segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

AQUELA LEMBRANÇA



Algumas feridas demoram a cicatrizar, enquanto está muito sensível não dá nem para tocar no assunto. Com o tempo já se consegue algum tipo de contato com a realidade...

Quero me lembrar de você bem. Quero me lembrar de você firme, do tempo em que  caminhava imprimindo sua marca no mundo. Não quero me pautar pela época em que, por forças alheias à sua vontade, tornou-se uma sombra de si mesmo.

Quero ao invés disso conservar na memória sua enorme gargalhada e as tiradas impagáveis – você está caminhando a passos largos! Super-herói do facão da praia de Itapoã, platéia do samba em cima da mesa, as corridas no seu fusquinha vermelho envenenado, farofada em Atalaia, vida livre nas enseadas de Berlinque, sungão com puã de carangueijo, o homem do rebocador, a roupa branca, sincretismo religioso, frequência certa das festas de largo, folião de todos os carnavais, da Mudança do Garcia, enfim dono da boemia regada a uma boa cachaça ou uma Brahma estupidamente gelada.

Quero ainda conservar na memória o homem vitorioso, dedicado à família, com filhos pequenos ou já criados, do carinho com os netos e como não falar da mulher excepcional que conseguiu manter ao seu lado por mais de quarenta anos; isso sim é para poucos.

Quero também lembrar dos erros que cometeu, pois estes não deixam de ser fonte de aprendizado. Viveu como qualquer outro ser humano, que erra e acerta e assim segue na vida.

Mas guardo sim lembrança destes últimos tempos, nos quais apesar de já não ser aquele de outrora, manteve uma força extrema, marca de toda a vida, a grandeza de acalentar quando precisava ser acalentado, e mostrou que um guerreiro cai de pé, lutando até o último instante. No final fico de novo pequenininha, criança no colo do papai, e só me resta preservar aquela visão mais remota; você um gigante pai-herói e eu simplesmente Mama.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

AQUELE SORRISO

Mais uma da maternidade e de como esta coisa que nos inunda pode servir de porto seguro também para os pais. A vida é sempre assim; uma via de mão dupla. A natureza cria este amor indescritível para proteção para do pequeno indefeso, mas nos surpreendemos com sua capacidade de nos tornar seres melhores, mais completos e de nos servir de alento em todos os momentos de nossas vidas.

Situações de forte tensão surgem na vida a todo momento. Talvez por isso se diga com frequência que não se é feliz, e sim se está feliz. Independente das agruras pelas quais se esteja passando, aquele sorriso que te recepciona em casa te faz esquecer qualquer problema, aquele pulo no seu colo que só falta te derrubar no chão, ou mesmo aquele grito por sua atenção são capazes de lhe dar forças para enfrentar tudo. É o abraço mais sincero e o beijo mais amoroso que se pode ter. 

Mesmo nos momentos de calmaria, chegar em casa significa encontrar descanso e refúgio nos braços de um filho. Até a algazarra é gostosa, as confusões entre irmãos, tudo isso tem um valor imenso e deverá receber sua devida atenção. Este cuidado poderá vir com um exercício muito simples de abrir a porta de sua casa, respirar fundo e deixar os problemas de fora, até porque os pequenos nada têm haver com a "vida louca vida" dos adultos. Aproveitar para curtí-los poderá ser sim desgastante fisicamente dependendo da energia do rebento, contudo será sempre gratificante e acolhedor. Me lembra "Velha Infância", que tanto cantei para Catarina em meu ventre, que ela hoje se emociona quando ouve..."seus olhos, meu clarão, me guiam dentro da escuridão..." 


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

EDUCAR SEM BATER DÁ CERTO!



