sábado, 24 de dezembro de 2011

FELIZMENTE AINDA RESTA ESPERANÇA




Com tudo que acontece no mundo diariamente existem momentos em a crença no ser humano fica abalada. A convivência entre as pessoas muitas vezes é conturbada em face a incompreensão e a intolerância. O convívio com os pares na sociedade requer ciência de direitos e deveres, e principalmente dos limites entre eles, de saber até onde vai seu espaço e começa o do outro; mais que isto, capacidade de partilhar o espaço comum. A educação doméstica é ponto central desta questão e é responsabilidade de todos.

No quesito educar um parêntese importante é a questão do exemplo. Mais do que dizer o que fazer, se aprende vendo o que fazer. É bem caracterizado para as crianças, mas mesmos os adultos também possuem a capacidade de seguir bons exemplos. É por conta disto que, felizmente ainda resta esperança. Dia desses estava colocando as compras de supermercado no fundo do carro e ao terminar a senhora levou o carrinho para a área apropriada. Duas outras pessoas que estavam por perto fizeram o mesmo, afinal que coisa irritante é ter que saltar do carro no pátio do supermercado para retirar os carrinhos largados nas vagas!

Assim como essa ação cotidiana, muitas outras vêm a reboque; é um pouco de cortesia no trânsito que  pode evitar um acidente ou uma agressão, é uma gentileza na fila que auxilia o outro de uma maneira inimaginável, é uma palavra educada que abre portas surpreendentes. São atitudes a ter com seus filhos, com a família, com amigos, um vizinho ou um estranho qualquer – são capazes de se multiplicar e formar uma atmosfera de mais harmonia entre as pessoas. Isto reverbera para a sociedade como um todo.

Então vamos lá! Junto com esse clima natalino e de fim de ano, na listinha das resoluções que tal colocar essa coisinha simples de fazer ao outro o que gostaria que fizesse a você e assim, seguindo a lei de ação e reação (olha o poder do exemplo!), viver num mundo mais legal?

domingo, 18 de dezembro de 2011

VAI QUE É TUA, MULTIMULHER!



O mundo corporativo também se rende a essa nova mulher. A mulher já tão falada neste espaço, de múltiplos interesses e portanto entrando em mares nunca dantes navegados.  A tão sonhada igualdade com os homens agora é pensada de outra forma; vencer sim, tanto quanto eles, mas usando ferramentas que são exclusividade feminina, como a intuição e a capacidade de lidar com situações complexas com naturalidade.

O tema foi amplamente discutido na edição de novembro da revista Você S/A, especial para mulheres. Já no editorial se conclama as mulheres a valorizarem justamente estas diferenças entre gêneros. Recente pesquisa da McKinsey (consultoria de gestão) mostra que a defesa da maior inclusão feminina nas esferas estratégicas das organizações é uma decisão inteligente. Cita-se que o desempenho financeiro das empresas que têm mais executivas em seus conselhos é superior ao das empresas com apenas homens. É um movimento sem volta, de uma mudança no modo de pensar dos executivos.

O tópico intuição merece um parêntese. Trata-se da capacidade de relacionar o que é racional com o não verbal. Não significa que os homens não a possuem, é inegável que as mulheres são quem melhor traduzem essa capacidade. Não é uma característica meramente nata, pelo contrário ao longo da vida vai se aprendendo a exercitá-la, podendo-se transformá-la em importante ferramenta de liderança.

Esse cenário favorável no mundo corporativo não chegou de graça, os múltiplos interesses das mulheres precisaram ser compartimentalizados para que ela pudesse trabalhar com foco. Além disso, vem na esteira de uma maior qualificação das mulheres – nos últimos nove anos houve um aumento de 59,1% no número de mulheres com diploma universitário contra um aumento de 47,2% entre os homens, segundo dados do IBGE. Estar preparada para o mercado é fundamental, e para isso é necessário investimento alto de tempo e disposição, e visão mercadológica de suas carreira, que precisam ser bem planejadas e com atenção especial ao network. O fruto de todo o exposto é que as mulheres estão conseguindo fazer mais dinheiro; neste nove anos também a renda das brasileiras subiu 68,2% (Data Popular), estimando-se que em pouco mais de duas décadas a histórica diferença de remuneração entre homens e mulheres  se extinga.

Como destaca a matéria da Você S/A, é a hora e a vez das mulheres, apesar de restar muito trabalho pela frente – ainda existem muitos campos onde a presença de mulheres é tímida. A mensagem é de que o lugar ao sol é algo possível para a mulher de hoje que prova todos os dias o valor de sua competência.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

UM BRINDE AO OTIMISMO



“Ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais.” A letra de Tocando em frente, escrita por Almir Sater representa bem como a vida é; um aprendizado diário. Independente do que se passa com você, se agora está alegre ou triste, uma coisa é certa, de toda experiência se leva uma lição. As pessoas ditas resilientes, e porque não dizer até inteligentes, costumam usar cada vivência, seja tropeço ou vitória, para crescer e ser cada vez melhor. É verdade que as situações negativas muitas vezes marcam mais profundamente neste caminho de aprendizado, mas não precisa ser sempre assim.

Uma nova porta que se abre, trazendo a oportunidade de recomeço que nem sequer havia sido imaginada, pode ser transposta com alegria e esperança, sem aquela sensação de que é bom demais para ser verdade. Porque, ao menos de vez em quando, não pode estar tudo em seu lugar? Inclusive você; no lugar e na hora certos. Porque não acreditar que tudo está conspirando ao seu favor? Otimismo nunca é excessivo, mesmo quando parece que por conta dele a decepção foi maior. Ele ao menos fez com que o caminho até o suposto fim tenha sido prazeroso. É o que dá forças para continuar tentando. Por outro lado, emoções conflituosas, problemas que parecem insolúveis e grandes batalhas sem êxito sempre irão existir. Como já claro, elas também muito ensinam, mas não precisam ser supervalorizadas e manter-nos numa zona de penumbra. Estas situações precisam servir de contraponto com a luz em direção a qual devemos sempre seguir.

Então, sem pressa e com um belo sorriso no rosto, se abra ao novo, de corpo e alma, afinal tudo está bem, mesmo quando nem tudo parece acabar bem. Como sempre é tudo muito relativo e quando finalmente as coisas acomodam se vê o quanto valeu a pena.


