quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O poder do silêncio




Quem me conhece sabe, não sou de silêncios. Ter opinião sobre as coisas que me cercam, é importante para mim. Mais que isso, deixar o silêncio exercer seu poder de permitir que injustiças aconteçam, me parece inaceitável. Como tenho usado a rede para me manifestar e me conectar, ainda que com um número relativamente pequeno de meus bons amigos, me sinto na obrigação de fazê-lo agora para não ser conivente com meu silêncio.

Aos que ainda não tiveram acesso, a onda de xenofobia que tem assolado a rede desde que a nova presidente foi eleita no último domingo é vergonhosa. Os reacionários (que fique claro obviamente não engloba todos os sulistas ou serristas) andam culpando o Nordeste pela derrota de sua ideologia. Aqueles que também repudiam estas atitudes precisam se manifestar publicamente com seus pares. Quero pontuar que Dilma ganhou no Nordeste sim ( o que já era esperado, uma vez que no governo atual houve um olhar para esta região), perdeu em São Paulo (por diferença muito menor do que se viu em estados do Nordeste), mas ganhou no Rio de Janeiro e, para surpresa de alguns, em Minas Gerais (ah, estão culpando também Aécio pela derrota).

É bem verdade que nós nordestinos sabemos que esta é mais uma onda de xenofobia como muitas outras que já ocorreram. Quantos de nós, morando ou de passagem pelo sul/sudeste, não tivemos que responder (ou não) a piadinhas com  “baianada”, “oh, paraíba!”, “cabeça chata”, e por aí vai. Nada de disso nos detém, portanto não vai ser agora que vamos nos calar e nos sentir menores. A falácia do Brasil dividido tem mais uma vez que ser rechaçada, principalmente por nós que convivemos com quem tem opiniões contrárias. Disseminar o racismo e o separatismo é também uma forma de violência.  

Agora os autores têm nome e sobrenome, quem sabe facilmente encontrados, e portanto também alvo de processos no Ministério Público e na Polícia Federal. Quem sabe assim, com ações reais, fora do campo das idéias, se consiga manter nossa sociedade afastada do facismo que tem chegado travestido nas mais diferentes vestes?

Com a esperança de poder voltar a falar em temas mais amenos, reproduzo parte de texto do Diego Casaes, já reproduzido em outros meios:

... O fato de que o Nordeste sempre foi a região menos favorecida do país é algo bem conhecido. A região tem os piores índices de desenvolvimento do Brasil, os investimentos do governo sempre foram menores (com uma mudança clara no governo Lula) e, colocando em termos bem claros, ninguém nunca deu a mínima para as famílias que morriam de fome por aqui durante muito tempo.

O Nordeste sempre foi negligenciado pelo Brasil, e quando havia formas de colocar isso pra fora, externalizar a situação, a oportunidade era amputada, seja pela sensação de mais uma novela, ou mesmo pelo caráter cretino da mídia de massa desse país. Precisava (e ainda precisa) que venha um gringo –ou alguém que trabalha sob um olhar estrangeiro– pra gente enxergar as coisas de uma nova forma (leia esse texto da Al Jazeera tradução aqui), e ver que há mudanças, que há vozes ali a serem escutadas e vidas humanas a serem preservadas.

Um pouco de minha insatisfação se deve ao fato de eu saber que há maneiras bastante eficazes de disseminar discursos que se oponham ao ódio na rede. Movimentos coletivos e com propósitos bem definidos e articulados de sensibilização podem atingir uma repercussão muito grande. Óbvio que isso não vai mudar o (mal) caráter dos racistas e preconceituosos, mas vai mostrar pra aquele que tá no meio do fogo cruzado que histórias sempre têm mais de um lado...

...O que eu vejo que pode acontecer aqui no Brasil, é algo parecido com o que o pessoal da Libéria fez, com suas devidas dimensões e considerações é claro.

CeaseFire Liberia uniu a diáspora do país com os que ficaram/retornaram à Libéria quando a guerra civil acabou, e estabeleceu diálogos para mudanças positivas. Minha comparação tem um objetivo claro: falar pra essa galera do Nordeste que mora no sul do país que tome uma ação e divulgue o que há de bom por aqui, e que somos pessoas comuns e capazes, como qualquer outro indivíduo.

Aos meus amigos do Sul, o dever de vocês é partilhar dessa empreitada, e mostrar que esse pensamento mesquinho não representa a sociedade sulista. Digo que isso é um dever, pois é obrigação de cada povo, de cada pessoa, defender a verdade. No dia que a gente fizer isso e deixar de ser conivente com as situações de desconforto, esse país vai mudar pra melhor de forma significativa...

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