Já falei sobre este assunto antes http://tenhoalgoacontar.blogspot.com/2010/09/mao-do-estado.html , mas me sinto compelida a voltar a ele. Embora esta seja uma campanha institucionalizada, não encerra apenas a questão da intervenção do Estado em nossos lares; trata-se de uma tentativa de conscientização, da cultura de não violência em todos os aspectos, inclusive na forma de se relacionar com os filhos. Independente de ser ou não a favor deste tipo de interferência, cabe refletir um pouco sobre a mensagem que se passa com a agressão. Minha sensação é de que quando se parte para a pancada já se atingiu um estado de descontrole e já se esgotaram as possibilidades de diálogo. Imagine combinar educação e descontrole. Será que houve de fato uma tentativa de dialogar com a criança? 

Por outro lado noto que questões semânticas são usadas de forma equivocada neste assunto. A maioria das pessoas reza que "dar uma palmada" é bem diferente de de "bater". Seria, se o "dar uma palmada" fosse um ato refletido, sereno, sem o peso da raiva. Confesso que jamais vi uma mãe ou pai que tentasse corrigir o filho com palmada que não estivesse aos gritos que não olhasse a criança com fúria. Decididamente não quero ter um olhar para minhas filhas que não seja de carinho, ainda que emoldurando gestos de repreensão e de impor limites. É um caminho muito longo entre a conversa e um ato extremado, ainda mais quando as crianças são pequenas, ainda aprendendo justamente pela relação com os pais. Mesmo que a tal palmada pareça inocente, a mensagem é de que se vence pela força, que agressão física é coisa natural e que a força bruta é mais importante que expor pontos de vista e mostrar alternativas.  

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

QUALQUER MANEIRA DE AMAR VALE A PENA



Era para se chamar “Meu veterinário e eu”, mas olhei em volta e vi tantos relacionamentos com pessoas de diversas profissões experimentando as mesmas possibilidades, que o pensamento tornou-se mais generalizado. De ser casada com um veterinário de grandes animais que mora na cidade eu entendo (será que tenho que apertar a tecla sap?), e acredite, é preciso jogo de cintura. Em comum estas relações têm a convivência com a distância física – seja o petroleiro, seja o piloto de avião, seja o representante comercial. De qualquer forma nossa história pessoal se embrica totalmente com a profissional, além é claro, de sua atividade ser fator preponderante em seu cotidiano.

Como tudo na vida, as ausências têm um lado bom. Em princípio aproveitava mais; estudava quando a casa estava vazia, punha a conversa com as amigas em dia e deixava a dispensa vazia sem culpa. A saudade sempre presente faz os retornos serem mais prazerosos, não há tempo para brigas e os telefonemas diários de algum lugar distante dão conta de conversas em geral muito leves. Acrescente-se a tudo isso o fato de poder achar que quem manda é você (a maioria das vezes é só uma questão de achar).

O outro lado da história é centralizar as decisões da casa em suas mãos. Se em parte é sinônimo de liberdade, passa também por muita responsabilidade, o que muitas vezes pode se tornar um peso. Até porque existem as questões de ordem prática, o trabalho braçal diário, que é preciso dividir tamanho o desgaste que pode gerar. Infelizmente “não se faz omelete sem quebrar os ovos” e o grude da cria fica mesmo com quem está mais em casa, o que não significa dizer que o esforço de tornar o pouco tempo junto de qualidade não supere este fato. É uma forma de se relacionar distinta do tradicional, que pode guardar momentos de solidão e que requer maturidade para ser levada adiante. Requer ainda um compromisso de estar perto quando fisicamente se está longe.  

Se posso me ousar a uma conclusão, esta é de que o saldo é positivo. Tanto assim que a família gerou frutos e estes crescem saudáveis física e mentalmente. Enfim, ano novo, vida nova! Quase um mantra entoado com frequência nesta época do ano. Traz esperança de novos tempos, mas ter uma raiz firme, uma base, é o que proporciona sonhar mais alto. Tempo de principalmente sentir que algumas coisas antigas que fazem com que tudo valha a pena devem continuar em seu lugar. É nessa construção que trabalhamos duro, meu veterinário e eu, exercitando sempre a passagem de Duna “o amor me move, só por ele eu falo”.