ANIVERSARIANTES DO MÊS DE DEZEMBRO




As pequeninas Luma, Alice, Ana Bia, Bruninha, Bia França, Bia Reis e minha Cate
Dr. Humberto
Katharine
Aninha
Kiko
Candice
Kelly
Bruno
Renato
Vagal
Gisele
Nascimento





segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

CUIDADO COM A FONTE



Meio sem tempo de ler, corri o olho em diversas manchetes dos jornais e revistas – tentava ver o que estava acontecendo. Parecia que estava acontecendo uma única coisa no país inteiro, e o pior sempre a mesma versão. Seria verdade aquela monotonia, ou a imprensa brasileira anda mesmo capenga e segue requentando as mesmas notícias. Tudo bem que a um fato de grande importância, se reserve grande repercussão, mas será natural adotarem todos o mesmo ponto de vista, e invariavelmente escolher um bode expiatório sem expressar as versões das histórias? Gostaria de poder ver o outro lado da tal notícia, tentar fundamentos para formar minha própria opinião, mas não é fácil. Me senti qual rebanho que tem que ser empurrado na mesma direção. 

Sorte poder exercer o pensamento e o lado crítico lendo o que aí está com reservas. Fico pensando na imprensa de vários outros países; é claro que tem muita gente amordaçada pelo mundo, mas vamos nos inspirar no que está melhor. Como disse Paulo Henrique Amorim, em sua Conversa Afiada, em nenhuma democracia séria do mundo uma imprensa tendenciosa e sensacionalista tem a importância que tem aqui. Esta situação nada mais é do que fruto da tentativa de concentração do poder. Nossa sociedade está baseada em informação, de forma que o grande jogo de poder se dá na mídia. Justamente esta que deveria exercer seu papel social com equilíbrio.

Quando a imprensa reverbera um notícia sem permitir que o outro lado se manifeste ele impede a sociedade de pensar e obter seu próprio juízo de valor, muitas vezes em questões extremamente relevantes. Muitos episódios como esses poderiam ser citados aqui, contudo não é cada microquestão que abordo. Me refiro à imprensa ser raciocinada como um todo. Ser tendenciosa está longe do que se pode considerar útil à sociedade. Ter imparcialidade é condição precípua para ser livre. A liberdade de imprensa deve ser conservada a todo custo, mas os nossos veículos precisam entender melhor sua responsabilidade. É para denunciar, vamos investigar melhor a questão. É para prestar serviço, vamos focar no que nossa sociedade precisa. É para informar, vamos deixar de lado o partidarismo.

Felizmente há sempre as exceções, e ainda se pode buscar o outro lado das notícias. Cabe a cada um ser de fato equilibrado, procurar conhecer sua fonte de informação e no final das contas formar nossa própria opinião. Dependendo do seus interlocutores pode você também formar a opinião alheia.

domingo, 27 de novembro de 2011

SER UM HOMEM FEMININO NÃO FERE MEU LADO MASCULINO



Há muito se fala nas mudanças trilhadas pelas mulheres na sociedade. Muitas vezes os homens ficam esquecidos, relegados a meros coadjuvantes que acabaram mudando em resposta às ações femininas, até por esta sempre nova mulher também estar passando uma nova maneira de pensar na criação de seus filhos. Meia verdade! A grande maioria talvez esteja sendo arrastada pela corrente, porém é inegável que hoje alguns já tenham consciência de que é preciso ser um outro homem. Ser um homem feminino, já dizia Pepeu, não fere meu lado masculino.

“O homem feminino” é um tipo muito popular nos dias atuais. Esta categoria do gênero masculino nada tem de efeminado, pelo contrário tem seu lado feminino muito bem resolvido, não entrando em crise, por exemplo, se sua mulher é mais bem sucedida profissionalmente e ganha mais que ele e sabendo usar sua masculinidade na situação condizente. Ele sabe que o “machão” está totalmente em desuso – leia-se aqui o autoritário, o que não consegue externar seus sentimentos e acha depreciativo um gesto de carinho. Permitir-se viver com sensibilidade é a chave desta mudança, e o “homem feminino” tem mostrado esta faceta quando passa a ser um pai mais participativo e acompanha a rotina da família. Tem mostrado também quando convive respeitosamente com suas colegas de trabalho, ainda que delas tenha receber ordens. Nesta complexa equação ele ainda precisa reaprender a ser amante, mais delicado e compreensivo, porém sem perder a visão da caçada e um certo tom agressivo. Pode parecer meio confuso, mas são duas faces da mesma moeda. “Ai que endurecer, pero sin perder la ternura.”

Um homem atualizado e atenado com essas questões tem que tomar cuidado para não cair na cilada frequente de querer uma retribuição ou reconhecimento por isso. Se trata de uma viagem sem volta e inevitável; os que ainda não foram vão acabar lá de uma maneira ou de outra, e seu par feminino não necessariamente estará agradecida por isto (provavelmente não estará) já que conquistou espaço social que não comporta a antiga figura do macho-alfa. A naturalidade é o contra-ponto fundamental e o prazer em se relacionar mais harmoniosamente com seu pares é o prêmio. As recompensas chegam como consequência e são boas para os dois lados.

No final a questão requer, como sempre, equilíbrio. Não é tarefa fácil para este novo homem – tem que ser sensível, mas tem que ter “pegada”! Vai encarar?

ANIVERSARIANTES DE NOVEMBRO



FELICIDADES A TODOS A QUALQUER TEMPO!

MARLENE
DENICE
LUANA
GUTO
LUCIANA
BEL
ANA HELENA
ADRIANA
ALEIDE
GUILHERME
JOÃO FELIPE
INA
KIKA
SORAYA
LILY...

domingo, 20 de novembro de 2011

ALÉM DAS PALAVRAS


Existem momentos em que as palavras parecem nos faltar. Na verdade que é nestas horas que elas mais fervilham na mente. Palavras de angústia, de revolta, de negação, mas também de afeto, compaixão, solidariedade e esperança.  Traduzir os sentimentos numa só delas muitas vezes é impossível. E quem precisa de tradução quando tem o poder de aflorar em qualquer canto sem barreira alguma?

