sábado, 4 de setembro de 2010

DIÁRIO DA MULTIMULHER - PARTE 2 (3, 4, 5...)







Meu marido costuma repetir uma frase que ouviu não sei onde – mulher não é para entender, é para decorar (e eu complemento com minha contribuição de estímulo à monogamia; decore a sua, ponto!). Será que as mulheres de fato são tão difíceis de entender? O imaginário coletivo reverbera esta crença, o tempo todo ouvimos dizer o quanto homens e mulheres são diferentes (confesso que repito isso com um certo ar de superioridade; mulher é multi, e dá realmente conta de várias coisas ao mesmo tempo), que toda mulher é meio maluca, e por aí vai.


Nos moldes de investigadores que me antecederam, fui a campo em busca de respostas. Defini por não revelar aos “meus entrevistados” a existência da minha enquete, mantendo apenas conversas informais (por isso não serão reveladas as identidades dos queridinhos).  Comecei por um veterinário com quem tenho muita intimidade e que soltou mais uma pérola; “mulher é bicho brabo, sangra todo mês e não morre, ah! ah!, brincadeirinha, mas é tudo esquisita!” Conversando com um Administrador, descobri que é mais prudente dizer que elas têm razão do que seguir em frente num bate-boca (elas não desistem nunca e ainda guardam pequenos erros para futuras referências). Num certo plantão os colegas deixaram escapar que não dá para entender as mulheres – o solteiro pensava que as mulheres faziam tipo até casar, mas depois se revelavam espécies de tiranas, e o casado teve que ser mais comedido dizendo que o problema era a TPM (termo consagrado, muitas vezes utilizado erroneamente, principalmente quando eles não querem dar crédito às nossas queixas). Um amigo, muito chegado, reclamava que a mulher exigia que ele não só realizasse as tarefas domésticas, como também quisesse fazê-las – “querer fazer já é demais”!  


Minha percepção é de que a opinião é meio que unânime (não vai dar para usar aquela história de que toda unanimidade é burra). A verdade é que saímos do sério porque ele só faz as coisas quando solicitado, vivemos à beira de um ataque de nervos, dizemos um não que quer dizer sim, exigimos que ele leia as entrelinhas, tudo que mais queremos é que a vida dele tenha começado depois de nos conhecer, mas não resistimos à curiosidade pelos relacionamentos antigos. E as músicas? Complicada e perfeitinha; mulher é bicho esquisito; toda mulher se faz de doida; dizem que a mulher é sexo frágil, mas que mentira absurda. Há de existir um nexo causal.


Como o assunto tem tudo haver com Psicanálise, consultei o que dizem os especialistas. Lacan dizia que as mulheres não existem, no sentido de que não há uma definição padrão do que é ser mulher.  O psicanalista e psiquiatra paulista Jorge Forbes escreveu que as mulheres são basicamente insatisfeitas. Heloneida Neri, em sua dissertação de mestrado, constata que na maioria dos atos transgressivos das mulheres, a paixão e o amor aparecem como causas. O italiano Contardo Caligaris da sua receita para lhe dar com as mulheres: amar o outro não apesar de sua diferença, mas por ele ser diferente. Fui obrigada a tomar tudo isso como verdade depois que li a seguinte frase de Freud: “a grande pergunta que nunca foi contestada e à qual nunca pude responder, apesar de meus 30 anos de investigação da alma feminina, é: o que quer uma mulher?” Se nem Freud explica...

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