Vinte e cinco anos de idade, mas olhar
sincero e o sorriso ingênuo revelam uma criança. De longe fita com cuidado, se
a empatia for verdadeira se aproxima, caso contrário repele com fervor
desconcertante. Estaria aqui ou em um lugar distante, como que sonhando
acordada? Será que enxerga mais do que os simples mortais? Definitivamente há algo
de enigmático por trás daquela face por vezes inexpressiva, contudo a poucos é
dada a possibilidade de desvendá-lo.
De repente o passado se insinua como se fosse
um filme. É possível ver aquela pessoa ao nascer, sua mãe talvez não estivesse
preparada, afinal com seu bebê ia ser tudo diferente. Muniu-se da única arma
possível; o amor. E juntos percorreram um caminho de muitos obstáculos e
desafios, mas também de um aprendizado incomparável. O mundo lhe dizia todo o
tempo que aquela pessoa pela qual se desdobrava era diferente. Diferente de
quem? Quem é a perfeição de referência? Em princípio até que comprou esta
história, mas com o passar dos dias percebeu que sua criança tudo podia
dependendo do estímulo que lhe era dado. Tinha seu próprio ritmo, é verdade,
mas alcançava seus objetivos a seu modo. Daí em diante nada segurou a dupla. É
óbvio que a trajetória vai muito além da dedicação financeira para bancar
terapias específicas, muitas vezes tratamentos médicos, exige um
comprometimento verdadeiro, mas pensando bem, qual o pai ou mãe não precisa
desta intensidade? E foi encarando a situação com naturalidade que toda a
família se envolveu na criação daquele membro tão valoroso quanto os outros.
Aos que insistem em rotulá-los de diferentes, esta é mais uma família que
comprova: pensando bem são diferentes mesmo – diferentes na capacidade de amar
sem pedir nada em troca, diferentes na sinceridade em tudo que fazem,
diferentes no impacto positivo que geram em seus lares.
Alguns se referem a esta condição como o
cromossomo do amor, tamanho o sentimento que aflora de seus portadores e
pessoas ao seu redor. A trissomia do cromossomo 21, também conhecida como
Síndrome de Down, não escolhe credo, raça ou classe social. Com ela nascem
vários níveis de comprometimento físico e mental, os quais com frequência requerem
tratamentos específicos. O dia-a-dia da criança portadora é certamente
trabalhoso, não muito distinto das outras. Não é fácil de ser encarada, porém é
um desafio recompensado diuturnamente. E eles estão por aí crescendo,
adolescentes e adultos que vivem como os demais, com dilemas e incertezas. Passados
vinte e cinco anos, vê-se o quanto a sociedade mudou, o quanto as questões relacionadas
à inclusão são discutidas e de fato se consegue ter uma vida plena nos dias de
hoje. Por outro lado vê-se que ainda há muito o que melhorar e o principal está
numa mudança genuína de comportamento. Aqueles que têm
filhos não portadores da síndrome tem importância enorme nesta questão à medida
que ensinam o respeito às diferenças e apoiam estas iniciativas. Ganha
todo mundo, pois a convivência com estas crianças abre um mundo de
possibilidades. As políticas públicas para o enfrentamento da questão
também precisam ser exigidas. Quando de fato
abrirem-se os corações e o acolhimento for natural o enigma estará desvendado.
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