualquer adversidade. “Escrevi este livro para meus filhos, para que saibam quem eu sou, e também para que exista uma lei que ampare as pessoas na mesma situação que eu. Não é porque estamos doentes que está tudo acabado.” – Marie-Laure Picat.

Muito se fala sobre a imensidão e a incondicionalidade do amor materno. Pessoalmente, como certamente a grande maioria de nós, experimento essa força avassaladora que me tomou de assalto quando minha primeira filha nasceu e que se multiplicou com a chegada da segunda. É um sentimento, que como alguns costumam dizer, chega a doer, de tão intenso. Algo assim dá muita coragem, e são inúmeros os exemplos de atitudes de mãe que chegaram aos extremos da generosidade e abnegação.

Toda a energia maternal é elevada a potencia máxima quando o bem-estar dos filhos está em jogo, e se faz qualquer coisa para cercá-los de cuidado, aconchego, proteção. O desprendimento materno é capaz de mobilizar muita força dentro de nós, a tal conhecida leoa, feroz, sagaz e incansável.  É às vezes também irracional, incontrolável e exagerado. A arte aqui é saber dosar estas porções e conseguir um equilíbrio. Não é fácil, mas é muito intuitivo, e seguir os instintos pode fazer a diferença na hora que os filhos estão expostos a algum perigo. É claro que o livro é um testemunho para os filhos, além de uma forma objetiva de promover o sustento financeiro deles, mas o seu legado de canalizar esse tsunami de emoções nas situações mais críticas de maneira objetiva, driblando todo e qualquer obstáculo, serve a todos nós.





sábado, 23 de outubro de 2010

RITOS DE PASSAGEM

Ritos de passagem são celebrações que marcam mudanças de status de uma pessoa no seio de sua comunidade. Talvez hoje estas celebrações estejam meio desvalorizadas, mas muitas famílias e grupos ainda mantêm as tradições. Celebrar um marco na vida do indivíduo tem uma importância muitas vezes subestimada, principalmente no que se refere à elevação da auto-estima. É importante também para unir e reunir determinado grupo de pessoas, que vão estar com as energias voltadas para o mesmo intuito num dado momento. Além disso, os ritos de passagem exercem papel destacado na formação dos jovens.

Os ritos mais comumente conhecidos são os religiosos. Mesmo aqueles que não são religiosos praticantes têm sua vida freqüentemente pautada por eles. Na religião católica, a titulo de exemplificação, o Batismo e o Casamento são ritos bastante difundidos. Famílias inteiras se voltam para a realização destes sacramentos que repercutem novos enlaces. Para os judeus o Bar-mitzvah representa com muita seriedade a passagem do menino para o mundo dos homens. Esses exemplos de celebração são muito apropriados do que os ritos de passagem podem representar na formação dos indivíduos. Não deixa de ser uma forma de inserção, de se saber pertencer àquele meio. Na comunidade em que ele vive aquilo é a incorporação de valores como tradição, hierarquia, aprendizado e amadurecimento.

Uma questão a ser levantada, até por ser oportuno quando se fala de tradição, é que nas sociedades modernas estes ritos religiosos vêm sendo encarados mais como uma festa do que como uma cerimônia. O risco aqui é se perder o verdadeiro sentido do momento, que é muito mais de reflexão do que festivo. Obviamente não há que se condenar o lado festivo, afinal nós baianos sabemos como ninguém unir sagrado e profano. O lado festivo também se presta aos citados propósitos de comunhão entre os pares, porém é preciso manter em mente a razão de ser daquela celebração. Poderia aqui citar o Batismo católico, em que os pais estão trazendo seus filhos para receber a graça de ter Jesus no coração e prepará-lo para os outros sacramentos, e estão designando os padrinhos para o papel de guiar os afilhados, tendo a comunidade como testemunha. O outro lado é quando nada além do megaevento é pensado.

Os ritos tidos como sociais variam de um lugar para outro, e estes são muito festivos, mesmo porque não carregam um cunho religioso. Apesar disto, não deixam de ser altamente reflexivos. Em nosso meio são comuns as comemorações especiais de alguns aniversários, de pessoas ou instituições, como fazer Quarenta anos ou Bodas de Prata. É claramente uma festa, afinal ter chegado até ali enseja muitas lutas e glórias, mas é nitidamente uma reflexão. “Quem enta não sai mais (a não ser que chegue aos cem)” *, e daí a repensar um monte de coisas é um caminho natural. O que dizer das Bodas de casamento?, manter uma relação duradoura pode ter muita festa se a gente trabalhar para isso, mas é também um mar de reflexões. Não existe representação mais fiel do amadurecimento e aprendizado, enquanto é também retrato das nossas tradições.


