quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

CRESCER



Com quantos anos se revela uma mulher?
A garotinha linda e sorridente também tem raciocínio maduro
Totalmente livre para a vida que cresce
Abraça o mundo com todas as forças
Refletindo sempre a sensação de ser uma paixão antiga
Impressa na alma mesmo antes do nosso primeiro olhar
Norteando o que passei a conhecer como amor
Ainda que só tenha quatro anos

P.S.: O dia foi curto para conseguir render todas as homenagens que a pequenina merece. É realmente uma pequena grande mulher já revelada na força e na coragem com que agarra suas convicções. Aprender todos os dias com ela é um exercício fantástico. Mais uma vez o jardim está em festa, agora por sua primogênita flor.

sábado, 25 de dezembro de 2010

UM CONTO PARA O NATAL!


Nem sempre valorizamos o que realmente importa na vida. Às vezes é preciso sermos chacoalhados em alguma espécie de terremoto emocional para despertarmos do transe umbilical e viver mais plenamente, com generosidade e amor ao próximo. Naquela família não era diferente. A matriarca aguardava o primeiro filho. Mais uma vez os preparativos eram grandes, cheios de detalhes luxuosos que eram resultado de diversas viagens ao exterior para complementar o enxoval e reuniões intermináveis com a designer de interiores mais famosa da cidade. Aliás, as colunas sociais anunciavam esta chegada com grande furor, noticiando cada movimento como se narra uma partida de futebol. A intimidade da família totalmente invadida pelos novíssimos paparazzi, tudo permitido em nome do cultivo da fama.

Em meio a todo este tumulto em que se tornou a espera daquela criança estava o pai, personagem naturalmente relegado ao segundo plano, uma vez que não embarcava na viagem midiática em que sua família fora colocada. Era um homem sábio e se casara por amor àquela linda garota que aos poucos foi se deslumbrando com o dinheiro que para ele sempre foi farto. Tentava, sem êxito, refrear a sanha consumista em que sua esposa se enredava, notando a superficialidade que ia tomando conta do ambiente. Sentia-se impotente e frustrado, mas não se permitia desistir. Em algum lugar ainda existia a garota de outrora que se emocionava com comédias românticas, que gostava de dividir o saco de pipoca no cinema, que lhe sorria com inocência e que tinha gana para mudar o mundo.

A gravidez em si ia bem, acompanhada por um obstetra fantástico (embora tenha sido escolhido apenas por também acompanhar outras famosas), que ficava pouco confortável com a questões focadas pela paciente. Queria saber o sexo desde o primeiro dia para planejar o enxoval, sem nenhum questionamento sobre a saúde do bebê. Queria planejar a noite do parto com acesso a fotógrafo e cinegrafista muito antes de saber se tudo corria bem. A certa altura ele tentou chamar sua paciente à razão, mas obviamente foi em vão. Apenas lhe restava trazer aquela criança ao mundo com segurança e preservar a vida daquela mulher. Aproximava-se a trigésima sexta semana de gestação e não era de seu perfil abandonar o barco.

Era época de Natal. A afortunada família passaria as festas numa fazenda no interior. A ceia vinha sendo finamente planejada pela gestante mais badalada do momento, afinal não se podia negar que nesses anos de casamento ela não tivesse cultivado além da fama, bom gosto. A lista de convidados recheada de gente importante teria um roteiro de atividades para o final de semana. O ponto alto seria festival de fogos no alto de uma colina que servia como mirante de toda a propriedade, bem distante da casa principal, para onde em seguida retornariam para o maravilhoso jantar.

Em virtude da gravidez avançada à anfitriã permaneceu em casa durante os folguedos, aproveitando para dar os últimos retoques na mesa do jantar.  Exatamente na hora programada os carros levaram os convivas para a colina, alguns deles até se ofereceu para ficar fazendo companhia a ela, inclusive seu próprio marido, mas ela firmemente mostrou que não era necessário, até porque havia um séquito de funcionários naquela casa. Aproximava – se da meia noite quando se viu ao longe um show pirotécnico digno das areias de Copacabana. Era hora de retornar para a tão esperada ceia, mas ninguém mandou o script para São Pedro e caiu um temporal daqueles. A estrada de volta foi interrompida pela queda de uma encosta, a rede de energia começou a falhar e a comunicação tornou-se escassa. O tal script também não foi passado para o pequeno que iria ser chamado João e acabou Cristiano por conta do desenrolar da história que veio a seguir.

