sábado, 30 de março de 2013

TEMPO DE DESACELERAR





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A humanidade chegou num ponto delicado. Considere todo o avanço tecnológico que já se tem hoje e veja como se contrapõe ao retrocesso percebido nas relações interpessoais; acelerou-se o conhecimento e a informação, em contrapartida deu-se um distanciamento entre as pessoas. Questionar as raízes dessa condição é crucial e faz parte do crescimento, a única possibilidade de revertê-la. Em tal processo vislumbra-se o imediatismo parece estar permeando esse caminho.

Nada mais carece ser fermentado, apurado ou curtido. Ninguém quer mais quer experimentar aquela troca de olhares já se quer a conjunção carnal no primeiro ato. Sentar para um bom papo com um interlocutor de carne e osso deu lugar a trocar mensagens com muitos ao mesmo tempo, conversas cibernéticas, beijos falados e figurados em lugar de tocados.  Não se tem mais tempo nem paciência para ser contemplativo, para se aprofundar nas questões e nas pessoas. Como resultado colhe-se a superficialidade, e por não haver mais tempo para se ouvir, sobram os conflitos. Aquele mesmo conflito que é pai e mãe das guerras entre as nações  e  da selvageria que se testemunha nas grandes cidades. Pai e mãe da violência urbana, da politicagem e da descrença nas instituições. Reina a incapacidade de se colocar no lugar do outro, de exercitar o perdão e a benevolência.

 A boa notícia é que tem sempre um último romântico por aí e num trabalho de formiguinha é capaz de contagiar os que estão à sua volta. Quem sabe assim nos lançamos numa onda positiva onde o velho nos alcança de novo, nada mais é imediato, o consumo desenfreado perde seu espaço e com ele o materialismo extremo. O equilíbrio se torna possível; entre ser e ter, ouvir e falar, enfrentar e recuar, divergir e concordar. E o que era belo retoma seu valor. Não é preciso mais tanta pressa pois o que realmente importa está aqui pertinho; o calor da família e dos amigos, a emoção do abraço de um filho, a possibilidade de assistir a um pôr do sol, poder saborear um prato especial, ler um bom livro, conhecer seu vizinho, se relacionar com bom humor, enfim, estar disponível para a vida.

sábado, 9 de março de 2013

ADEUS AO MARTÍRIO NOSSO DE CADA DIA



Lá vem ela de novo. A multimulher é um ser com vida própria e anda por aí nas suas pequenas batalhas cotidianas. Com todas as conquistas que as mulheres conseguiram nas últimas décadas foram se acumulando as tarefas e os interesses. Houve um tempo em que enxergou apenas a multiplicidade de tarefas, a árdua missão de equilibrar a rotina de mãe, mulher e profissional. Essa noção mudou um pouco ao longo do tempo e a partir da percepção de que não se tratava de uma simples executora da sua rotina. A multimulher passou a se entender como uma pessoa multi-interessada, pondo seu coração e sua mente em tudo que faz (em que pese todo o trabalho braçal embutido nisto). Multimulher, multi-interessada ou multi-atarefada, sua palavra de ordem permanece sendo a multiplicidade; de papéis, de sentimentos e de expectativas.

Ah, as expetcativas! É próprio do ser humano tê-las, em relação a si e aos outros. Estas são causadoras de um sem número de cobranças, e ser seu próprio credor pode ser uma armadilha difícil de se desvencilhar. Provavelmente por conta desta situação todas tenham se exigido tanto – manter a excelência em tudo que fazem; serem supermães, profissionais de sucessos ascendendo em seu campo de tarbalho, amigas isuperáveis, filhas abnegadas onipresentes ou amantes espetaculares (não necessariamente nesta ordem, mas quase sempre tudo ao mesmo tempo). Chegadas a um dilema e a uma certa culpa, degladiam-se diuturnamente com a realidade – a inabalável impossibilidade de ser cem por cento em tudo.

O problema é que custa chegar a essa conclusão. e ainda que muitas permaneçam desencontradas desta até reconfortante constatação, outras estão encarando com muito jogo de cintura esta nova ordem. Convencer-se é um passo rodeado de questionamentos cujas respostas nem sempre são óbvias. Mas por que dar o suficiente de si não basta? Por que querer dar incessantemente sempre mais de si em tudo? Será que leveza e tranquilidade não são possíveis? Claro que são! Desce da linha de montagem e busca satisfação sem megalomanias. O tempo agora é de ser o que se pode e aproveitar a vida. a passagem por esse mundo é muito rápida, não há espaço nem tempo para ficar apegada ao pequeno martírio nosso de cada dia. Viver com coerência e dedicação continua sendo uma tônica, contudo sem o estresse de querer ser o máximo em tudo todo o tempo. Existirão altos e baixos, uma coisa compensando a outra, e assim a terra segue girando.