sábado, 2 de outubro de 2010

CLUBE DA LULUZINHA ( do diário da multimulher)

Nos últimos dias tenho lido muito material feminino (sem estereótipos). Lembrei de minha amiga Lulys que andou uma época martelando que eu precisava de um tempo só com as amigas. É muito bom, é cada papo... homens na berlinda quase sempre, trabalho, filhos, etc. A verdade é que dificilmente sobra tempo em meio a todo o corre-corre em que vivemos. Meus amigos do sexo masculino também não conseguem manter o dia do “baba” por muito tempo, logo chegam as crianças e os afazeres domésticos também os consomem. De todo jeito ela tem razão, é preciso arranjar uma forma de manter essa chama acesa e valorizar o que temos em comum simplesmente por sermos do mesmo gênero.

Do mundo feminino me volto às feministas (também sem estereótipos), afinal não pode haver um clube da Luluzinha que se preze sem erguer um brinde às mulheres unidas que jamais serão vencidas. Está lá na Wikipédia: feminismo é um discurso intelectual, filosófico e político que tem como meta direitos equânimes e uma vivência humana liberta de padrões opressores baseados em normas de gênero. Envolve diversos movimentos, teorias e filosofias advogando pela igualdade para homens e mulheres e a campanha pelos direitos das mulheres e seus interesses. Com base neste conceito se dizer feminista ainda enseja muitas lutas, e por mais que não se queira radicalizar, há sempre que se estar atento para o lugar que ocupamos nos nossos ambientes familiares e de trabalho. Os homens também precisam ter suas preocupações digamos feministas, afinal a harmonia filosófica do casal é que vai levar ao equilíbrio no real.

Ao longo de décadas tantos desejos e reivindicações ainda não foram atendidos. Desde Simone de Beauvoir até as operárias norte-americanas que morreram carbonizadas durante repressão a uma manifestação por melhores condições de trabalho nos anos 50, a crença de que é através do trabalho que diminuímos a distancia entre homens e mulheres se estabeleceu. Concentrar-se no mercado de trabalho fez a maioria de nós travarmos uma luta interna e carregar eterna culpa por não ter mais tanto tempo dedicado à família. Se levarmos em consideração que continuam os baixos salários em relação aos homens na mesma posição, imaginamos ser esta uma luta inglória. A dupla jornada de trabalho também nos acompanha.

Mas há também uma série de conquistas; o direito de voto feminino, que só existe há 76 anos (e no início eram só as mulheres casadas, com autorização dos maridos), é bastante oportuno de ser lembrado. Às vésperas das eleições de 03 de Outubro, o cenário é animador, com tantas mulheres candidatas, inclusive com primeira mulher chegando a Presidência da República (a não ser que aconteça uma hecatombe como diria Daniel no seu comoqueriamosdemonstrar). Já somos maior número de mulheres nas universidades do que os homens (as estatísticas mostram que há mais doutoras do que doutores). Esta semana também trouxe o 28 de setembro, dia pela descriminalização do aborto na América e Caribe. Não é mais possível se por à margem deste assunto, há que se discutir, pois o velho discurso esbarra na triste realidade de diversas mulheres pobres morrendo por fazer uso de métodos perigosos para tal. Há que se pensar em questões biológicas, religiosas (mesmo se considerando um Estado laico) e sociais, pensar no quanto o aborto também configura uma violência e em que medida é usado como método anticoncepcional.  Aqui entra o direito sobre o próprio corpo que está sobre a tutela do Estado, a partir do momento que é ele quem decide se o aborto é crime e quem pode, ou não, fazê-lo. Não posso esquecer-me da lei Maria da Penha, que veio para coibir a violência doméstica contra a mulher e muda a forma como este tipo de crime era encarado – deixa de ser considerado pouco ofensivo, do tipo que se podia sanar com uma cesta básica, para ser um crime punido pela legislação penal.

Tudo isso para fechar um ciclo e dizer que sou, e todas nós podemos ser, feminina e feminista. Não são de forma alguma posições excludentes. Quero poder ser mulherzinha, fazer charminho à vontade, que meu amor abra a porta do carro, mas também quero dividir as tarefas de casa, ser ouvida, ter poder de veto. Quero ser uma leoa no trabalho e ser valorizada pela minha competência, mas também quero tempo para ficar cheirosinha. Quero ganhar o mundo lá fora, mas quero ter disponibilidade para lamber minhas crias. Enfim, quero tudo, como convém a um típico exemplar de multimulher.

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