sábado, 9 de abril de 2011

"Meu menino, minha menina. Eternamente os dois serão meus."




Assim Toninho Cerezo descreve, em entrevista para a revista Lola Magazine, como se sente em relação a seu filho Leandro, agora o transexual Lea T. Pelas inúmeras recentes matérias, falar deste assunto nem sempre foi confortável, o que não é nada estranho e está longe de ser condenável. Quem de nós, pais, desejaria que seu filho trilhasse um caminho de tantos obstáculos, nesse caso até pelo nosso próprio preconceito? Os pais obviamente exercem influencia sobre os filhos, mas até onde se consegue chegar? Parece que à medida que eles crescem esta corda vai se esticando, e o segredo talvez resida em manter-se próximo, ainda que persistam as chances de se sentir fracassado com as pretensas escolhas erradas dos filhos.

Educar é preparar o filho para fazer suas próprias escolhas. Naturalmente isto exige uma generosa dose de desprendimento – permitir sua autonomia é de certa forma deixá-lo ir; aceitar suas próprias escolhas, ainda que se oponha às nossas, é talvez dissociar caminhos. A palavra-chave aqui é preparar. Todos os valores que se consegue passar, não apenas no que se fala, acima de tudo no que serve de exemplo, contribuem para torná-los preparados para fazer as escolhas. Estar atento e presente é a única forma de se tentar atingir esse objetivo, mesmo que no futuro surja a desconcertante pergunta: “onde foi que eu errei?” A isto estamos todos sujeitos, e na maioria das vezes é um sentimento de culpa injusto, até porque, em determinada etapa temos que compreender que já não somos responsáveis – ele se tornaram adultos, e ponto.  

Não se trata apenas de questões extremas, como a orientação sexual. No decorrer da vida exercemos influencia fundamental, desde as roupas a vestir, esportes para praticar, escolas onde estudar, até profissão a seguir. Sobre tudo isso com o tempo se percebe não ter absoluto controle. E a grande armadilha é justamente se supor onipotência. É preciso manter em mente a individualidade daquele ser que um dia dependeu tanto de nós e respeitá-lo como tal. Pensar o filho como extensão de nós mesmos é quase sempre inevitável, e até prazeroso, contudo não se pode perder a percepção daquilo que nos distingue. Fatalmente os filhos tomam as rédeas do próprio destino e o que é dito pelos pais já não tem tanto peso. É o caminho natural da vida. Resta-nos ter feito bem nosso papel (e continuar fazendo, é verdade!) e por tanto esperar que eles façam as melhores escolhas.   

Voltando um pouco à história de Toninho Cerezo, trata-se de um exemplo, do quanto é importante suplantar nossos próprios medos e preconceitos nesse processo de educar (imagine o que não passou pela cabeça de um craque de futebol, vivendo num mundo especialmente machista, quando realizou que seu filho se identificava com o universo feminino). A decisão de um filho da qual você discorda, não necessariamente é errada, inclusive porque os limites entre certo e errado nem sempre são bem definidos e muitas vezes dependem do ponto de vista – Lea T é uma das modelos mais badaladas do momento. E afinal, como disse Cerezo, um filho é para sempre.

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