sábado, 15 de janeiro de 2011

DESARME-SE



Na última segunda-feira fomos bombardeados por notícias sobre criminalidade em Salvador; diziam ser 33 homicídios num único final de semana. Não que se trate de uma novidade, porém quando esta realidade é esfregada nos seus olhos gera uma espécie de choque elétrico. Fiquei muito preocupada e verdadeiramente apreensiva, aliás como qualquer cidadão que se vê refém da violência, principal causa de morte nos dias de hoje.  Nestas horas pensamos logo em nossas crianças, em que futuro terão e no que é possível fazer para mudar esse cenário. Lembrei-me da campanha de desarmamento, uma iniciativa do poder público abraçada por parte da sociedade.

As estatísticas do Governo apontam que a campanha do desarmamento reduziu em 11% a mortalidade por armas de fogo entre 2003 e 2009. Seria natural imaginar que esta mortalidade  estivesse apenas relacionada a violência interpessoal, crimes passionais ou acidentes, mas trata-se de uma reação em cadeia, uma vez que  o armamento do cidadão comum com freqüência vai parar nas mãos dos criminosos. Seguindo este raciocínio, a redução da circulação de armas também serve para reduzir o arsenal bélico dos criminosos. Um aspecto que se explicita em relação ao desarmamento é que há  algo estranho  em se dizer que é preciso desarmar a população. Faz lembrar a constituição de regimes totalitários que já vimos na história da humanidade, mas é essencial focar na necessidade de reduzir a circulação de armas.

Falando em arsenal bélico, uma informação chama a atenção; o Brasil é o segundo maior produtor de armas leves do Ocidente, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Este mercado movimenta milhões de dólares, de acordo com informações do Instituto de Altos Estudos Internacionais de Genebra. O mesmo levantamento aponta que existem cerca de 17 milhões de armas leves em circulação no país, quase uma para cada dez habitantes. Deste total, 57% são ilegais ou sem porte, a maior parte delas com grupos criminosos (mais que o dobro do número  de armas da policia). Para a população é importante ressaltar que possuir uma arma traz uma falsa sensação de segurança, como cita  o  coordenador do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais; e acrescenta “ a pessoa que porta uma arma se torna ainda mais vulnerável à violência”. Quanto aos criminosos, que como já foi dito, conseguem as armas principalmente roubando tanto de civis quanto das polícias, além de supostas exportações para posterior reintrodução ilegal, é preciso maior fiscalização e registro das armas no país, com controle também na compra (na tentativa de evitar que pessoas despreparadas as obtenham).

Em 2004 foi sancionado o Estatuto do Desarmamento, foi considerada uma iniciativa eficaz, e depois da última campanha em 2009, caiu no esquecimento. É verdade que em 2005 houve o referendo popular em que, apesar da alta taxa de abstenção, o povo votou contra – a maioria temerosa pela possibilidade de que o Governo não nos proporcione segurança pública e ainda nos tire a possibilidade de defesa – vejo o resultado como falta de uma discussão mais  profunda do assunto. Agora há uma retomada na questão; a campanha está sendo planejada pelo Ministério da Justiça em parceria com a Rede Desarma Brasil e será permanente a partir de 2011. As pessoas podem entregar as armas que tem em casa na Polícia Federal e receber uma indenização que varia de acordo com o modelo e data de fabricação das  mesmas.

Independente de iniciativas governamentais a sociedade precisa se desarmar, não só literalmente. É imprescindível fomentar uma cultura de paz, encontrar longe da violência  formas de resolução dos conflitos (um exemplo de como a mentalidade  influencia é o fato de  que países onde circula um maior número de armas do que o nosso tem níveis menores de violência). E se engajar na questão prática - Denis Mizne, diretor do Instituto Sou da Paz, constatou em entrevista: “se a maioria das armas está com civis, então é problema da sociedade e é ela que precisa entender sua gravidade”. 


Um comentário:

  1. A violência é na Bahia, assim como em muitos estados da federação, um fato, não tem como negar, no entanto ela não aumentou como dizem alguns, apenas passou a ser divulgada em sua real dimensão e não escamoteada como procurava fazer crer um certo grupo que dominou este estado durante muitos anos. Contudo quando o estado resolve combatê-la de forma mais eficiente a sensação inicial que se tem é de um aumento da violência, haja visto a história recente do Rio de Janeiro.

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