Cumprindo seu papel nas diversas civilizações, os ritos de passagem ainda resistem e são reinventados, atravessam o tempo marcando as famílias e portanto são fundamentais.    Como no dia de hoje, em que nos unimos com os pensamentos voltados para Ana Beatriz e Leonardo, ratificando o quanto mobilizam a todos, o quanto são importantes e todos os sentimentos positivos que despertam. Refletir e festejar é a mensagem. 

sábado, 16 de outubro de 2010

REFÉNS DA MIDIA?




Meu amigo Luiz Claudio fará mais uma edição do seu Curso de Análise Crítica de Artigos Científicos.  Quero muito assistir, pois considero fundamental ver o que há por trás das informações produzidas, sua validade, em que cenário foi gerada, até para poder tomar como verdade ou não. O uso das análises estatísticas e a forma como as perguntas são feitas podem transformar qualquer resultado nas ditas verdades. Esta mesma preocupação com as descobertas científicas extrapolo para as notícias do cotidiano.

Todos percebem o quanto de notícias nos chegam a todos os momentos, ainda mais nestes tempos de eleições, por todos os meios; televisão, rádio, imprensa escrita e internet. Com freqüência nos vemos confrontados com manchetes que mudam o rumo da vida de pessoas, fazem desabar cotação de ações em bolsas de valores, fecham as portas de negócios antes prósperos, desfazem famílias. Não há como se proteger de determinadas notícias, elas simplesmente se espalham numa rapidez impressionante, sem sequer ser conhecida sua fonte. Quando se trata de uma informação verídica, tudo bem, mas e quando o caso é de uma invencionice (ingênua ou proposital)? De repente aquilo se transforma num fato (os chamados factóides).

Talvez aqui se faça necessário um parêntese sobre o tipo de fonte. As notícias instantâneas na internet e Twiter devem ser recebidas com muito mais cuidado a meu ver, já que quem posta preocupa-se justamente em fazê-lo com rapidez. Quando se chega a uma mídia impressa ou um telejornal a apuração dos fatos geralmente é maior. Infelizmente apenas isto não basta, uma vez que boa parte dos meios de comunicação trabalha sob o jugo de determinados interesses, os quais cerceiam a possibilidade de isenção absoluta. Aliás, esta isenção e imparcialidade que seriam desejáveis na mídia em geral, é algo que deve ser sempre questionado ao receber uma notícia. A quais interesses aquele meio responde? Tem mesmo um histórico de credibilidade? E outras notícias veiculadas antes, costumam ser desmentidas? O direito à notícia deve sempre ser garantido, mas é preciso ter em mente que a divulgação errônea acontece com freqüência.

O tipo de consumidor de notícia também varia. Há pessoas que acreditam em tudo que lêem, não fazem nenhum tipo de crítica ao conteúdo, ainda que o divulgado seja totalmente descabido. Estas pessoas acabam por repercutir ainda mais toda espécie de inverdade. Outro tipo de leitor, mais cauteloso, procura se informar melhor sobre os assuntos, ficam atentos às inconsistências das notícias e à origem das mesmas. É saudável questionar, vale à pena buscar informações, na tentativa de se situar mesmo. Hoje em dia, com tantas maneiras de se interar, não se concebe que o cidadão seja um inocente útil somando ao soldo de uma massa de manobra. Isto me faz lembrar a polêmica gerada há alguns anos quando certo jornalista designou seus expectadores de Homer Simpson. O autor justificou-se dizendo que a figura do desenho animado representava para ele o trabalhador comum que chega em casa após uma longa jornada de trabalho e consome aquela notícia do telejornal à procura do que é relevante. Outras interpretações da designação chamaram atenção por Homer também representar o tal inocente útil, sem capacidade intelectual de questionar o que assiste e que digere de forma fácil qualquer informação passada.

Para responder à pergunta que intitula este texto, recorro ao que escreveu o Professor Silas Correia Leite numa matéria sobre educação chamada “Porque estudamos”. Uma das razões é para termos opinião própria, sermos esclarecidos e politizados, com consciência do que eventualmente nos dopa a mídia atrelada, um meio nem tanto ético quanto deveria. Portanto ser refém da mídia é uma questão de escolha; escolher raciocinar ao invés de preferir o mais palatável, escolher ouvir sempre outras versões para fazer um juízo de valor, escolher ser cidadão consciente, mais que isso, escolher ter liberdade.

sábado, 9 de outubro de 2010

UNIDOS PELA SEPARAÇÃO



Estava assistindo a TV e falaram sobre o caso da menina Joana. Nem consegui terminar de assistir. Aquilo me consternou tanto, a forma como os fatos se desenrolaram, todo o sofrimento da criança com a separação dos pais, até os eventos ainda obscuros que cercaram sua morte. Não quero e nem tenho informações apropriadas para discorrer sobre o caso em si, até porque a mídia pinta tudo com as tintas que lhe convém, mas me ocorreu que serve de exemplo para todos os casais (afinal a possibilidade de separação existe para todos).

