domingo, 31 de julho de 2011

TRAGAM A NAVE ESPACIAL



Segunda – feira pela manhã. Dia típico de tensão urbana. Passei o final de semana me divertindo em família, alimentando intensivamente aqueles laços que nos são tão caros. Abro o jornal e a maior parte das manchetes versam sobre a violência na cidade – tentativas de assalto, crimes por encomenda,  homicídios gratuitos ressoam por toda a parte. Penso no quanto nossa cidade está violenta e no quanto a sensação de insegurança nos paralisa e torna reféns. Solução imediata: mudar para outra cidade. Vasculho as estatísticas para escolher um lugar seguro e descubro que os números são amendrontadores em todas as capitais.

 Então procuro as cidades no entorno das capitais, afinal vou precisar trabalhar quando me mudar para lá. Que susto, a violência das grandes cidades se espalha como rastilho de pólvora e o problema da segurança pública também já atinge as cidades vizinhas. Resolvido: esquecerei o trabalho atual, vou me embrenhar no mato, criar uns bichos e viver do que plantar, mas pelo menos me sentirei mais segura. Mais um susto; leio a notícia de uma jovem morta numa pequena cidade do campo, um senhor teve seu sítio invadido de madrugada e outro teve seu gado roubado.

Quando se estuda sobre a violência vê-se que é de causa multifatorial, influenciada pela desigualdade social, falta de perspectivas para os jovens, dificuldades de inserção no mercado de trabalho e crescimento desordenado nas cidades, que atinge todos os lugares e todos os extratos sociais. Há também a percepção consumista do mundo moderno que faz as pessoas transformarem em angústia fortes demandas reprimidas. O grande problema é a sensação de impotência que nos atinge pela dificuldade de encontrar saídas para esta questão crucial, muitas vezes nos vendo distantes dos meios para uma solução. Um dos autores sobre o tema, o sociólogo Orson Camargo, sustenta que a solução para a questão da violência no Brasil envolve os mais diversos setores da sociedade, não só a segurança pública e um judiciário eficiente, mas também demanda com urgência, profundidade e extensão a melhoria do sistema educacional, de saúde, habitacional e de oportunidades de emprego. Requer principalmente uma mudança nas políticas públicas e uma participação maior da sociedade nas discussões e soluções desse problema de abrangência nacional. Num cenário ideal estaríamos todos engajados nesta luta, o que certamente operaria uma mudança a médio/longo prazo por fomentar na sociedade a crença de poder de fato intervir. Enquanto não se atinge o ideal, sigo sonhando uma fuga, mesmo sabendo lá no subconsciente de que não há para onde fugir, que é preciso buscar alternativas aqui e agora, num trabalho de todos, mas a mente viaja...

Então, agora a solução tem que ser radical: vamos para fora do país. Vou dar um olhada no noticiário internacional – ameaças de bomba, seqüestros, crimes da máfia...mas ainda há os recantos escondidos no mundo, países com índice de violência quase zero...uma voz me acorda e me fala: Nem na Noruega! Só mudando de planeta! Então tragam a nave espacial!

domingo, 24 de julho de 2011

A HISTÓRIA SE REPETE




Triste fim de ícones do mundo artístico é coisa comum. Ídolos que se transformam em mito pelas trágicas mortes – Janis Joplin, Curt Cobain, Jimi Hendrix e vários outros. Em comum têm uma vida de excessos que culminam com uma morte anunciada. Para Amy Winehouse não foi diferente. Morta neste sábado 23 de Julho, de causa ainda não esclarecida, ela segue para outro plano com o mesmo furor que viveu seus vinte e sete anos.

Dona de uma voz deliciosa, deixou apenas dois álbuns gravados em estúdio, suficientes para torná-la celebridade internacional. Ganhadora de cinco Grammy, as canções de Amy conseguiam ser maiores que os sucessivos escândalos, o envolvimento com drogas, a bulimia e as constantes aparições embriagada. Influenciada pelo Jazz desde a infância (seus tios tinham uma banda), lançou em seu álbum de estréia, Frank, músicas de própria autoria numa mistura de jazz e blues como há muito não se via. Suas letras com freqüência retratavam uma mente conflituosa e relacionamentos conturbados. O classudo penteado Brigitte Bardot passou a acompanhá-la, um ar retrô inspirava certa nostalgia, mas sua arte seguia incólume como se pôde ver no trabalho seguinte, Back to Black e principalmente na quase autobiográfica Rehab.

