Me perdi aqui nos meus pensamentos, no confortável mundo das minhas
opiniões. Neste mundo está tudo tão certo, tão compartimentalizado nas minhas
crenças, é tudo tão coerente que muitas vezes nem sequer me ocorre a existência
de algo distinto. Andei esquecendo que a oposição existe e precisa ser polida,
educada, venha ela de onde vier. Tendo minha opinião como escudo deixei de lado minha educação, que até uso no
cotidiano, mas na hora de me posicionar não achei necessário, afinal meu
opositor está tão errado e já cometeu tantas atrocidades que me dão direito de
julgá-lo e condená-lo. Não senti nenhum desconforto com minha dupla personalidade:
ser grosseiro e agressivo, tachar o vizinho de oligofrênico e reduzí-lo à
imagem do animal conhecido por empacar, mas ao mesmo tempo me considerar
exemplo de ser humano, de pensamento democrático e respeitador da liberdade de
expressão.
Apesar de estar
absolutamente segura daquilo que acredito, resolvi dar ouvidos a um questionamento
que teimava no fundo do meu pensamento; se estou tão certa e tenho motivos para
tal, o que fundamenta a opinião contrária a minha? E eu, criatura serena em tantas áreas da minha vida, deixei ecoar as palavras de Mahatma Gandhi - divergência de opinião jamais deve ser motivo para hostilidade. Nos embates com meus opositores quero
poder convencê-los, quero trazê-los para o meu lado. Mas como obter êxito nessa
empreitada se nem ao menos o considero enquanto ser pensante e o coloco numa
subcategoria? Foi nessa tentativa de fazer minha opinião valer que passei a
desbravar outros caminhos. Descobri que a chance de mudar a opinião do outro
está exatamente na minha capacidade de dialogar com ele e não na força com que
consigo repelí-lo. Pude perceber a força dos meus gritos, mas também dos meus
silêncios. Realizei que sendo a mesma pessoa centrada e ponderada, acolhedora e
generosa, tanto para quem comunga comigo quanto para quem se coloca em posição
diametralmente oposta, é o meio mais inteligente de agir.
Não adianta me debater
e vociferar palavras que não uso dentro da minha casa pois as diferenças de
pensamento continuarão a existir. Ainda mais no mundo globalizado das redes
sociais, em que a palavra de ordem é (ou pelo menos deveria ser) convivência.
Isto não significa dizer que não posso continuar me achando certa, expressando
meu ponto de vista, mas sem perder a noção de que não existem verdades
absolutas; significa que vou mudar a forma de fazê-lo. Muitas vezes para ser
ouvido é preciso aprender a ouvir. E esse é um grande exercício, ao qual me
proponho; manter um fundamento tão aclamado pelo Direito, que é justamente em garantir com segurança as convivências dos antagônicos. Não existe crime de opinião, este se extinguiu com a ditadura, mas o respeito recíproco é vital. Tudo porque entendi que há
um mundo além de mim e cheguei à conclusão de que as diferenças são positivas
para criar uma sociedade mais interessante, pois é a diversidade que a põe em
movimento. Parafraseando Voltaire; "não concordo com uma só palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las."