Nossa bela anfitriã repentinamente sentiu uma enxurrada por entre suas pernas, e não era água de chuva. Tentou chamar um dos empregados, mas a casa era tão grande que com aquele dilúvio lá fora ninguém podia lhe ouvir. Correu para o telefone, mas nem marido nem médico podiam ser contatados. Permaneceu um tempo sentada, mas logo se viu obrigada a levantar e achar um solução para as contrações que se seguiram. A chuva começava a diminuir quando ela chegou à beira da estrada. Não houve tempo para chegar além dos umbuzeiros, e foi embaixo de um deles que ela sentou-se e rezou para todos os santos que conhecia, suplicou a Jesus que naquele dia tão simbólico a protegesse e trouxesse seu filho ao mundo com saúde. Já era 25 de dezembro e como que um milagre aquela mulher sentada no chão realizou que todo aquele banquete, todos os convidados importantes e toda a vida fútil que vinha levando perderam o sentido. Pensou tanto em seu marido, nas muitas vezes em que tinha tentado lhe mostrar o verdadeiro sentido da família, que ele pareceu se materializar diante de seus olhos. Não se tratava de um sonho. O marido tinha conseguido sim encontrá-la na estrada, no entanto não havia tempo para hospitais, salas de cirurgia, fotografias nem para o séquito de bajuladores. Eram só eles três e a frondosa imagem daquele umbuzeiro.

E foi ali, diante das lágrimas do pai e da mãe, e de promessas maternas de que seria criado com valores diferentes dos quais tinham lhe servido até então, que nasceu o pequenino, que agora seria chamado Cristiano, e marcou a guinada daquela família. E todo Natal passou a ser mais amor do que inúmeras viagens de compras, mais união do que grandes jantares, e mais presença do que presentes.

P.S.: alguma coisa neste conto foi quase verdade.

sábado, 18 de dezembro de 2010

MÃES EMPREENDEDORAS (do Diário da Multimulher)


A palavra empreendedorismo está na pauta do dia, sendo apontado como uma das possibilidades para o crescimento da economia. Trata-se da capacidade de inovação, de criatividade e de transformação do conhecimento – tudo haver com a multimulher. Tanto que hoje se fala em empreendedorismo materno. Pessoalmente nunca tinha visto o termo aplicado desta forma, até bem pouco tempo, quando assisti a um programa de televisão sobre o tema. As mães empreendedoras são profissionais de todas as áreas; jornalistas, fotógrafas, arquitetas, administradoras, dentre outras. O que elas têm em comum? Encontraram na maternidade o impulso para criar novos negócios, estabelecendo uma mudança na sua vida profissional, principalmente com o intuito de vivenciar a maternidade mais plenamente. São histórias encantadoras de mães que decidiram priorizar seus filhos e tiveram a possibilidade de se adaptar profissionalmente.

Para o casal, ter um filho representa uma modificação absoluta na forma como vinha sendo sua rotina. No caso da mulher estas mudanças são mais radicais, desde a questão física que se instala com a gestação, sendo notória a revolução porque passamos ao exercer a maternidade. Em maior ou menor grau é preciso fazer alguns ajustes em função dos pequenos, internamente, fisicamente no ambiente em que vivemos e em todas as áreas da nossa vida. Inicialmente parece que somos dragadas para o olho de um furacão, mas depois as coisas vão se ajeitando e tudo que queremos é curtir nossa cria, estar com nossos filhos quando aprendem a andar ou dizem as primeiras palavras. Voltar ao trabalho nesse período é muito difícil, é um tempo de angústia por vários motivos – estar longe de nosso bebê, com quem e onde deixá-lo. A maioria de nós tem uma expectativa da maternidade que simplesmente não se encaixa com um trabalho em tempo integral, algumas por questões até filosóficas; querem elas mesmas dar os cuidados aos filhos, ou mantê-lo em amamentação de livre demanda. Toda esta atmosfera acaba por nos levar a repensar escolhas e invariavelmente se questiona o lado profissional, a posição de importância que ele ocupa e como conciliá-lo com a vida de mãe. Neste momento entra em cena a capacidade criativa, aparentemente muito mais aguçada, e várias maneiras são encontradas para por em ação o tal empreendedorismo materno.