Viver momentos difíceis é inerente ao ser humano, e a capacidade de passar por eles é que o define como tal – ter os obstáculos como aprendizado e sair da luta ainda melhor. Não que seja simples ou prazeroso; muito pelo contrário. A dor não tem nada disso, porém é parte da trajetória e de um modo ou de outro acaba fortalecendo. Já que se está diante dela, enfrentá-la com coragem e determinação é a única solução, de maneira construtiva. Isso é a prova de que tudo vai muito além das palavras. Trata-se de um diálogo interior, dos mais ricos e profundos. Faz lembrar o texto de Drummond “O constante diálogo”, que se segue:

“Há tantos diálogos
Diálogo com o ser amado, o semelhante, o diferente, o indiferente, o oposto, o adversário, o surdo-mudo, o processo, o irracional, o vegetal, o mineral, o inominado
Diálogo consigo mesmo, com a noite, os astros, os mortos, as idéias, o sonho, o passado, o mais que futuro
Escolhe teu diálogo e tua palavra ou teu melhor silêncio
Mesmo no silêncio e com o silêncio dialogamos.”

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

EVOLUIU A MULHER, EVOLUIU A MATERNIDADE



Com certeza você já ouviu falar em “Quem ama, educa”. Best seller do psiquiatra Içami Tiba que pregava basicamente que um filho com amor se cria até sozinho, mas para que se eduque é preciso que estes pais amorosos sejam também as figuras a impor limites, dizer sim, mas também saber dizer não. Pois bem, essa obra está sendo revisitada pelo autor, com colaboração/co-autoria de sua filha, a psicóloga Natércia Tiba. A razão para reeditar o livro encontra-se nas mudanças que a nossa sociedade passou. O grande marco desta transformação foi a aquisição de poder pela mulher. Esta nova mulher agora pode controlar a prole e isso vem fazendo diferença na educação dos filhos.

As distinções na educação já começa pelo fato de se ter menos filhos (algumas sociedades, por opção ou não, já vivem o contexto de filhos únicos). Como dizer não a esse único filho? Para os povos latinos há um planejamento em geral de dois filhos. Ainda assim, o filho deixou de figurar naquele maior número que se tinha no passado e tornou-se possível vê-lo com mais individualidade, como certo tipo de riqueza idealizada. Outros aspectos passaram a ser valorizados, dando-se maior ênfase na formação de pessoas éticas, felizes, autônomas e competentes. Natural que surjam conflitos ao encaminhar este “novo filho”; sentimentos de culpa por dividir-se entre trabalho e família – mais uma vez essa mudança se deu na vida da mulher, reverberando na vida de maridos e filhos, que consequentemente também mudaram. Aqui nasceu a multimulher, fruto desta (re)evolução cultural que ainda vem se estabelecendo.

A forma como o livro é dividido leva o leitor “pelas mãos” numa sequencia cadenciada que começa justamente mostrando que para falar sobre educação é preciso entender como a família vive hoje, abrindo-se um capítulo a respeito da relação entre a evolução da mulher e a sua maternidade. Descreve diversos tipos de mulheres e seus correspondentes tipos de mãe, marido e filhos. Não por acaso destaco fragmentos sobre a chamada mulher polivalente. Esta é contemporânea, dona de seu nariz, estudada, competente ... é a mãe polivalente, típica mãe cheia de mãos; a mulher polvo ... apesar de ser uma evolução, ela está longe de se sentir bem e satisfeita consigo e com a vida que leva. É interessada, informada e extremamente crítica, mas muitas vezes ainda se sente culpada por não estar mais presente na vida dos filhos, e também culpada como profissional pois dificilmente está 100% focada e concentrada em seu trabalho ... a mãe polivalente vive um desafio diário, como uma malabarista que precisa manter vários pratos  no ar o tempo todo sem que nenhum caia no chão.

O texto segue com a intenção de traçar o que seriam os novos caminhos da educação, deixando registrado por mãos de estudiosos na área tudo aquilo que essa nova mulher intuitivamente vem incorporando.


domingo, 6 de novembro de 2011

DE BACKYARDIGANS A COCORICÓ



Fim de semana agitado agora está sendo assim, praia bem cedinho por causa do sol, peça infantil no sábado, feira de livros no domingo, fechando com musical infantil. Longe vão os tempos da privacidade do jantarzinho a dois, ficar na cama até tarde, depois um carangueijo e pra fechar um cineminha. A paixão é enorme, mas a mudança que vem com os filhos é maior ainda. Resta aprender a conciliar uma coisa e outra.

Para mães de filhos pequenos esta tal conciliação soa até como desaforo, tendo em vista a multiplicidade de tarefas em que tem que se desdobrar, mas é uma batalha que está aí para ser vencida. Essa mãe quer tanto se dedicar, dar o melhor de si alimentando corpo e alma de sua prole, que quando presta atenção a programação da família está toda voltada para as crianças. Na maior parte do tempo não tem outra solução, afinal o programa “Bebê.exe” se auto executa e tende a ocupar todo o espaço no HD. São de fato muitas demandas de um ser que tem potencial para tudo, necessitando ser encaminhado pelos pais nas mínimas tarefas cotidianas. A figura do pai, não menos empenhado em educar seus filhos, porém mais lúcido diante da histeria típica feminina, pode ter papel fundamental em quebrar um pouco esta rotina. É bem verdade que ele terá que agir com uma sutileza que muitas vezes falta ao gênero, pois uma palavrinha mal colocada “contra” a dedicação exclusiva aos rebentos poderá gerar uma catástrofe. Ainda assim, poderá ser a voz que no sábado à tarde (antes da babá sair de folga, é claro!) convida para uma escapadinha; aguenta esperar as crianças dormirem para abrir um vinhozinho; ou aproveita uma folga no meio da semana para um programinha adulto. Salvo raros momentos, tem que ser iniciativa dele, pois ela provavelmente está afogada na maternidade, seu melhor papel, e para o qual despende até a última gota de energia.

As dificuldades que surgem para os casais com a chegada dos filhos tem várias causas, dizem os especialistas. Vão desde mudanças financeiras pelo aumento das despesas até à diminuição da intimidade pelo tempo dedicado aos pequenos. Em geral são unânimes em dizer que há falha na comunicação, que ao longo do tempo o diálogo entre as partes tende a se esvaziar. Num primeiro momento isto é natural, mas ambos precisam estar atentos para a retomada do seu casamento. O sexo é parte importante nesta equação, muitas vezes negligenciado em função do cansaço e da correria. Mais uma vez entra em cena a comunicação; o casal precisa encontrar uma forma de manter-se conectado de verdade, e transformar o momento em que a família cresceu para fortalecer ainda mais o amor, até porque filhos são a prova viva de que se está cada vez mais unido. Ninguém está dizendo que é fácil, contudo é um exercício diário que parte do reconhecimento da situação. Conflitos vão sempre existir e a solução deles também, desde que estar junto valha a pena, que o casal se ame e se respeite. Os filhos não devem ser culpados por estes conflitos, nem se ver envolvidos nestas disputas, pelo contrário, devem desfrutar de uma convivência saudável entre os pais que só vai ser alcançada se os adultos aprenderem a se dividir entre as suas diversas atribuições.  E depois, os filhos crescem e não se pode perder fases preciosas de suas vidas. Crescendo mais um pouco dará aos pais mais oportunidades de ficarem algum tempo sozinhos. Não precisa pressa, a vida é assim mesmo, só não vale se descuidar um do outro.

