segunda-feira, 26 de março de 2012

SAIA DA SAIA JUSTA



Criança diz cada coisa! A toda hora alguém solta esta frase. É que muitas vezes as crianças colocam os adultos em situações embaraçosas, principalmente quando estes complicam a resposta a determinadas perguntas. Lembra aquela história em que a mãe fica tensa quando o filho pergunta como veio ao mundo e ele impaciente com os rodeios diz que só quer saber se nasceu pelado ou vestido. A maior parte das vezes, passados os primeiros segundos de surpresa, com honestidade e paciência se consegue explicar o que lhe é questionado.

O cuidado ao responder é obviamente importante, muito pela necessidade de se satisfazer a sede de aprender das crianças, mas também para que o adulto na berlinda não se enrole em situações posteriores que certamente terão a anterior como referência. Foi por isso que em certa casa deu-se um embrolho que agora lhes relato; a menina vendo um pacote de absorventes no banheiro da mãe apressou-se em perguntar do que se tratava. A mãe, resistindo para não falar de menstruação com tão pequena figura, disse tratar-se de um pacote de fraldas. A criança logo emendou, “você também usa?” Já que tinha começado, só restava dizer um quase inaudível “sim”. Daí a contar aos quatro ventos que a mãe usava fraldas foi um pulo. E a colocar a tal fralda também. Custava ter explicado ser o nome do tal utensílio, para que servia e que ela só usaria quando mais velha? Em outro episódio explicou que a criança não deveria falar com estranhos em hipótese alguma. A menina entrava no elevador e não abria a boca, recebiam a visita de algum amigo dos pais que ainda não conhecia a criança e ela muda, e assim onde quer que chegassem. A mãe começou a pensar - “mas ela sempre foi tão comunicativa!” está precisando ser corrigida. Põe-se a repetir em cada oportunidade – “fala com o tio!” Lá pela segunda reprimenda a pequena soltou: “ você não disse para não falar com estranhos?”

No final das contas prevalece a orientação de nivelar as explicações ao desenvolvimento da criança e responder simplesmente o que lhe é perguntado. Provavelmente responderá a pergunta algumas vezes na vida da criança e de formas diferentes, com ela própria dando pistas do que é capaz de compreender. De qualquer modo estratégia é clara; saia da saia justa. Se não der, divirta-se (este tipo de situação rende muitas gargalhadas).

domingo, 18 de março de 2012

MINI ME

Aquela velha imagem da pequena engraçada, subindo no salto alto da mãe, vários números maior que seu pezinho, se repete em todas as casas com meninas. Vê-las nos seus primeiros passos de mulher é uma experiência única, e em especial essa vontade de imitar as mães traz a exata medida do quanto estas são espelho. Tal relação é uma deliciosa via de mão dupla, de forma que a mãe, do alto de seu salto, se vê naquela pequena figura. Os meninos também não escapam deste clichê maravilhoso e sair por aí com uma cópia do papai também é um must. Inspirado neste universo tão singelo o mundo da moda vem dando cada vez mais vazão à criatividade no que se passou a chamar estilo mini me, produzindo roupas do circuito fashion adulto para as crianças. Conceito semelhante alcança a indústria de brinquedos, com a possibilidade de vestir as bonecas exatamente como suas pequenas donas.

Zara
Há algum tempo as crianças não escolhiam o que vestir, até porque a elas não era dado este direito. Hoje a meninada anda cheia de estilo e sabe exatamente o que quer quando o assunto é roupas e acessórios. E estão mais antenadas do que nunca. Além disso grande parte das mães adora ver sua princesinha num modelito todo elaborado, sem falar no quanto de cumplicidade emana da dupla (trio, quarteto, e quem mais chegar) vestidinha igual. Várias grifes famosas já perceberam essa tendência, a exemplo de Isabela Capeto, Carmen Steffens e Ronaldo Fraga.