Felizmente, apesar de lamentável ver alguém tão jovem partir dessa forma, assim como outras divas, sua arte será sempre bem maior e sobreviverá no imaginário daqueles que apreciam a boa música. É aquela velha história de sair da vida para se tornar uma lenda, contudo, é impossível não se perguntar porque coisas como estas acontecem com tanta freqüência. Do mesmo modo que diversos psicopatas que protagonizam tragédias como o recém acontecido na Noruega, a raiz dos problemas destes artistas parece estar na infância mal cuidada. Lendo um pouco da biografia de grandes ídolos que terminaram assim, ou revendo a história de vida dos tantos atiradores, sempre se reconhece que já davam sinais de que não estavam totalmente adaptados às suas vidas. Será que esse reconhecimento não pode ser seguido por medidas educativas que de fato mudem o rumo destas vidas? É triste, mas não incomum ver pais que dizem não saber mais o que fazer com um filho. Voltando a bater na antiga tecla; é preciso muita atenção na educação dos jovens, participando ativamente do seu cotidiano, estabelecendo uma relação de confiança.

Nesta seara entra ainda o terrível monstro das drogas que destrói famílias inteiras. Vivemos uma época complicada, de forte exposição às drogas lícitas e ilícitas, desde a experimentação até a dependência, mas os especialistas são unânimes em dizer que o assunto tem que ser falado, não adianta esconder embaixo do tapete. E não é apenas no âmbito pessoal que as drogas nos afetam – ela está por trás da crescente violência que nos assola. Mais uma vez, tem tudo haver com educação uma vez que os jovens são os mais vulneráveis neste aspecto.  Que perspectivas os jovens têm hoje? Nossa sociedade está pautada em lógicas muito cruéis de consumo exagerado, padrões de beleza quase inatingíveis e sexualidade exacerbada. Contra isso as armas são o incentivo dos laços familiares fortes, apoio na conquista da autonomia e estabelecimento de regras claras para o comportamento social. Mantendo a discussão viva episódios como esses poderão um dia se tornar escassos.

domingo, 17 de julho de 2011

EU SOU EU, VOCÊ É VOCÊ!



Com esta frase Catarina se posicionou numa situação corriqueira em que discordávamos. Fiquei atônita, na verdade dei uma pirada, afinal ela tem apenas quatro anos. Meu bebê é uma pessoa à parte de mim! Respirei fundo e tentei me recompor dominando a situação – significa que você vai me desobedecer? Ela muito tranquilamente negou e argumentou seu ponto de vista. Permaneci ali parada decidindo entre ter um discurso autoritário ou seguir apostando no diálogo. Enfim chegamos a um denominador comum, selamos a paz com um beijo, e aprendi mais um grãozinho neste longo e árduo caminho que educar.

Todo autor de psicologia infantil que já li até hoje fala sobre a extensão  que a criança nos faz dela;  o bebê que está na fase de amamentação não sabe onde acaba ele mesmo  e começa o seio materno. Mais tarde, por experiência própria, descobri que essa é uma via de mão dupla a partir do momento em que a gente também se projeta nos filhos (para o bem e para o mal). Esta fase simbiótica pode se estender e até tornar-se uma questão patológica. Orientam os especialistas, por conta disto, que se deve paulatinamente trilhar o caminho da autonomia da criança.

O conceito de autonomia entra nessa equação de forma delicada. A maioria dos pais de filhos pequenos não está preparada para ver o filho “andar com suas próprias pernas” e tomar decisões sozinho, mas o tempo se encarrega  de moldar aos poucos esta nova perspectiva. O problema é perder a medida e ter que administrar tais conflitos adiante com os filhos, os quais devem conquistar a autonomia mostrando maturidade e responsabilidade, capacidade de discernir entre certo e errado.