Quanto aos Backyardigans e ao cocoricó, divertem adultos e crianças juntos. É um prazer ver brotar o sorriso naquele rostinho e sentir aquele olhar de cumplicidade genuína. São estes momentos que dão a força necessária para correr atrás de nossos sonhos e continuar a manter a chama acesa, afinal uma relação que gerou frutos de tamanha riqueza vale todo empenho.


domingo, 30 de outubro de 2011

UMA PERGUNTA, UMA RESPOSTA?


Existe maneira de se preparar para um adeus? Me refiro àquela despedida para muitos definitiva, mas que dependendo da crença religiosa que se pratique poderá significar um até breve. Me é um tema recorrente, inclusive já esboçado em textos anteriores. Será que é possível entender as questões envolvidas com este momento, manter-se sereno e inevitavelmente aceitar? A psiquiatria costuma introduzir cinco estágios até que se consiga alcançar a aceitação, os quais se iniciam justo pela negação. Então, se há possibilidade de preparação, é natural que ela parta de um certo engasgo pela impotência, até por isso, temo não haver resposta a esta pergunta.

“A morte é para quem fica”, diz o ditado popular. Significa dizer que diante da morte do outro teremos que lidar com os sentimentos muitas vezes conflituosos e com as reflexões que acabam por nos levar a pensar nossa própria morte. A certeza da finitude humana poderá ser mais ou menos dura em virtude do nível de autoconhecimento de cada pessoa, do modo como nos inserimos em nossa sociedade (este ponto fica bastante claro quando se observa o modo com que os orientais entendem a morte e o morrer) e obviamente o tipo de relação que se estabeleceu com a materialidade. Elaborar este momento requer tempo, é um processo gradativo e diferenciado a cada estágio da vida, além de ser influenciado pelas circunstâncias da morte. A Medicina Paliativa é um ramo da medicina que ajuda muito a internalizar questões relativas a esta partida. Embora se dedique fundamentalmente ao paciente tido como terminal, com os quais se pode vivenciar um período de morte eminente, seus patamares se adequam a uma tentativa de preparação pois esta última envolve enormemente os momentos que se viveu com o ente querido, o quanto de energia se investiu naquela relação e até que ponto se pode dizer que nada deixou de ser dito. 

Findo sem resposta, intimamente reconheço-a como negativa, contudo penso que cada um tem suas verdades e vivencia a mesma questão de forma distinta. O que parece ser consenso (se algum senso for possível) é que no final o que resta são as lembranças. As boas lembranças são capazes de apaziguar as dores e são construídas numa convivência plena de afeto, em que se vive cada dia dando o melhor de si, principalmente para aquelas pessoas queridas cuja partida lhe será cara.  Manoel Bandeira escreveu sobre a preparação para a morte; “a vida é um milagre ... e a morte o fim de todos os milagres” – quero crer ser possível reiventar o fim do poema.

domingo, 23 de outubro de 2011

NOSSO DIA ROSA




Em meio às várias atribuições do seu dia-a-dia de multimulher dê uma pausa para propagar o Outubro Rosa. Trata-se de um movimento mundial que começou em 1997 nos Estados Unidos motivado pela necessidade de chamar a atenção da sociedade e dos poderes públicos para o diagnóstico precoce do câncer de mama. Há uma ênfase na questão da disponibilidade da mamografia e o nome remete ao laço rosa, símbolo da campanha, que tem como marca principal a iluminação de monumentos com esta cor – como a Torre de Pisa na Itália, a Opera House na Austrália e o Arco do Triunfo na França. O Brasil passou a fazer parte desta mobilização em 2002, e várias cidades já “vestiram” seus monumentos de rosa, a exemplo do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, Farol da Barra em Salvador e Monumento aos Bandeirantes em São Paulo.

O câncer de mama é o segundo mais frequente no mundo, de acordo com informações do INCA (Instituto do Câncer – RJ), o mais comum entre as mulheres e se diagnosticado precocemente apresenta um prognóstico  relativamente bom. Ainda segundo a entidade, no Brasil a mortalidade pelo câncer de mama permanece alta muito provavelmente pelo diagnóstico em estágios mais avançados. A prevenção primária não é possível dada a variação genética que se dá como fenômeno nas neoplasias, mas como é frequente, cabe o rastreamento, portanto o foco no diagnóstico precoce é vital.

O ponto alto das manifestações é no dia 28 de Outubro, quando, em sinal de conscientização, vamos todas vestir rosa. A campanha une instituições do terceiro setor e poder público, visando não só a citada conscientização, bem como angariar fundos para pesquisa. Há um grande número de eventos nas diversas cidades do país, cuja participação popular é fundamental para produzir o eco necessário para  se aumente a divulgação dos cuidados preventivos, a disponibilidade da mamografia para um maior número de mulheres e dos tratamentos, além de apoio aos portadores. É uma questão de se cuidar - começa no auto-exame, que faz parte das ações educativas, mas que de forma imprescindível  se extende para o atendimento por profissionais de saúde e realização de exames de rotina. É também um convite às mulheres para que separem este dia para si próprias; nosso Dia Rosa.
  

sábado, 15 de outubro de 2011

PROFESSOR, TRANSFORMEI O MUNDO!

Conto n° 3


O primeiro dia do Professor naquela escola foi agitado. Tudo novo para ele e para os alunos. Ele, recém-formado, havia escolhido lecionar contra tudo e contra todos; pensava que a educação era a área mais importante do conhecimento e que nela poderia fazer a diferença. Os alunos desbravavam a entrada no ensino fundamental, onde tudo agora precisava ser levado a sério, distante dos tempos da educação infantil.

Nosso Professor queria mesmo conquistar a turma, e isso não foi fácil. Cada cabecinha daquela vinha de uma história, a maioria de gente pobre, sem muitas possibilidades. Naquele ano letivo aprenderiam a importância do estudo na vida deles. Foi tão intensa sua dedicação àquelas crianças, procurando passar não apenas o que havia na grade curricular, mas principalmente como viver em sociedade e a tornar-se um ser humano íntegro. Era comum vê-los em atividades fora da sala de aula, com grande foco no incentivo às artes, sobretudo a leitura. 