Isabela Capeto
              São diversas possibilidades, para qualquer tipo de público, fruto de muita pesquisa e estratégia de mercado. Um cuidado que se deve ter é não deixar a criança como um mini adulto, apesar do que o título possa sugerir. Criança pode ser bem vestida mantendo a atmosfera de ingenuidade e delicadeza.  A idéia é dar alegria, liberdade, bem estar e leveza ao guarda-roupas dos pequenos, aliados aos cuidados com a qualidade dispensadas ao público adulto, afinal bom gosto não tem idade. 

terça-feira, 13 de março de 2012

NOVOS ARES

DA SÉRIE ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS

A palavra adaptação significa acomodação, ajuste, e graças à imensa capacidade de adaptação do ser humano as mudanças vão sendo aos poucos incorporadas e se atinge a homeostase.

A primeira frase que vem à cabeça: mudar é difícil! Neste caso em particular por alguns motivos; de saída por ter caído na própria cilada de achar que mudar rapidamente de Salvador ajudaria a passar melhor pela dor de perder um pai. Engano clássico, pois obviamente a dor te acompanha e mesmo estando num outro ambiente, cada hábito há tanto familiar te faz lembrar. E mais, a distancia trouxe a angústia de estar longe da mãe, porto seguro, sem dar e receber aquele afago físico tão reconfortante nestas horas (sorte que a distância é pouca e se pode compensar ora ou outra). Há ainda uma certa insegurança naturalmente trazida por tudo aquilo que é desconhecido, além, é claro, da saudade de todos. Felizmente junto com esta sensação de que as coisas não são fáceis, vem também a garra para enfrentar novos desafios, entendendo que a vida ganha um gostinho especial com o prazer da conquista.

No meio do caminho acontece muita coisa engraçada e situações inusitadas pelo simples fato de ser um “estranho no ninho”, como por exemplo andar pela cidade ligando para o irmão de cinco em cinco minutos para se achar (há que se dizer que foi só na primeira semana; na segunda semana a opção foi andar em círculos – aí dá para começar a aprender os caminhos!; e da terceira semana em diante sentir-se algo competente por saber ir de casa para o trabalho, do trabalho para a escola das crianças e de lá voltar para casa). Outra experiência que parece ser carimbo para todos os conterrâneos é cada vez que abrir a boca alguém exclamar que você é da Bahia (nem achava que tinha sotaque!). Apesar da proximidade entre as capitais, se fala realmente diferente, desde de o jeito de chamar o pão (ah, isso persegue o baiano onde quer que vá – também vai chamar o pãozinho de cacetinho!) até o saco de supermercado. Hilário foi Catarina, com uns quinze dias de aula, perguntar se poderia chamar a professora de tia (com a língua entre os dentes) – ora, chame como quiser, mas não esqueça de “ôxe”, “venha cá”, “de hoje a oito” e toda sorte de coisa que dizem que é de baiano!

Encontrar seus pares e se relacionar bem com eles é um outro capítulo. As pessoas de um modo geral são gentis, mas as cercas são mantidas a maior parte do tempo. Percebe-se o quanto são reservados, desconfiados até, o que faz com que as relações que aos poucos vão se estabelecendo sejam mais verdadeiras. O embrolho é que para quem está chegando, ainda sentindo na pele a brisa de outras praias e na boca o gostinho de um acarajé de verdade, é fácil se ensimesmar e não fazer grandes esforços para transpor estas cercas. É  um exercício constante. O importante é que essa resistência inicial não impede a forma acolhedora como a cidade recebe um sem número de expatriados. Há uma delicadeza no ar e um ritmo menos frenético que tornam possível a sensação de pertencer ao lugar.