Não digo que seja fácil desatar esses nós e aos poucos ir cortando o cordão umbilical, pois apesar de representar uma vitória no papel de  pais, ver o filho independente traz uma certa sensação de perda. É uma vitória por motivos óbvios; formar um indivíduo coerente, íntegro, capaz de expressar suas opiniões e ser crítico é nosso gol de placa. Por outro lado há uma certa dificuldade de deixar o filho crescer, não estar ao lado para protegê-los nesse mundo doido.  Exercitar esse talvez desapego vai de encontro a nosso mais primordial extinto materno de afagar os filhos em nosso aconchego. Permitir que eles tropecem e aprendam com os próprios erros é única forma de ensinar o valor das coisas, mas é duro.

A questão é que trata-se de algo inevitável e o que resta é estar atento, ser uma referência constante e dar instrumentos para que cresçam da melhor maneira possível.  A cada nova etapa da vida do filho estar junto preparando-o para os novos desafios, não esquecendo de que isso requer determinar limites claros. É comum nos dias de hoje, talvez por conta da escassez de tempo, os pais abrirem um pouco mão de sua coerência em nome de compensar os filhos.  Vale ressaltar que ser permissivo é a pior maneira de responder às demandas dos filhos. Como bem disse a psicóloga Ana Carolina de Araújo, “a liberdade deve ser gradual, dada em passos pequenos. Cabe a você – pai e mãe – gerenciar esses passos”.

domingo, 10 de julho de 2011

ESTÍMULO A AUTO-ESTIMA – ENCONTRANDO O PONTO DE EQUILÍBRIO



Na educação dos filhos estar atento é sempre a receita mais acertada, mas não há como fugir da realidade de que se trata de um percurso cheio de dúvidas. A boa notícia é que pais do mundo inteiro passam por isso e uma boa dose de bom senso é o que melhor norteia. Discutir o assunto também é importante nessa busca, não pela perfeição, mas por dar o melhor de si. Essa discussão ganhou nova munição com a publicação este ano do livro Grito de Guerra da Mãe-Tigre, da americana de origem chinesa Amy Chua, em que descreve seu polêmico método de educar, baseado na tolerância zero e na incansável busca pelo sucesso. Uma boa medida do significado desta postura ela já passa na primeira frase do livro; “o tigre, símbolo vivo da força e do poder, em geral inspira medo e respeito”. Exageros à parte, entre erros e acertos, a autora tem especial restrição ao quanto os ocidentais, sob pena de serem superprotetores, são extremamente preocupados com a autoestima de suas crianças. 

Autoestima é o que a pessoa sente em relação a si mesmo, é o amor-próprio que Freud já teorizava no começo do século passado e apontava como obrigatório em uma existência satisfatória. Este processo é parte do aprendizado da vida e começa quando os filhos ainda são bebês, em que aquele primeiro olhar materno faz com que eles se sintam foco de todo afeto do  mundo. Solidificar esses aspectos é papel dos pais em todas as fases do crescimento; na primeira infância, ainda no desenvolvimento motor, além dos carinhos e cuidados há a necessidade do reconhecimento pelas pequenas vitórias, como comer sozinho e amarrar os sapatos, e de forma semelhante nas fases seguintes. Esta capacidade de o indivíduo se ter em alta conta é um elemento que permeia de forma definitiva o modo como crianças e adolescentes lidam com os desafios e com os potenciais perigos a que são expostos – como avalia a educadora Tania Zagury (autora de títulos como Limites sem Traumas – Construindo Cidadãos), na introdução a drogas e bebidas por exemplo, seria capaz de dizer não, sem medo da aceitação do grupo. Pesquisadores de Harvard concluíram que na evolução da bulimia e da anorexia, a baixa autoestima é um requisito essencial. Conhecer suas qualidades e suas limitações são características importantes para um indivíduo fugir deste tipo de armadilha.