Para um aluno em especial aquilo tudo gerou transformações importantes. Aprendeu com aquele mestre que o mundo era muito maior do que as estreitas ruas de sua cidade natal; descobriu que os livros lhe podiam proporcionar viagens bem ao longe e que era possível tornar sonhos realidade. Ver o crescimento daquela menino foi realmente gratificante, desde o seu interesse pelas disciplinas, passando pela liderança que exercia com seu carisma, até vê-lo ingressar no movimento estudantil. Em um salto o ativismo político surgiu à sua frente e frequentemente se referia em seus discursos às conversas que tivera no passado com aquele Professor. Foi talentoso e atuante como parlamentar até galgar cargos no executivo. Do alto de seu prestígio encampou lutas sociais importantes e passou a ser referência quando se tratava de direitos civis. Tornou-se um cidadão   a quem todos admiravam, um formador de opiniões responsável e cônscio de seu papel na sociedade.

Hoje foram as eleições presidenciais. aquele garoto foi eleito, o que equivale a dizer que se trata de um dos homens mais influentes do mundo. De origem humilde, procedente de um reduto onde a violência imperava e cujo destino parecia estar traçado, encontrou em sua vida instrumentos um indivíduo de raros conhecimento e retidão. Pôde então reescrever um caminho vitorioso e deslanchar todo o seu potencial. 

No final foi a mão daquele professor lá atrás que plantou tão preciosa semente, e aquele garoto poderia tranquilamente dizer: "Professor, transformei o mundo!"



*Inspirado em todos os mestre que "matam um leão por dia" para tocar seu ofício, em especial minha Dinda Julieta que sempre exerceu a profissão de professora com dedicação.

domingo, 9 de outubro de 2011

FELICIDADE ÀS NOSSAS CRIANÇAS

                                          Toda Criança Quer - Palavra Cantada

Datas comemorativas, em que pese o apelo comercial embutido na sua grande parte, são momentos de reflexão. O Dia das Crianças, dia de Nossa Senhora Aparecida, considerada padroeira do Brasil, excelente oportunidade para pensar na construção da  felicidade que se deseja a elas.


No hábito de dar presentes nesta data se encerra o tal apelo comercial, despejando em todos os meios de comunicação centenas de brinquedos de todos os tipos (e não importa que se esteja no reduto dos canais por assinatura). São novidades que encantam até adultos, de forma que os pequenos tornam-se alvos fáceis. Para os adultos resta uma sensação de que são reféns, e muitas vezes com um certo prazer já que as crianças iluminam o olhar quando recebem o tão sonhado presente. Se não é possível trilhar caminhos à margem de costumes tão enraizados em nossa sociedade, pode-se usá-los em favor de um jeito diferente de criar nossas crianças, priorizando o ser em detrimento do ter.

Trata-se de uma tarefa árdua nos tempos de hoje, pois, como diria Saramago, “a humanidade esqueceu-se de ser porque ser dá trabalho, demanda pensamento, dúvida”. Tudo é tão acelerado, com a informação correndo nas ondas da internet e o consumo crescendo de maneira tão voraz. Parar um pouco para estimular habilidades pessoais de caráter cognitivo é como nadar na contra-corrente; ensinar que todos somos iguais, que a beleza vai além do exterior que se vê, que é importante se colocar no lugar do outro, a importância da cooperação e viver a vida com paixão. Não se trata de pregar o eremitismo de total desprendimento, até porque as crianças precisam estar preparadas para o futuro, com conhecimentos e vivências para alcançar seus objetivos. É importante dar acesso às coisas instigantes e interessantes, falar outras línguas, conhecer lugares e refinar o gosto. A questão é manter em primeiro plano valores como amor, respeito, lealdade e amizade. Este tipo de educação, que forja o ser humano íntegro, precisa estar acima da corrida (lícita, diga-se de passagem) para torná-los competitivos na vida.  

Pequenas atitudes já modificam a forma de viver esta época, seja estimulando a doar brinquedos que já não usam, seja ensinando a não ser perdulário, mostrando o valor do dinheiro e orientando a escolha consciente do que consumir. Requer tempo e persistência, requer exemplo, o que atinge cada pai e cada mãe que comunga de desejos de felicidades para suas crianças.  Então, que em mais esse Doze de Outubro se consiga mais que dar os presentes, estar presente. Que estar presente signifique caminhar junto e construir alicerces sólidos para adultos plenos.

domingo, 2 de outubro de 2011

DE VOLTA AO DIÁRIO DA MULTIMULHER



Querido diário,


Estou tentando tirar as fraldas de minha filha. Como convém a uma multimulher, misturo os vários interesses e trago influencias de uma área da vida para a outra, atuando agora como a “mãe baseada em evidências”. 


Primeiro os livros – especialistas dizem que há um melhor momento para se fazer esta mudança. Por volta dos dois anos (é agora!), a criança já adquire autonomia do ponto de vista físico; já anda e poderá ir ao banheiro quando der vontade, já fala e saberá sinalizar quando esta chegar. É nessa faixa etária que, dizem os urologistas, a maturidade fisiológica possibilita que a criança de fato possa segurar um pouco, sinalizar e (tudo na sequencia!) ir ao banheiro. A psicologia infantil diz que essa época é variável entre uma criança e outra (já sei que uma não é igual à outra, não mesmo!), mas que para nós pais uma das manifestações é que a criança se mostra incomodada com a fralda suja (ih, estou achando que ela não está nem aí!). Todas as publicações concordam que a retirada das fraldas é um marco na história da criança, e que a retirada muito precoce ou muito tardia poderá trazer danos psicológicos e orgânicos. Interessante que os estudiosos americanos, acompanhando as tendências daquela sociedade, orientam a retirada das fraldas por volta de um ano de idade (justificativas passam pela competitividade, pela ida a creche, dentre outros), é uma questão de condicionamento. Neste aspecto os livros também versam sobre a ida para a escola, que quando mais cedo ajuda a sair das fraldas mais facilmente. Um ponto a se pensar; alguns autores citam que muitas vezes é a mãe que não está pronta para retirar a fralda, pois esta passagem significa mais uma ruptura dos pequenos rumo à autonomia. Independente disto a saída das fraldas vai acontecer mais cedo ou mais tarde, mas é preciso trabalhar esta questão, de forma individualizada, para que a criança se insira bem no grupo etário, seja na escola ou entre os amigos. De acordo com um estudo publicado no Jornal de Urologia Pediátrica (o americano JPU) o momento ideal para começar o treinamento é entre 24 e 32 meses de idade, e este é mais importante do que a estratégia adotada (desfraldar muito cedo só aumentará o trabalho, já que a criança vai demorar mesmo e fazê-lo muito tarde pode trazer os prejuízos já mencionados). 