Para se separar um casal precisa estar unido. A frase parece no mínimo deslocada? Não, mesmo! E mais ainda o casal com filhos. É impressionante como aquelas duas pessoas que um dia compartilharam a alegria de serem pais e passaram a zelar pela integridade física e emocional dos seus filhos, simplesmente passem a priorizar toda a raiva e ressentimento envolvido num litígio. A disputa, em todos os campos, torna-se mais importante. Não estou insinuando que a separação seja algo fácil, que todo o turbilhão de sentimentos seja tranquilamente digerido. Apenas estou tentando jogar um pouco de luz na questão que de fato é essencial – a família. Se o lar se desfez, ainda existem as pessoas que tomaram parte nele, e as crianças, como nossa responsabilidade, precisam ser preservadas. Falo de união nesta hora porque o bem estar das crianças é o mínimo que vai restar em comum, e portanto precisa ser cultivado pelos dois lados.

Um texto da psicóloga e psicoterapeuta Evelyn Pryzant fala justamente sobre a separação do ponto de vista emocional da criança. Ela pontua que se para o adulto já é complicado entender toda aquela situação, para a criança é algo ainda mais imbricado, de forma que os pais precisam repensar seus valores, pesar as conseqüências de seus atos e saber se naquele momento será possível lidar com suas emoções de forma menos destrutiva. Ela usa a expressão “fazer pingue-pongue” da vida das crianças – é isso que com freqüência se vê. Os filhos passam a ser instrumentos de barganha na hora do desenlace, e o sofrimento é inevitável.

A maneira como as crianças recebem a notícia da separação dos pais depende muito de como lhes foi contado. O ideal é que ambos conversem com a criança ao mesmo tempo, mostrando que acima de tudo continuam sendo pai e mãe. É bem diferente se cada um conta ao filho da maneira que lhe parece mais conveniente, com uma versão muito própria dos fatos, e depreciando o parceiro (por mais magoado que se esteja com a outra parte, é preciso ter em foco a criança). O momento da notícia provavelmente não é o mais difícil; a maioria das crianças inicialmente parece encarar bem, mas há que se ficar muito atento, pois a maioria experimenta queda no rendimento escolar, apatia, tristeza e até somatisa de várias formas, sendo fundamental deixar claro que o fim do casamento não é o fim da família, que se trata de um problema entre os adultos, pelo qual os filhos não têm culpa. Conversar com as crianças sobre como a rotina deles vai ficar também é muito importante, não se esquecendo de ouvi-las e saber quais são suas vontades, expectativas e temores. Lembre-se: você é o adulto da relação!

Em seu livro “Filhos do Divórcio”, a psicóloga e pesquisadora Judith Wallerstein, fala destas questões. Ela acompanhou filhos de casais separados durante anos, avaliando o efeito a longo prazo da separação dos pais.  Tem razão quando diz que "quando os pais decidem pela separação após pensar bem e considerar cuidadosamente as alternativas, quando previram as conseqüências psicológicas, sociais e econômicas para todos os envolvidos, quando acertaram manter um bom relacionamento entre pais e filhos, então é provável que as crianças não venham a sofrer interferência no desenvolvimento ou desgaste psicológico duradouro”. A autora gera polêmica quando conclui que a separação é muito ruim para os filhos, que ser um filho de um casal que se separou é um problema que nunca cessa, e que casais que vivem uma situação conjugal meio morna deveriam seriamente considerar a possibilidade de continuar junto pelo bem das crianças. Não iria tão longe, mas acho que sua assertiva se presta a fazer pensar justo na união que quero destacar. É óbvio que se é para continuar junto em pé de guerra a vida de todos sofrerá um contínuo declínio, mas ter o reflexo na vida dos filhos como fiel da balança na hora de tomar as decisões é dever dos pais.

