sábado, 26 de fevereiro de 2011

A sua pele de ébano



Por longo tempo o trabalho de Lázaro Ramos vem sendo aplaudido por todo mundo, merecedor  de mais uma justa homenagem, ainda mais por saber que por trás do artista tem um garoto que sonhou, acreditou firmemente no sonho e batalhou por ele, sendo um motivo de orgulho. Cada filme que entra em cartaz traz mais satisfação por ver a arte de representar desempenhada com tanta competência. O acesso imediato permitido pelas telenovelas também comprova a versatilidade deste baiano. Bairrismo? Sim, valorizar o que está próximo é obrigação. Falar de Lázaro já estava nos planos, até por não ter falado ainda pessoalmente. A capa da revista Época desta semana acabou criando a oportunidade.

A publicação se propõe a mostrar o que o sucesso  do ator Lázaro Ramos no papel de um playboy rico e sedutor revela sobre a ascensão dos negros no Brasil. Alçado ao posto de galã por um clichê já visto outras vezes, Lázaro Ramos vem sendo alvo de mais uma polêmica sem sentido – alguns se manifestam como se o personagem fosse sim uma bandeira, outros discutem se o tipo físico casa com o sedutor. Difícil de entender, já que o personagem em momento algum se posiciona como representante de um grupo, nem se está querendo vender a imagem do ator como o homem mais bonito do mundo. Verdade seja dita, se está gerando polêmica é porque não passa  despercebido. Ser ou não talhado fisicamente para o título com certeza não está tirando seu sono, mas a ocasião é boa para pontuar algumas questões.

Um ator deve ser dotado de múltiplos talentos, o principal deles, aquilo que torna possível viajarmos nas maravilhosas histórias do cinema, teatro e televisão, é a  capacidade de tornar o personagem crível. Fazer o público acreditar que aquele jovem designer é rico, pedante e pegador é a grande  missão deste profissional. Qualidade para isto Lázaro já mostrou ter de sobra. Outro aspecto a ser lembrado é a questão do estereótipo impresso há muito no imaginário coletivo – galã é um homem lindo (descordo totalmente, até em nome dos vários homens charmosos que já estiveram na posição) com traços finos mais nórdicos do que se vê no missigenado Brasil. Há ainda o hábito de verem sempre este artista em papéis mais ligados a produções de humor.   

Polêmicas à parte, como levantado pela reportagem de Época, a posição ocupada por Lázaro Ramos na trama novelesca é sintomática; sinaliza uma mudança real na inserção social e econômica dos negros. Isto se dá tanto na sensação geral de que um negro se destacar não é mais algo fora do comum quanto nos números que mostram maior percentual de negros nas faculdades, ascenção dos mesmos a grupos de maior poder aquisitivo e maior olhar dos diversos segmentos da indústria para este público. Muita coisa ainda precisa ser conquistada, contudo o maior acesso a educação tem permitido que as novas gerações sejam mais despidas de preconceitos (de todos os tipos), além de se observar cada vez mais mistura racial na população. A verdade é que, como diz a música Olhos Coloridos, todo brasileiro tem sangue crioulo. Esta simples constatação é suficiente para ampliar o campo de visão da nossa sociedade e fazer com que se revertam as situações de preconceito. Ser protagonisa desta, porque não dizer, re- evolução, ainda que sem pretensão, cabe bem a Lázaro que sempre se colocou de maneira reta diante destas questões. Mais uma salva de palmas para ele!

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