Está tudo muito bom, mas mesmo com todas essas informações ainda falta aquele passo a passo, afinal na hora de por tudo em prática é que vemos como é. Então fui atrás das revistas do ramo (tudo bem são em geral superficiais, mas o assunto também não é tão profundo assim). Os títulos das reportagens são sempre surpreendentemente animadores – “como retirar as fraldas em três passos”, “descomplicando a hora de tirar a fralda”, “dez conselhos para a hora de tirar as fraldas” – tudo fácil. Os periódicos também relatam que se deve perceber se o filho está pronto, ou seja, já tem motricidade e pode falar, sempre referem que a melhor época para retirar as fraldas é no verão, pois a criança faz menos xixi e estará usando menos roupas na hora dos inevitáveis acidentes. Outra orientação é de apresentar o banheiro, o papel higiênico, dar descarga, enfim, ensinar tudo, com a possibilidade da criança escolher se quer um vaso (com redutor) ou troninho. Aconselham ainda que o treinamento vai exigir paciência (obviamente a fralda não vai sair no primeiro dia) e todos que cuidam da criança devem ser envolvidos no processo. A criança deverá ter acesso ao vaso na hora que tiver vontade e permanecer sentada o quanto quiser. Todas são taxativas: não brigue se não der certo, não obrigue, não tenha pressa. Estas atitudes podem fazer a criança prender cocô e xixi para não ter que passar pelo estresse. Vale usar técnicas como abrir torneira, massagear a barriga e sentar ao lado da criança. O melhor caminho é retirar inicialmente a fralda do dia (começando pela manhã) e depois começar o treino para a noite (provavelmente será necessário acordá-la em algum momento da noite). No final sempre dizem que se o uso das fraldas perdurar muito além dos quatro anos, consulte um especialista. Nesta garimpagem achei também blogs bem interessantes, como o da Terapeuta Ocupacional Ariela Goldstein, que faz um trabalho muito bonito na área pediátrica (http://topediatrica.blogspot.com) e o Equilibrium, um Centro de Psicologia (http://equilibri1.blogspot.com/) – vale a pena dar uma olhada. 

Tanta informação prática, contudo nada se compara ao seu corpo a corpo – criança, vaso e você! O que a multimulher mais tem é dilema de mãe. Minha filha mais velha aos quatro anos já não usa fralda, o que me dá grande esperança. Ainda assim, como previamente comentado, uma criança é diferente da outra, de forma que de saída a situação foi outra; a pequena demorou mais para se incomodar com o que fazia na fralda, então dei uma esperada. Comecei explicando todo o ritual no banheiro, não me deu grande importância. Segui em frente deixando só de calcinha pela manhã; depois de várias molhações, a encrenca foi no vaso; o redutor herdado foi deixado de canto – a pequenininha tem pavor a ele (e olhe que é pink). Dei mais uma esperada. Agora decidi usar minha experiência pessoal, ser intuitiva, chega de teorias! Comprei um troninho colorido musical (desta vez vai!). Ela amou o novo “brinquedinho”, tanto que toda vez que a levo ao banheiro ela corre feliz na minha frente, liga a musiquinha e começa a dançar em volta! Socooooooooorro!

sábado, 1 de outubro de 2011

ANIVERSARIANTES DO MÊS DE OUTUBRO

Aproveitando a balada Rock in Rio deste instante..



Kisses!!!!!

Artur Celso
Clarissa
Vania
Ali
Cristiane
Leitinho
Léo
Camila
Luiz
Dinda Rosa

domingo, 25 de setembro de 2011

I have a dream




Estou na aula das crianças. Mergulho nos meus pensamentos e de repente parece que tudo parou à minha volta. Consigo enxergar as pessoas e realizo, talvez ainda espantada, quem está lá – um grupo de crianças acompanhadas de seus pais e suas babás, estas últimas todas negras. Inclusive a das minhas filhas. Por que o espanto? Será que andei vivendo numa bolha onde a discriminação não chegava? Ou comprei a história de que somos uma terra sem racismo de tanto passar por cima daquele olhar vacilante que perguntava “quem é a médica?” Minha cabeça rodou tanto que senti uma vertigem; as diferenças sociais brasileiras ali estampadas, apenas mais uma comprovação de que para a igualdade racial ainda temos muito o que caminhar.

No Brasil há um racismo historicamente construído que é responsável por uma profunda desigualdade sócio-racial, à parte as condições de pobreza geral. É de se reconhecer que a forma como fomos colonizados e como se forjou nossa sociedade resultou na exclusão de negros e indígenas, levando a um frágil exercício da cidadania. Nitidamente este cenário vem mudando em virtude da ampliação dos debates sobre as desigualdades e da globalização de um modo amplo, que vem proporcionando mais acesso das minorias e por consequência maior grau de exigência. Do ponto de vista institucional a participação do Brasil na III Conferência Mundial de combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata (promovida pela ONU) desencadeou uma série de ações, dentre elas a criação da Secretária Nacional de Promoção da Igualdade Racial que tem status de ministério. Ainda assim, mesmo com uma melhora generalizada nos indicadores de saúde e educação, a distância entre brancos, negros e índios é muito grande.

Alguns pregam que dicotomizar a sociedade assim seria uma forma de discriminação, dividindo a população pela raça, uma questão já superada. Infelizmente ainda não superamos, tanto que nem o maior nível de escolaridade atingido por negros e pardos, segundo últimas pesquisas do IBGE, foi capaz de reduzir as diferenças salariais em relação aos tidos como brancos. O cruzamento dos indicadores de classe e raça torna evidente a concentração de pobreza no grupo de mulheres negras.  Reafirma-se, portanto, a necessidade de se intensificar políticas públicas que recuperem e assegurem a dignidade de grande parte da população brasileira. As iniciativas privadas também têm seu papel no estabelecimento do que se pode chamar reparação de um débito histórico. A implementação destas políticas engloba diversos aspectos como o apoio às comunidades remanescentes quilombolas, desenvolvimento e inclusão social, produção do conhecimento e ações afirmativas.