Estimular a autoestima não significa necessariamente superproteção, para tanto é fundamental encontrar o ponto de equilíbrio. Nos Estados Unidos houve um movimento para cultivar a autoestima (inclusive com ações governamentais) que produziu efeitos contrários; caiu-se no exagero em que escolas de todo o país passaram a estimular professores a enaltecer as crianças por qualquer motivo, indiscriminadamente, criando uma geração incapaz de lidar com um “não” e viciada em elogios. Na outra ponta há o reconhecimento merecido por atitudes positivas, que vão além das notas altas, e saber criticar é de suma importância, além de ter sempre em mente que tudo se reflete nos filhos, portanto pais com a autoestima em dia  têm filhos que também apreciam saudavelmente a si mesmos.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, já dizia o ditado antigo. Quando o assunto é educação, o melhor caminho, como afirmado no início, é o do bom senso. A mãe-tigre peca terrivelmente ao menosprezar a importância da autoestima na formação de seres humanos mais seguros e felizes. Ela própria vivenciou esta constatação; no prólogo ela confessa: “Era para ser uma história de como os pais chineses são melhores educadores que os ocidentais. Em vez disso, é sobre um amargo choque de culturas, um fugaz sabor de glória, e sobre como uma menina de treze anos me tornou humilde”.

domingo, 3 de julho de 2011

Aniversariantes de Julho

Julio Cezar
Bel
Luciana
Ana Lísia
MH
Di
Carol
Maria Augusta
Eli
Claudio Weber
Parabéns!

É UMA DELÍCIA!

 Tempo friozinho nos trópicos, ainda que na maior parte do país não se perceba temperaturas tão baixas, já é possível experimentar a preferência por lugares fechados, figurino mais pesado e comidas que aquecem mais. Uma iguaria de origem européia que combina bem com este clima é a delicada fondue.



A fondue surgiu na Suíça, pelo que se tem notícia, por volta do século XVII, por contingências do inverno rigoroso. À época sua preparação era considerada “coisa de homem”, certamente sem imaginar o quanto se sofisticaria e ganharia fama internacional. Significa fundido por sua receita autêntica ser uma mistura de queijos (em geral Ementhal e Gruyère) derretidos e mantidos aquecidos numa panela especial de richaud (variam os tipos; metálicas, esmaltadas ou de barro). Hoje já expandiu-se em variações de carnes e chocolates, até receitas totalmente inusitadas - os utensílios empregados são bem específicos, como os garfinhos e as cumbuquinhas, mas se não tiver tudo pode ir improvisando.


Existem milhares de receitas; vale testar a sua. A tradicional de queijo poderá ser preparado com a fusão de queijos (o importante é possam ser derretidos e adquiram uma consistência cremosa) ou adquirir uma mistura pronta, atualmente disponível em grande parte dos supermercados. Para ajudar na consistência e sabor utiliza-se um pouco de kirsh ou vinho branco seco e noz moscada, além de passar alho na panela por conta da aderência. Os acompanhamentos em geral são os pães, mas se pode usar outras coisas como legumes e hortaliças. Para a fondue de carne mais comumente servida deve-se temperar cubos de filé mignon que serão fritos individualmente espetados nos garfinhos (coloca-se óleo para aquecer na panelinha) e saboreados com diversos molhos (tártaro, quatro queijos, chutney de manga e o que mais vier na imaginação). A fondue de chocolate é a preferida da ala feminina, leva chocolate ao leite com meio amargo, creme de leite e para os que gostam, um pouco de conhaque (o truque é derreter num recipiente à parte em banho-maria ou no microondas), acompanhado de frutas de preferência, bolos e até marshmallows.


A idéia é aproveitar o clima e se deliciar com este prato tão saboroso, seja com seu amor, com amigos ou numa farra em família, acompanhado de um vinhozinho. Ter um momento relaxante que além de uma orgia alimentar, pode ser muito divertido - reza a tradição que quem deixar cair o pedaço de pão na panela de fondue vai oferecer a próxima (ou outra prenda que se queira inventar). A experiência é praticamente um ritual, que guarda muito charme e remete a uma maravilhosa sensação de aconchego.