domingo, 17 de julho de 2011

EU SOU EU, VOCÊ É VOCÊ!



Com esta frase Catarina se posicionou numa situação corriqueira em que discordávamos. Fiquei atônita, na verdade dei uma pirada, afinal ela tem apenas quatro anos. Meu bebê é uma pessoa à parte de mim! Respirei fundo e tentei me recompor dominando a situação – significa que você vai me desobedecer? Ela muito tranquilamente negou e argumentou seu ponto de vista. Permaneci ali parada decidindo entre ter um discurso autoritário ou seguir apostando no diálogo. Enfim chegamos a um denominador comum, selamos a paz com um beijo, e aprendi mais um grãozinho neste longo e árduo caminho que educar.

Todo autor de psicologia infantil que já li até hoje fala sobre a extensão  que a criança nos faz dela;  o bebê que está na fase de amamentação não sabe onde acaba ele mesmo  e começa o seio materno. Mais tarde, por experiência própria, descobri que essa é uma via de mão dupla a partir do momento em que a gente também se projeta nos filhos (para o bem e para o mal). Esta fase simbiótica pode se estender e até tornar-se uma questão patológica. Orientam os especialistas, por conta disto, que se deve paulatinamente trilhar o caminho da autonomia da criança.

O conceito de autonomia entra nessa equação de forma delicada. A maioria dos pais de filhos pequenos não está preparada para ver o filho “andar com suas próprias pernas” e tomar decisões sozinho, mas o tempo se encarrega  de moldar aos poucos esta nova perspectiva. O problema é perder a medida e ter que administrar tais conflitos adiante com os filhos, os quais devem conquistar a autonomia mostrando maturidade e responsabilidade, capacidade de discernir entre certo e errado.

Não digo que seja fácil desatar esses nós e aos poucos ir cortando o cordão umbilical, pois apesar de representar uma vitória no papel de  pais, ver o filho independente traz uma certa sensação de perda. É uma vitória por motivos óbvios; formar um indivíduo coerente, íntegro, capaz de expressar suas opiniões e ser crítico é nosso gol de placa. Por outro lado há uma certa dificuldade de deixar o filho crescer, não estar ao lado para protegê-los nesse mundo doido.  Exercitar esse talvez desapego vai de encontro a nosso mais primordial extinto materno de afagar os filhos em nosso aconchego. Permitir que eles tropecem e aprendam com os próprios erros é única forma de ensinar o valor das coisas, mas é duro.

A questão é que trata-se de algo inevitável e o que resta é estar atento, ser uma referência constante e dar instrumentos para que cresçam da melhor maneira possível.  A cada nova etapa da vida do filho estar junto preparando-o para os novos desafios, não esquecendo de que isso requer determinar limites claros. É comum nos dias de hoje, talvez por conta da escassez de tempo, os pais abrirem um pouco mão de sua coerência em nome de compensar os filhos.  Vale ressaltar que ser permissivo é a pior maneira de responder às demandas dos filhos. Como bem disse a psicóloga Ana Carolina de Araújo, “a liberdade deve ser gradual, dada em passos pequenos. Cabe a você – pai e mãe – gerenciar esses passos”.

Um comentário:

  1. Rapadura é doce mas não é mole não! Contudo, o único caminho verdadeiro e honesto com a prole é este!

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