É importante pontuar o que são as ações afirmativas cunhadas localmente pelo Estado, que são medidas especiais e temporárias com o objetivo de eliminar desigualdades historicamente acumuladas e compensar perdas provocadas pela discriminação e marginalização, decorrentes de motivos étnicos, raciais, religiosos ou de gênero. A expressão teve origem nos Estados Unidos na década de 1960, momento em que os norte-americanos viviam um movimento pelos direitos civis cuja bandeira central era a extensão da igualdade de oportunidades a todos, quando começam a ser eliminadas leis segregacionistas até aquele momento vigentes. O movimento negro surgiu como uma das principais forças atuantes, com apoio de liberais e progressistas brancos, unidos por uma ampla defesa de direitos. As Ações Afirmativas sintetizam a necessidade de o Estado não apenas garantir leis, mas também assumir uma postura ativa para a melhoria das condições do grupo em questão (sim, pois hoje há Políticas Afirmativas ao redor do mundo, e o grupo alvo varia  de acordo com a sociedade local). As Ações Afirmativas além de serem ações de suporte e incentivo (como criação de cursos para afro-descendentes ou pessoas oriundas do ensino público), parecem inserir a chamada discriminação positiva; esta normatiza o tratamento desigual dos formalmente iguais (como a reserva de vagas em cargos públicos para deficientes), considerado como uma implementação da igualdade material. A política de cotas para afro-descendentes nas universidades públicas é apenas um dos fatores desta equação, aparentemente o mais polêmico.

Polêmicas à parte, claramente há uma necessidade de crescermos na questão racial no Brasil. Por vezes soa deslocado erguer estas bandeiras num país tão miscigenado quanto o nosso, mas focando um pouco o olhar é possível ver exemplos de exclusão a todo momento. Continuar na sombra da discriminação velada é a maneira mais lenta de se atingir o objetivo maior que é eliminar estas desigualdades. Passo importante é falar abertamente com nossos pares e encontrar juntos uma forma de conviver mais igualitária, em todos os sentidos. Então me desvencilho do meu transe, quase uma catarse, e me coloco como mais uma voz nesta luta. 

sábado, 17 de setembro de 2011

PRECONCEITO



É muito comum assistirmos cenas de discriminação explícita ou velada. Nossa sociedade costuma ser reacionária e padronizar comportamentos. Aqueles que estão de alguma forma fora do padrão são segregados, mesmo nos dias de hoje, tempos de globalização e de avanços científicos impressionantes. Diversas situações com que nos deparamos estão impregnadas por atitudes hostis baseadas em juízos preconcebidos e generalizações que não levam em conta as pessoas individualmente. Atitudes assim definem o que é preconceito, traço milenar da humanidade.

Quando se fala em preconceito surge uma sensação desagradável e desconcertante. Estranhamente algo tão incômodo persiste através das gerações. O psicólogo de Harvard Gordon Allport, famoso por seus estudos sobre a natureza do preconceito, mencionava a influencia de traços de personalidade na gênese do mesmo, mas estudos recentes dão conta de que o preconceito é algo histórica e socialmente construído; não resulta de processos biológicos, e sim de crenças específicas nascidas na sociedade para equacionar as diferenças. Aliás, a diferença talvez possa ser o símbolo maior nesta questão, já que é justamente na tentativa de lidar com o diferente que surgem os preconceitos. A Psicologia Social aponta estas condutas como adaptativas do ser humano, o qual tenta simplificar sua visão de mundo categorizando as pessoas, criando estereótipos.  A palavra estereótipo vem do grego stereos, que significa rígido e túpos, que significa traço. Há alguns séculos se referia a um processo de impressão e passou a ser utilizada na década de 1920, pelo jornalista americano Walter Lippman, para referir-se ao modo como as pessoas aplicam o mesmo caráter à impressão que têm de determinados grupos de indivíduos. Criar estereótipos pode ser um atalho necessário, porém pode ser uma armadilha quando generalizações incorretas rotulam fortemente as pessoas e não permitem que as mesmas sejam enxergadas através de suas características próprias.

O preconceito pode manifestar-se de diversas formas, desde as mais agressivas que são vistas “à olho nu” até àquela coisa velada, rasteira, que contamina sem mesmo percebermos. O que os psicólogos costumam dizer é que a atitude preconceituosa engloba, além dos componentes comportamentais e cognitivos, o afeto, e que o tipo dominante deste não é o ódio, como poderia se supor, mas o desconforto e a ambivalência que gera o afastamento. Trata-se da estranheza que o diferente provoca, resultando em comportamento de repulsa, ainda que subliminarmente. Da maneira que é colocado pela literatura, a sensação é de que comportamentos assim são inexoráveis ao ser humano, portanto deles não se pode fugir. Um rasgo de esperança neste contexto vem das teorias da psicóloga D.G. Devine que criou os termos ativação automática e ativação controlada dos estereótipos. Segundo a autora, já que grande parte dos estereótipos são disseminados em nossa cultura, eles vêm à mente de forma instantânea, o que seria a ativação automática. Nesta hora entra o bom senso e o livre arbítrio para que, refletindo conscientemente sobre a imagem automaticamente gerada, reavaliemos a impressão inicial e não prossigamos com a discriminação (ativação controlada).  

Quero crer que como seres pensantes possamos fugir destas grades culturalmente impostas e passemos a um outro patamar de convivência com o diferente. A diversidade precisa ser entendida e aceita como fonte de crescimento, e a melhor estratégia para tal é se abrir ao outro, tentando ver além das convenções. E se a distância de fato for intransponível, viva e deixe viver.


domingo, 11 de setembro de 2011

ESPELHO, ESPELHO MEU!




Aqueles que têm filhos sabem; cada dia é um novo dia em que as crianças aprendem algo. Podem ser importantes lições de vida, ou pequenas coisas do cotidiano – para eles é sempre uma descoberta. Os pais, mesmo os mais distraídos, se impressionam com a capacidade de absorver as coisas e com tamanha rapidez. Os mais desavisados poderão achar que seu filho é uma espécie diferenciada, mas criança é tudo assim – um HD vazio, uma esponjinha – todos ávidos por novos conhecimentos, ainda que muitos de fato tenham talentos especiais. Este aprendizado obviamente passa por quem educa e chega um ponto em que você se vê refletido naquela criança. Muitas vezes me peguei admirando o jeito das meninas sorrirem que é idêntico ao meu, a forma como se perdem nos próprios pensamentos como o pai. Ver-se naquela pessoinha te enche de orgulho, porém vem estampar no seu rosto o tamanho da responsabilidade. Mais tarde será a sua vez de ter o filho como exemplo, ouvir suas opiniões e seguir seus conselhos, e nesse momento você terá a sensação de dever cumprido.