Uma pesquisa americana revela que cerca de 40% das mulheres que criaram seus próprios negócios tiveram a idéia quando estavam grávidas ou no primeiro ano dos filhos, e a maioria delas atribuem o sucesso às habilidades desenvolvidas depois da gravidez. São exemplos de mulheres que passam a trabalhar em casa ou que adaptam a jornada de trabalho utilizando idéias que vieram justamente da necessidade e que são fruto do novo universo do qual passaram a fazer parte. Tem gente que passou a produzir determinados tipos de roupas para bebês porque não achavam tipos específicos no mercado, mulheres criando roupas mais apropriadas para amamentar porque ela própria teve dificuldade na hora de lidar com isso, outras lançaram moda com os mais variados tipos de slings (aqueles panos para carregar os bebês junto ao corpo), enfim, todo tipo produto que tenha haver com este mercado infantil. A movimentação é tão grande, que algumas empresas de fomento já se voltaram para este nicho de mercado, grupos de discussão, sites de divulgação (inclusive mães cujo empreendimento foi criar ferramentas para instruir estas mulheres e para divulgar suas atividades). É uma verdadeira rede, afinal uma mãe sempre tem uma dica para passar para a outra e trocar experiências ajuda muito.

O texto é sobre mães empreendedoras, mas no quesito filho não pode haver conversa que também não envolva o pai. É claro que eles experimentam a paternidade de forma distinta da nossa, eventualmente parecendo menos intensa, porém o que acontece é apenas um retrato das diferenças de gênero – homens externam seus sentimentos de uma maneira diferente da mulher, e ponto.  A maneira masculina de lidar com a chegada das crianças vem mudando, conheço vários paizões que participam profundamente da vida dos pequenos, e de fato também se transformam inclusive profissionalmente, a exemplo do jornalista Renato Kaufmann, autor do livro “Diário de um grávido”, em que conta esta transformação.

Então, seja como for, mães (ou pais) empreendedoras são as guerreiras da atualidade, correndo atrás de exercer da melhor forma possível a multimulher que nos habita.

Serviço:

Uma página musical

Feliz aniversário!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Hey, John!




Abri os olhos com Catarina cantarolando “I wanna hold your hand...” Pensei no quanto os Beatles ultrapassaram seu tempo, seguem reverenciados por gerações, servindo até como elo de ligação entre elas, uma vez que esta paixão passa de pai para filho. Exemplo disto pode ser visto em recente visita de Paul McCartney para shows no Brasil - familias inteiras correndo para os estadios na mesma sintonia. Estes pensamentos ficaram muito mais recorrentes porque nesta semana se completa 30 anos que John Lennon foi assassinado.  Sou fã da boa música, e como tal ouço Beatles, como se costuma dizer, forever! Deste tipo de idolatria surgiu o termo “beatlemania”, termo que a imprensa britânica passou a usar para designar a imensa popularidade dos meninos de Liverpool. Lennon entrou para a história já por seu destaque no grupo, onde escrevia grande parte das letras, e conseguiu manter-se sob os holofotes mesmo após deixar a formação, mas confesso que a fase inicial é a que mais gosto - aquela garotada toda histérica, aquelas perseguições emocionantes, tudo que dominou de forma absoluta o cenário daquele tempo.

Vários foram os documentários exibidos esta semana, forma de tributo ao ídolo que nunca morre; sua obra com e sem os Beatles se perpetuou. Tenho especial admiração por pessoas que se reinventam ao longo de sua existência. E assim foi Lennon - para horror dos “beatlemaníacos” sua transformação tem como marco seu encontro com Yoko Ono – nos anos 60/70 era um jovem irreverente, inconseqüente, formando a dupla mentora do grupo com Paul McCartney; depois foi influenciado pela forma de manifestação artística de Yoko, passando a atuar de forma menos convencional e com ativismo político, no estilo love and peace. Diferentemente de vários astros de sua época, não morreu de overdose, livrou-se das drogas  a tempo de na sua carreira longe dos Beatles passar a dar vazão aos ideais libertários, constituir uma familia. Aliás tem uma passagem do documentario "Simplesmente Lennon" que mostra muito esta fase familia, em que John resolve ir direto para casa para ver o filho ainda acordado. As mudanças na vida dele foram tantas, que os próprios admiradores ficaram meio perturbados; aquele  que pregava contra o consumismo agora morava no quarteirao mais cobiçado da cidade. Para mim representa a transformação normal que as pessoas têm e devem ter, um crescimento na arte e na vida. 

