segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

POR TRÁS DO BRINQUEDO

      Brinquedo com cara inocente e na embalagem a faixa etária adequada. É o suficiente para  levar para casa. Engano!

          A faixa etária é em princípio norteada por critérios do INMETRO de acordo com critérios de segurança. Para as crianças menores isso é ótimo e bem rigoroso. Muito importante comprar brinquedos certificados pois os testes são reconhecidamente bem elaborados e empregados. Os riscos à saúde de crianças pequenas utilizando brinquedos com pequenas peças, por exemplo é enorme. A escolha pelo brinquedo apropriado não se encerra aqui.

         Outro aspecto na avaliação dos brinquedos apropriados para determinada faixa etária é o psicopedagógico. Por este ângulo se avalia as capacidades motoras e psicológicas que as crianças desenvolvem na infância. Os especialistas apontam, em linhas gerais, que até os três anos as crianças devam experimentar brinquedos que favoreçam o movimento e a descoberta de sensações; dos três aos cinco anos brinquedos lúdicos que estimulem o faz-de-conta; de cinco a sete anos os jogos de raciocínio e brincadeiras em grupo, e a partir dos sete brincadeiras que aumentem o desafio. Essas são considerações bem embasadas e por isso valiosas. Infelizmente ainda não deixa pais e educadores seguros com as classificações etárias dadas aos brinquedos no Brasil.

Como tudo quando se fala de filhos, é preciso estar atento. Todo brinquedo que chega às mãos das crianças deve ser partilhado com ela, sobretudo para interagirmos, mas também para conhercermos o que estará ao acesso da criança e fazermos nosso próprio juízo de valor. Recentemente minha filha ganhou no aniversário de oito anos o jogo da Estrela “Fala Sério”, baseado na obra homônima da escritora Thalita Rebouças. Na caixa, em letras garrafais – A PARTIR DOS 7ANOS. Tenho certeza do carinho e atenção de nossos amigos ao presentar, tendo se baseado na indicação da caixa, que em tese leva mesmo em conta indicações do INMETRO sobre segurança e indicações pedagógicas sobre a importância de jogos de raciocínio e em grupo para a faixa etária. A distorção foi vista apenas na hora de abrir o tabuleiro e distribuir as cartas, o que por sorte foi feito junto com a criançada.

“Fala sério” é sabidamente uma série juvenil, versando sobre o universo adolescente com muita propriedade. Deixo aqui todas as minhas congratulações à autora que dialoga como poucos com essa faixa de idade. Contudo, sem medo algum de parecer retrógrada ou pudica, e até mesmo ingênua, quando começamos a brincar percebi que nem de longe se tratava do tipo de estímulo e raciocínio adequado a minha filha. Em meio a questões até aparentemente inocentes, como “Você cai de cara no chão na frente dos meninos na aula de educação física. O que você faz?”, surge uma “Tem pouco tempo que você está namorando e sua mãe chama seu atual namorado pelo nome do ex. Oque você faz?”. Não vejo como uma pergunta desse tipo possa estar adequado a meninas de sete anos.

Por mais que o mundo gire velozmente, que as pessoas evoluam e as crianças já não tenham o perfil das crianças de outras épocas, tudo tem limite. E esse limite, definitivamente tem que ser imposto pelos pais. Não INMETRO que consiga saber mais do que você que tipo de pessoa deseja criar. Uma das nossas funções como pais e educadores é ajudar a criança a lidar com sua sexualidade, proporcionando oportunidades para falarem sobre suas inquietações, mas tudo a seu tempo. A sexualização precoce além de atropelar a infância, pode ter efeitos deletérios sobre a formação das crianças.

Infelizmente não é possível apontar apenas um jogo como algoz nessa situação. Estão aí certos programas de televisão, revistas e músicas que perpetuam essa prática em nossa sociedade. Assim como a sexualidade, outras áreas do cotidiano que precisam de um cuidado para o contato com as crianças, como a violência, também são frequentemente negligenciadas nos diversos jogos e brinquedos aos quais nossos filhos têm acesso, mas com faixa etária dita adequada. É responsabilidade nossa barrar a velocidade com que estes modelos invadem nossas casas.


Obviamente não se tem controle por absolutamente toda informação que um filho consome, mas intervir no que lhe chega às vistas é possível.  E com equilíbrio vamos tentando acertar nas escolhas.