A responsabilidade se apresenta porque nesta relação é comum que as crianças pequenas repitam os comportamentos dos pais e os perpetuem para a vida adulta. Basta olhar para o lado e verá aquela criança educada, cortês, que desenvolve valores fundamentais para viver em sociedade filha de pais que assim se comportam e dão importância a isto no seu dia-a-dia. Do outro lado poderá presenciar também crianças agressivas, que discriminam outras crianças e não têm noção do espaço do próximo, educadas por adultos que levam uma vida exatamente assim. Até aqui observa-se o quanto é importante manter a coerência; condutas ambivalentes enviam mensagens truncadas para as crianças gerando uma sensação de insegurança.  O mundo mudou e mudou junto com ele a forma educar, o que passar para os filhos. Antigamente para uma mulher ser considerada bem criada ela tinha que estar afeita às prendas domésticas e estar preparada para o casamento. Hoje o casamento é uma opção, preparar sua filha para o mercado de trabalho é tão importante quanto preparar seu filho e desenvolvimento sustentável é um tema que veio para a mesa do café da manhã. O acesso que uma criança tem atualmente a informação multiplicou os porquês e aumentou o grau de exigência das respostas.

Certa atenção deve ser dada para que uma troca tão saudável não se transforme em algo patológico, movimento que na psiquiatria freudiana poderiam chamar de transferência e contratransferência. Desejar que o filho seja à sua imagem e semelhança, que siga todas as suas escolhas, por mais bem intencionado que seja, cedo ou tarde será fonte de conflitos. Estes vínculos precisam ser bem trabalhados para que sirvam de base sólida para o crescimento dos filhos e não uma eterna fonte de cobrança. A boa notícia é que a própria psiquiatria, em sua vertente psicanalítica comportamental,  compreende esse fenômeno como positivo e importante para a terapia, o que pode ser extrapolado para o desenvolvimento humano. Servir de espelho para outro é uma forma eficiente de educar e é o que lhe concede o aspecto intuitivo.


Caminhar por esta estrada muitas vezes íngreme requer comprometimento. Assumir o papel tão precioso de educar não significa saber tudo, mas significa estar atento e pronto para aprender. Uma das formas é, seguindo o exemplo dos pequenos ao desbravarem o mundo a cada dia, manter o coração e a mente abertos, afinal você pode estar apenas engatinhando nesta arte de criar gente.

ANIVERSARIANTES DO MÊS DE SETEMBRO


PARABÉNS!


Karoline Flora
Thayse Vale
Cláudio Jupi
Claudinha
Luiz André
Wilson Moreira
Marcelo
Amilton
Camila Burgos
Clarissa

sábado, 3 de setembro de 2011

NOVÍSSIMA POESIA BAHIANA


Quem se lembra do “Recital da Novíssima Poesia Bahiana”? O espetáculo dos Los Catedrásticos de 1988, em que recitavam letras da recente música axé e faziam a plateia perceber sentido (ou a falta dele) - “eu vou enfiar a uva no céu de sua boca, e aí chupar toda...”; “vamos abrir a roda, enlarguecer, tá ficando apertadinho...” A sátira era o instrumento usado para mostrar o contraponto entre aquela geração da música bahiana e a geração que a precedeu, mais enraizada na MPB. Apesar da crítica, a peça conseguiu mostrar também a importância da música feita por aqui como movimento social. Aquele estilo foi responsável por exportar para todo o país um novo modo de fazer carnaval, principalmente com as festas fora de época. A cena musical da terrinha seguiu esvaziada do conteúdo de outrora e desembocou nos atuais grupos de pagode, que apesar de tudo continuam retratando o seu povo.

Chega carnaval, todo mundo quer mais é dançar, pouco importa a letra que está sendo cantada, e sob pena de parecer elitista, colocar os grupos de pagode como porta-voz popular é absolutamente lícito. São o retrato do que se aprende nas escolas e nas ruas das periferias, do pouco que se lê e do quão distante da cultura a maior parte da população se encontra. O gosto pela leitura e pelas artes anda pouco cultivado e isso se reflete no que as crianças aprendem e repercutem. Saudosismo sim; quem diria ao ouví-los que daqui também saíram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Raul Seixas, Bethânia, Gal Costa e tantos outros? Então não é uma questão de torcer o nariz, e sim de encarar o fato de a expressão cultural local estar caracterizada por essas novas manifestações.

Todo o movimento atual é impulsionado por uma indústria fonográfica que não está preocupada com sua função social e sim com o grande volume de dinheiro que gira neste mercado. A fórmula de sucesso é então repetida e perpetuada, e mesmo sendo um sucesso efêmero o astro descartável com validade de um verão interessa às gravadoras. E a banda que ano passado cantou a Liga da Justiça dá com os burros n’água apostando desta vez nos Thundercats. O poder público também embarca neste mesmo equívoco com a justificativa de que é o que o povo gosta – as prefeituras do interior são patrocinadores importantes da música bahiana de um modo geral e gastam somas impressionantes em micaretas, festas de aniversários e inaugurações. Não será simplório demais tachar o povo e oferecer-lhe apenas o que é de fácil digestibilidade?

Há que se questionar o papel dos artistas neste cenário. É lógico que cada um precisa do seu ganha-pão e talvez do alto do seu carrão importado o empobrecimento cultural de seus conterrâneos seja uma coisa menor, mas seria importante pensar no seu papel como pessoa pública e que acaba sendo imitado por milhares. O caminho muitas vezes mais fácil pode ser ir com a massa e deixar para trás o gosto musical que se tinha antes – quantos são os artistas que tocavam outros gêneros musicais e vêem na sua aproximação com os gêneros mais populares a chance de vencer. Trata-se de uma adequação mercadológica, mas sempre haverá os que resistem até por aquela velha máxima de que quem não tem talento não sobrevive.

Querendo ou não, esta é a Novíssima Poesia Bahiana e guarda seu valor como forma de entretenimento; se peca no lirismo, ao menos se enche de sonoridade e embala muita farra por aí. Se os Los Catedrásticos ainda estivessem juntos estariam agora ensaiando “tira onda de patricinha, mas compra roupa na Barroquinha...”