Então, nestes tempos frenéticos, com tudo acontecendo muito rápido, todo mundo correndo atrás de todos os sonhos que se tornaram possíveis (antigamente o horizonte das pessoas era mais curto), em que manter um relacionamento exige muita vontade, me parece importante manter a serenidade, o respeito, e porque não dizer, o amor (se não mais entre os cônjuges, ao menos entre pais e filhos). 

sábado, 2 de outubro de 2010

CLUBE DA LULUZINHA ( do diário da multimulher)

Nos últimos dias tenho lido muito material feminino (sem estereótipos). Lembrei de minha amiga Lulys que andou uma época martelando que eu precisava de um tempo só com as amigas. É muito bom, é cada papo... homens na berlinda quase sempre, trabalho, filhos, etc. A verdade é que dificilmente sobra tempo em meio a todo o corre-corre em que vivemos. Meus amigos do sexo masculino também não conseguem manter o dia do “baba” por muito tempo, logo chegam as crianças e os afazeres domésticos também os consomem. De todo jeito ela tem razão, é preciso arranjar uma forma de manter essa chama acesa e valorizar o que temos em comum simplesmente por sermos do mesmo gênero.

Do mundo feminino me volto às feministas (também sem estereótipos), afinal não pode haver um clube da Luluzinha que se preze sem erguer um brinde às mulheres unidas que jamais serão vencidas. Está lá na Wikipédia: feminismo é um discurso intelectual, filosófico e político que tem como meta direitos equânimes e uma vivência humana liberta de padrões opressores baseados em normas de gênero. Envolve diversos movimentos, teorias e filosofias advogando pela igualdade para homens e mulheres e a campanha pelos direitos das mulheres e seus interesses. Com base neste conceito se dizer feminista ainda enseja muitas lutas, e por mais que não se queira radicalizar, há sempre que se estar atento para o lugar que ocupamos nos nossos ambientes familiares e de trabalho. Os homens também precisam ter suas preocupações digamos feministas, afinal a harmonia filosófica do casal é que vai levar ao equilíbrio no real.

Ao longo de décadas tantos desejos e reivindicações ainda não foram atendidos. Desde Simone de Beauvoir até as operárias norte-americanas que morreram carbonizadas durante repressão a uma manifestação por melhores condições de trabalho nos anos 50, a crença de que é através do trabalho que diminuímos a distancia entre homens e mulheres se estabeleceu. Concentrar-se no mercado de trabalho fez a maioria de nós travarmos uma luta interna e carregar eterna culpa por não ter mais tanto tempo dedicado à família. Se levarmos em consideração que continuam os baixos salários em relação aos homens na mesma posição, imaginamos ser esta uma luta inglória. A dupla jornada de trabalho também nos acompanha.

Mas há também uma série de conquistas; o direito de voto feminino, que só existe há 76 anos (e no início eram só as mulheres casadas, com autorização dos maridos), é bastante oportuno de ser lembrado. Às vésperas das eleições de 03 de Outubro, o cenário é animador, com tantas mulheres candidatas, inclusive com primeira mulher chegando a Presidência da República (a não ser que aconteça uma hecatombe como diria Daniel no seu comoqueriamosdemonstrar). Já somos maior número de mulheres nas universidades do que os homens (as estatísticas mostram que há mais doutoras do que doutores). Esta semana também trouxe o 28 de setembro, dia pela descriminalização do aborto na América e Caribe. Não é mais possível se por à margem deste assunto, há que se discutir, pois o velho discurso esbarra na triste realidade de diversas mulheres pobres morrendo por fazer uso de métodos perigosos para tal. Há que se pensar em questões biológicas, religiosas (mesmo se considerando um Estado laico) e sociais, pensar no quanto o aborto também configura uma violência e em que medida é usado como método anticoncepcional.  Aqui entra o direito sobre o próprio corpo que está sobre a tutela do Estado, a partir do momento que é ele quem decide se o aborto é crime e quem pode, ou não, fazê-lo. Não posso esquecer-me da lei Maria da Penha, que veio para coibir a violência doméstica contra a mulher e muda a forma como este tipo de crime era encarado – deixa de ser considerado pouco ofensivo, do tipo que se podia sanar com uma cesta básica, para ser um crime punido pela legislação penal.

Tudo isso para fechar um ciclo e dizer que sou, e todas nós podemos ser, feminina e feminista. Não são de forma alguma posições excludentes. Quero poder ser mulherzinha, fazer charminho à vontade, que meu amor abra a porta do carro, mas também quero dividir as tarefas de casa, ser ouvida, ter poder de veto. Quero ser uma leoa no trabalho e ser valorizada pela minha competência, mas também quero tempo para ficar cheirosinha. Quero ganhar o mundo lá fora, mas quero ter disponibilidade para lamber minhas crias. Enfim, quero tudo, como convém a um típico exemplar de multimulher.