sábado, 9 de outubro de 2010

UNIDOS PELA SEPARAÇÃO



Estava assistindo a TV e falaram sobre o caso da menina Joana. Nem consegui terminar de assistir. Aquilo me consternou tanto, a forma como os fatos se desenrolaram, todo o sofrimento da criança com a separação dos pais, até os eventos ainda obscuros que cercaram sua morte. Não quero e nem tenho informações apropriadas para discorrer sobre o caso em si, até porque a mídia pinta tudo com as tintas que lhe convém, mas me ocorreu que serve de exemplo para todos os casais (afinal a possibilidade de separação existe para todos).

Para se separar um casal precisa estar unido. A frase parece no mínimo deslocada? Não, mesmo! E mais ainda o casal com filhos. É impressionante como aquelas duas pessoas que um dia compartilharam a alegria de serem pais e passaram a zelar pela integridade física e emocional dos seus filhos, simplesmente passem a priorizar toda a raiva e ressentimento envolvido num litígio. A disputa, em todos os campos, torna-se mais importante. Não estou insinuando que a separação seja algo fácil, que todo o turbilhão de sentimentos seja tranquilamente digerido. Apenas estou tentando jogar um pouco de luz na questão que de fato é essencial – a família. Se o lar se desfez, ainda existem as pessoas que tomaram parte nele, e as crianças, como nossa responsabilidade, precisam ser preservadas. Falo de união nesta hora porque o bem estar das crianças é o mínimo que vai restar em comum, e portanto precisa ser cultivado pelos dois lados.

Um texto da psicóloga e psicoterapeuta Evelyn Pryzant fala justamente sobre a separação do ponto de vista emocional da criança. Ela pontua que se para o adulto já é complicado entender toda aquela situação, para a criança é algo ainda mais imbricado, de forma que os pais precisam repensar seus valores, pesar as conseqüências de seus atos e saber se naquele momento será possível lidar com suas emoções de forma menos destrutiva. Ela usa a expressão “fazer pingue-pongue” da vida das crianças – é isso que com freqüência se vê. Os filhos passam a ser instrumentos de barganha na hora do desenlace, e o sofrimento é inevitável.

A maneira como as crianças recebem a notícia da separação dos pais depende muito de como lhes foi contado. O ideal é que ambos conversem com a criança ao mesmo tempo, mostrando que acima de tudo continuam sendo pai e mãe. É bem diferente se cada um conta ao filho da maneira que lhe parece mais conveniente, com uma versão muito própria dos fatos, e depreciando o parceiro (por mais magoado que se esteja com a outra parte, é preciso ter em foco a criança). O momento da notícia provavelmente não é o mais difícil; a maioria das crianças inicialmente parece encarar bem, mas há que se ficar muito atento, pois a maioria experimenta queda no rendimento escolar, apatia, tristeza e até somatisa de várias formas, sendo fundamental deixar claro que o fim do casamento não é o fim da família, que se trata de um problema entre os adultos, pelo qual os filhos não têm culpa. Conversar com as crianças sobre como a rotina deles vai ficar também é muito importante, não se esquecendo de ouvi-las e saber quais são suas vontades, expectativas e temores. Lembre-se: você é o adulto da relação!

Em seu livro “Filhos do Divórcio”, a psicóloga e pesquisadora Judith Wallerstein, fala destas questões. Ela acompanhou filhos de casais separados durante anos, avaliando o efeito a longo prazo da separação dos pais.  Tem razão quando diz que "quando os pais decidem pela separação após pensar bem e considerar cuidadosamente as alternativas, quando previram as conseqüências psicológicas, sociais e econômicas para todos os envolvidos, quando acertaram manter um bom relacionamento entre pais e filhos, então é provável que as crianças não venham a sofrer interferência no desenvolvimento ou desgaste psicológico duradouro”. A autora gera polêmica quando conclui que a separação é muito ruim para os filhos, que ser um filho de um casal que se separou é um problema que nunca cessa, e que casais que vivem uma situação conjugal meio morna deveriam seriamente considerar a possibilidade de continuar junto pelo bem das crianças. Não iria tão longe, mas acho que sua assertiva se presta a fazer pensar justo na união que quero destacar. É óbvio que se é para continuar junto em pé de guerra a vida de todos sofrerá um contínuo declínio, mas ter o reflexo na vida dos filhos como fiel da balança na hora de tomar as decisões é dever dos pais.

Então, nestes tempos frenéticos, com tudo acontecendo muito rápido, todo mundo correndo atrás de todos os sonhos que se tornaram possíveis (antigamente o horizonte das pessoas era mais curto), em que manter um relacionamento exige muita vontade, me parece importante manter a serenidade, o respeito, e porque não dizer, o amor (se não mais entre os cônjuges, ao menos entre pais e filhos). 

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