domingo, 19 de agosto de 2012

A QUESTÃO DA PROGÊNIE


A medicina veterinária, em seu ramo da reprodução animal, trabalha com touros, grandes doadores de sêmen do gado de elite e fêmeas receptoras. São muitas as variáveis para se designar um animal como bom reprodutor e em geral isto só é sabido quando ele já está mais velho e as gerações de seus descendentes já foram avaliadas. Se este tipo de análise fosse extrapolado para a medicina humana seria ainda maior o número de variáveis estudadas e muito mais tempo para se ter gerações completas. Devaneios à parte, tentando fugir de um “admirável mundo novo”, transmitir características para a prole é certo tanto para homens quanto para touros. O que define o bom reprodutor? Para a reprodução animal é aquele que transmite para os filhos suas melhores características. Mesmo os estudos de melhoramento animal se valem da genética quantitativa, em que o fenótipo é resultado do seu genótipo expresso de acordo com o ambiente em que o indivíduo é exposto. Para humanos, transmitir qualidades psíquicas e físicas é recompensador, se ver num gesto ou numa atitude é motivo de alegria, mas constituir a prole vai além da reprodução, passa principalmente por criá-la.

Existe aquilo que parece ser da natureza da pessoa, o que às vezes se diz ter “puxado” de um dos genitores. Pode-se herdar um talento do pai ou uma habilidade da mãe que vai brotar de forma inata. Tipo de cabelo, cor da pele ou olhos, tudo que acaba por distinguir uma família da outra é importante no reconhecimento do eu, e é relevante retratar estes laços. Nada disso deve ser menosprezado pois tem sua influência no produto final, seja para touros ou para os homens.

Quando se trata de pessoas, aquilo a cerca de valores que é passado é uma preocupação, principalmente porque muita coisa se passa de forma subliminar, com exemplos e com o que sequer foi dito. Apesar de não existirem fórmulas, sempre há o senso comum a nortear nossas condutas. Nesta seara muita coisa ganha peso e é uma responsabilidade gigantesca para qualquer pai. Diferentemente de um touro prestamos conta ao futuro pelo que foi ensinado aos nossos filhos. E parece haver incessantemente uma linha tênue entre o bom e o ruim quando se trata de criar filhos; estimular a autoestima versus superestimar as qualidades, cuidado versus superproteção ou interferência excessiva nos conflitos versus ensinar a se defender. Tudo isso num mundo que continua girando e com isso gerando novos desafios a serem transpostos e novas questões a serem respondidas. As diversas disposições familiares vistas hoje, orientações sexuais mais abertamente seguidas, violência, drogas e sustentabilidade são temas obrigatoriamente presentes no cotidiano atual. Fica a sensação de que educar não é mais tão intuitivo quanto um dia pode ter sido. É preciso basear-se em conceitos nos quais de fato se acredita para poder responder aos inevitáveis questionamentos com coerência. E com o agravante de que não há espaço para experimentações inconsequentes; cada passo tem um resultado. Voltando à analogia com os touros, que bom seria se maior parte disso fosse um natural transmissão de genes, mas neste caso seríamos meramente reprodutores.

Muito do que somos é determinado pela herança genética, contudo o homem permanece produto do seu meio e este ponto nos difere dos ruminantes uma vez que temos a possibilidade de transformar o meio em que vivemos.


Um comentário:

  1. Quem me dera eu fosse um consultor! kkkkk!
    A capacidade de interação genética nos animais é um fato comprovado, inclusive no homem, porém em um ser que pensa, e pensa logicamente por si só, a importância do ambiente na sua formação é o apice desta idéia.
    Quando o ambiente de seu crescimento for baseado em amor e em compreensão, certamente formará um ser humano melhor, o fator ambiente será a forma definitiva da genética quantitativa!

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