terça-feira, 13 de março de 2012

NOVOS ARES

DA SÉRIE ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS

A palavra adaptação significa acomodação, ajuste, e graças à imensa capacidade de adaptação do ser humano as mudanças vão sendo aos poucos incorporadas e se atinge a homeostase.

A primeira frase que vem à cabeça: mudar é difícil! Neste caso em particular por alguns motivos; de saída por ter caído na própria cilada de achar que mudar rapidamente de Salvador ajudaria a passar melhor pela dor de perder um pai. Engano clássico, pois obviamente a dor te acompanha e mesmo estando num outro ambiente, cada hábito há tanto familiar te faz lembrar. E mais, a distancia trouxe a angústia de estar longe da mãe, porto seguro, sem dar e receber aquele afago físico tão reconfortante nestas horas (sorte que a distância é pouca e se pode compensar ora ou outra). Há ainda uma certa insegurança naturalmente trazida por tudo aquilo que é desconhecido, além, é claro, da saudade de todos. Felizmente junto com esta sensação de que as coisas não são fáceis, vem também a garra para enfrentar novos desafios, entendendo que a vida ganha um gostinho especial com o prazer da conquista.

No meio do caminho acontece muita coisa engraçada e situações inusitadas pelo simples fato de ser um “estranho no ninho”, como por exemplo andar pela cidade ligando para o irmão de cinco em cinco minutos para se achar (há que se dizer que foi só na primeira semana; na segunda semana a opção foi andar em círculos – aí dá para começar a aprender os caminhos!; e da terceira semana em diante sentir-se algo competente por saber ir de casa para o trabalho, do trabalho para a escola das crianças e de lá voltar para casa). Outra experiência que parece ser carimbo para todos os conterrâneos é cada vez que abrir a boca alguém exclamar que você é da Bahia (nem achava que tinha sotaque!). Apesar da proximidade entre as capitais, se fala realmente diferente, desde de o jeito de chamar o pão (ah, isso persegue o baiano onde quer que vá – também vai chamar o pãozinho de cacetinho!) até o saco de supermercado. Hilário foi Catarina, com uns quinze dias de aula, perguntar se poderia chamar a professora de tia (com a língua entre os dentes) – ora, chame como quiser, mas não esqueça de “ôxe”, “venha cá”, “de hoje a oito” e toda sorte de coisa que dizem que é de baiano!

Encontrar seus pares e se relacionar bem com eles é um outro capítulo. As pessoas de um modo geral são gentis, mas as cercas são mantidas a maior parte do tempo. Percebe-se o quanto são reservados, desconfiados até, o que faz com que as relações que aos poucos vão se estabelecendo sejam mais verdadeiras. O embrolho é que para quem está chegando, ainda sentindo na pele a brisa de outras praias e na boca o gostinho de um acarajé de verdade, é fácil se ensimesmar e não fazer grandes esforços para transpor estas cercas. É  um exercício constante. O importante é que essa resistência inicial não impede a forma acolhedora como a cidade recebe um sem número de expatriados. Há uma delicadeza no ar e um ritmo menos frenético que tornam possível a sensação de pertencer ao lugar.

As meninas estão crescendo e parecem se adaptar a tudo com enorme facilidade, mesmo àquelas coisas das quais reclamam sentir saudades. Novos ares, novos hábitos – já sabem subir em árvores, só querem a piscina de adultos, voam alto no balanço e se vêem verdadeiras bailarinas. As fugas noturnas para a cama dos pais foram embora com a chegada da cama nova, mais espaçoso e o encanto de um novo quarto. Esta mudança pegou as duas numa fase de novidades também na relação delas – Isadora não é mais aquela que atrapalha a brincadeira, pelo contrário, agora dá asas a uma fértil imaginação dupla. Fazer amizades está sendo um desafio por chegar e encontrar os grupos estabelecidos. Mudança também pela caçula começar a frequentar a escola e pela mais velha estar num ponto importante da alfabetização, tendo que levar com afinco os horários das tarefas (mais risos: reclamou que não estava gostando da nova escola pois o recreio era muito curto). Os próprios pais estão tendo que se orientar – a criança já vai ter a semana de prova. Sorte papai adorar “Natureza e Sociedade”, mamãe Português, e a matemática ainda não estar complicada. A “mãe histérica” aparece quando pergunta todos os dias se as crianças estão se enturmando, se o rendimento está satisfatório e se a adaptação é tranquila, mas não sabe fazer de outro jeito; tem que estar ligada em tudo.

No frigir dos ovos, como se diz popularmente, ainda é cedo, mas o saldo já está sendo positivo. Descobrir-se com novas potencialidades e capacidade adaptativa é um grande aprendizado. Abrir-se para outras possibilidades, mesmo que às custas de sair da zona de conforto, pode ser a oportunidade de alçar vôos mais altos e revela-se importante fator de crescimento. 

Um comentário:

  1. Mudanças nos trazem dificuldades, mas juntos consseguimos arrumar e conquistar no novo! Todos juntos somos fortes!

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