domingo, 18 de agosto de 2013

FALTANDO CONTEÚDO








Impressionante a importância que se dá a certas coisas. Na era das redes sociais então, alguns fatos tomam proporções descabidas. Esta última semana foi palco de um debate escatológico em torno da genitália, mais especificamente dos pelos que a adornam (ou não). Uma questão tão íntima e pessoal passa ao domínio público e suprime tudo ao redor, chegando ao exagero de ser citada como tradução da personalidade feminina.

Modismos chegam em todas as áreas. Na depilação feminina o grito é depilar tudo. Ostentar algum nível a mais de pelos está relacionado a mulheres mais velhas, ultrapassadas. O contrário parece estar relacionado a um ar mais virginal. Mas será possível que até nisso vão meter o bedelho? Tudo tem seguir um padrão? Admirável mundo novo então; todos na linha de montagem. 

Não é de hoje que os pelos pubianos ficam no centro dos holofotes. Nos anos 70 as feministas os cultivavam, juntamente com os pelos das axilas em sinal de maturidade e independência, uma vez que eles surgem na puberdade em sinal justamente de maturidade física e sexual. Trata-se de algo simbólico, emblemático, representado inclusive nas artes – em 1800 o pintor espanhol Francisco de Goya mencionou os pelos pubianos em sua La Maja Desnuda, censurada pela Inquisição, mas foi em 1866 que a Origem do Mundo, do pintor francês Courbet escandalizou o mundo.

De qualquer sorte, é estranho ainda escandalizar, gerar algum nível de polêmica. Parece que a sociedade andou para lugar nenhum. O curioso é que estamos em 2013 e aparentemente mais moralistas do que nunca, a ponto de patrulhar tudo, inclusive a genitália alheia sem o menor pudor. Moralistas com uma falsa moral, absolutamente carentes de conteúdo, e este talvez seja o cerne da questão.

sábado, 10 de agosto de 2013



GRITA, PAI!

Papai acordou gritando. Pensei que era um pesadelo, mas ele disse que não, pelo contrário era um sonho, e agora tinha dado seu grito de libertação. Nada entendi, mas com certeza mamãe entendeu, pois deu-lhe aquele sorriso que só adulto sabe a razão. Continuei por ali para ouvir um pouco mais e tentar descobrir do que papai tanto queria se libertar, e o vi tão feliz que soltei um sonoro grita, pai!

Sobre a tal multimulher já ouvi mamãe falar várias vezes, parece que ela se acha uma, e parece que é legal ser, é tipo uma super-heroína que faz tudo, pensa em tudo e resolve tudo. Quando a professora falou em genética na escola me veio logo o pensamento de que eu também devo ser a tal mulher. Mamãe sempre fala sobre as exigências dessa nova mulher, do quanto os homens precisam correr para está em dia com os novos tempos.

Papai eu vejo sempre dizendo que alcança, mas nunca ouvi ele falar do multihomem. Vai ver não existe nem é genético! Tenho uma vaga explicação para isso; outro dia papai falou “homens são de Marte e mulheres são de Vênus”. Aquilo me assustou num grau! Somos todos extraterrestres? Foi nessa hora que pesquei a dita explicação; homens e mulheres são bem diferentes e entendem o mundo de forma distinta. E ele frisou que os homens, diferente das mulheres, não fazem várias coisas ao mesmo tempo. Eu já tinha percebido isso na escola.

Voltando ao grito do papai e do que ele estava se libertando, a verdade é que as mulheres exigiam muito que os homens mudassem, que fossem pais mais participativos (física e emocionalmente), porém não estavam preparadas para isso. Fiquei meio confusa porque a conversa saiu lá de casa para a sociedade – papai falou que a sociedade ainda não acolhe um homem se envolver nos cuidados dos filhos; para ele me levar ao banheiro no shopping foi uma novela, para tentar trocar minha roupa de balé no vestiário foi outra, para escolher nossas roupas na loja precisou enfrentar a ironia da vendedora. Contou que um amigo, recém-separado, optou por uma coisa chamada guarda compartilhada e a mulher resistiu porque achava que ele sozinho não saberia cuidar dos filhos. Foi quando papai falou de preconceito, que os homens já vinham com carimbo das mulheres, tachados de ausentes ou distantes.

O grito foi porque no sonho papai entendeu (na hora ela falou insight, mas ainda não perguntei o que quer dizer) que aquilo tudo era rótulo e que o amor de pai é diferente de amor de mãe sim, mas é tão incondicional quanto. Daí o grito, de argumentação, de posicionamento, de dizer ao mundo que o novo pai está aí dando a cara pra bater, errando, acertando e aprendendo como todo mundo. Então pulei em seu pescoço e repeti; grita, pai!