Tanta coisa de sua autoria, das diversas fases, vêm à mente...”come together”, “stand by  me”, “give peace a chance”, “all we need is love”, “you may say I’m a dreamer, but I´m not the only one”, e tudo que embala até hoje momentos memoráveis da vida de cada um. Era um poeta, disse frases que ecoam até hoje; uma em especial sempre me dar forças: “quando fizeres algo nobre e belo, e ninguém notar, não fique triste, pois o sol toda manhã faz um lindo espetáculo e, no entanto, a maioria da platéia ainda dorme”. E as tais manifestações político/artísticas nada convencionais? A lua de mel com Yoko Ono ficou conhecida como “bed in”, uma forma que encontraram de se juntar à contracultura balisados por personalidades da época que lutavam por ideais diversos, e ironicamente questionar porque perder o sono com a paz mundial. Seja como for, apesar do ato insano de um fanático, alvejando o artista em frente ao Edifício Dakota com cinco tiros em 08 de Dezembro de 1980, John Lennon ainda está vivo aos 70 anos, tal a forma como marcou a humanidade.

sábado, 4 de dezembro de 2010

FAÇAMOS A NOSSA PARTE



"Eu não dou dinheiro na mão de bandido!" Esta frase dita pelo cantor, ator e jornalista Léo Jaime em entrevista sobre criminalidade ficou impressa na memória (em que pese o fato de ainda não ter opinião formada a respeito de sua campanha em prol da descriminalização das drogas). Trouxe bem a medida do quanto a postura do indivíduo é fator determinante no tipo de sociedade que queremos ter. É a questão do cidadão de bem escolher o lado em que está, e aquela simples assertiva faz a diferença quando tomada como princípio. O tal bandido (seja qual for o tamanho da contravenção ou delito) estará sendo fortalecido, provavelmente em certas ocasiões estará ali sendo forjado. Enconde-se neste cenário um ciclo vicioso de alta periculosidade. Não há espaço para concessões quando o assunto é criminalidade – dar um “jeitinho”, comprar produtos piratas, pagar propina para escapar de uma multa, ser o comprador que sustenta o tráfico de drogas; em maior ou menor grau são formas de alimentar o crime.

Generalizou-se a coisa, muitas vezes tida como natural e inofensiva, desde a compra de um CD pirata até o uso recreativo de drogas e entorpecentes. Alcança todas as esferas da criminalidade, até os corruptores e pagadores de propinas, junto com os corruptos e os subornados. A tese de que a conduta de cada um pode fazer a diferença parte da premissa de que se há os que seguem vendendo é porque há os que compram; a simples lei da oferta e procura. Pode parecer um exagero quando, por exemplo, tomamos o caso da pirataria – tão inocente comprar uma cópia baratinha do filme que ainda está em cartaz, afinal vendem os originais a preços tão altos! (de fato os preços são altos, carregados que são pelos impostos). O outro lado a ser analisado é a indústria que há por trás destas vendas, de sonegação e de enriquecimento de atravessadores, às custas do trabalho de artistas e técnicos. Dá o famoso “jeitinho” para fugir de uma multa à primeira vista não prejudica ninguém, mas pense no tipo de mentalidade que se fomenta, no tipo de ensinamento que passamos para o nosso filho sentado ali no banco de trás, sem falar que se estamos infringindo a lei temos que arcar com o ônus.

Obviamente, como descrevem os criminalistas, a violência de um modo geral tem causa multifatorial, dentre eles já conhecidos fatores condicionantes como a fome, a exclusão e a desigualdade social. Não há como não bater mais uma vez na mesma tecla - questão da educação. É da educação de qualidade que podemos esperar uma mudança no comportamento do indivíduo, até por esta lhe proporcionar maiores oportunidades. A impunidade também está entre as causas apontadas, pois é difícil ver os crimes serem julgados e os culpados punidos com a morosidade da justiça e com o sistema prisional que temos. A sensação de que se pode tudo e que dificilmente se é pego faz com que viver na marginalidade seja fácil. Ainda assim, é da atitude individual que se constrói a face que dada sociedade tem.

Talvez resida aí a origem de tudo, na falsa impressão de que os comportamentos são todos isolados e que não repercutem no todo. É preciso escolher de forma reta o seu caminho e ser rigoroso em relação a ele. Desde o simples troco errado no supermercado, agir com honestidade nos atos mais corriqueiros do cotidiano. É comum apontarmos o outro e darmos explicações alheias à nossa capacidade de intervenção, mas como exercício vale olhar nossas próprias atitudes. Não podemos nos isentar de nossa responsabilidade. E façamos nossa parte!