As meninas estão crescendo e parecem se adaptar a tudo com enorme facilidade, mesmo àquelas coisas das quais reclamam sentir saudades. Novos ares, novos hábitos – já sabem subir em árvores, só querem a piscina de adultos, voam alto no balanço e se vêem verdadeiras bailarinas. As fugas noturnas para a cama dos pais foram embora com a chegada da cama nova, mais espaçoso e o encanto de um novo quarto. Esta mudança pegou as duas numa fase de novidades também na relação delas – Isadora não é mais aquela que atrapalha a brincadeira, pelo contrário, agora dá asas a uma fértil imaginação dupla. Fazer amizades está sendo um desafio por chegar e encontrar os grupos estabelecidos. Mudança também pela caçula começar a frequentar a escola e pela mais velha estar num ponto importante da alfabetização, tendo que levar com afinco os horários das tarefas (mais risos: reclamou que não estava gostando da nova escola pois o recreio era muito curto). Os próprios pais estão tendo que se orientar – a criança já vai ter a semana de prova. Sorte papai adorar “Natureza e Sociedade”, mamãe Português, e a matemática ainda não estar complicada. A “mãe histérica” aparece quando pergunta todos os dias se as crianças estão se enturmando, se o rendimento está satisfatório e se a adaptação é tranquila, mas não sabe fazer de outro jeito; tem que estar ligada em tudo.

No frigir dos ovos, como se diz popularmente, ainda é cedo, mas o saldo já está sendo positivo. Descobrir-se com novas potencialidades e capacidade adaptativa é um grande aprendizado. Abrir-se para outras possibilidades, mesmo que às custas de sair da zona de conforto, pode ser a oportunidade de alçar vôos mais altos e revela-se importante fator de crescimento. 

quinta-feira, 8 de março de 2012

O ESSENCIAL

A saga da multimulher continua...




Frequentemente se fala no quanto a mulher evolui ao longo dos anos e na influencia que esta mudança exerceu sobre a sociedade como um todo.  Inegável a gama de conquistas que alcançaram, passaram a ter voto, mais que isso voz; passaram a compor uma maior fatia do mercado de trabalho; cada vez mais assumem papéis de liderança.  É um movimento contínuo e ainda há o que conquistar, afinal além dos ganhos os novos tempos trouxeram novos problemas e novos questionamentos, mas também novas possibilidades.

O mundo (além das próprias mulheres) passou a ser mais exigente; daí o alterego multimulher tentando ser um polvo equilibrista e não se permitindo deixar cair nenhum dos pratos. Parafraseando a escritora americana Camille Paglia, neste ponto o feminismo enganou as mulheres; a busca pela igualdade entre os gêneros levou a sociedade a esperar que elas se comportem como homem e ainda seja capaz de sentir como mulher. A questão estética é um ponto nevrálgico nesta equação uma vez que se criam verdadeiras ditaduras com seus modelos padronizados e muitas vezes estereotipados.

Nadando contra a corrente, ou em verdade criando uma corrente distinta, muitas mulheres vêm se rebelando contra esse modus operandi adotando a tendência do natural, onde certamente menos é mais; corpos menos esculpidos, mais espontaneidade, maquiagem leve ou nenhuma e aceitação das marcas da vida. Alguns falam em resgate da simplicidade, e parece mesmo que voltar-se para sua essência passou a ser mais importante do que artificializar sua beleza. Não significa com isso que se cuidar ou ter à mão aquele batom coringa é over. O que esta mulher tem primado é pelo corte dos excessos. O interessante é que este movimento vai além da estética; valoriza-se também marcos naturais da vida feminina como a menstruação, a gestação, o envelhecimento e aquela sabedoria herdada da avó. O problema é radicalizar a posição e acabar caindo numa cilada às avessas.

O essencial é impalpável, mas está em tudo. Olhos outros que não os da face poderão ver e descortinar o que realmente importa: sentir-se feliz. De qualquer modo vale a sabedoria da vovó; nem tanto ao mar, nem tanto a terra. É preciso sim valorizar a essência, mas é possível fazer isto com algum glamour. No final a busca pelo equilíbrio vai sempre nortear as boas escolhas.