No
fundo tenho uma angústia. Para falar a verdade nem sempre é tão lá no fundo. É a
pergunta que persiste. Estou fazendo certo? E quer saber? Cheguei à conclusão
que é uma pergunta importante demais e deve persistir sim! Quando o assunto é
criar filhos, se questionar sempre é bem-vindo. Afinal eles são fruto de muitas
coisas interagindo entre si, mas certamente há um grande peso da forma como
foram educados. Principalmente na primeira infância, nos primeiros
ensinamentos, nas primeiras frustrações. Fico muito tocada com essa coisa da
frustração na vida de minhas filhas. Confesso que tento não as deixar se frustrar,
o que é uma luta por vezes inglória já quando os filhos são pequenos e depois
que vão crescendo é com derrota certa. Tenho plena consciência. É nessa hora
que o outro lado da moeda se mostra – se não pode com o inimigo, una-se a ele;
ou melhor, se as frustrações de seu filho são inevitáveis (aquelas que você não
pôde driblar, escamotear, disfarçar, esmagar, destruir, adiar, protelar...enfim...você
que tem filho sabe do que estou falando), comece a ensiná-lo a lidar com elas. É
um dilema! É necessário! É intransferível! É a vida!
Foi
com esse dilema que me peguei agora a pouco. Minha pequena esqueceu a bolsinha
num banheiro de shopping. Dentro estava seus tesourinhos do dia – seu aparelho celular
recém conquistado, seu estimado gloss Victoria Secret e um dinheirinho para o
lanche. Demoramos para dar por falta da bolsa. Retornamos ao tal banheiro. Sua
carinha arrasada me devastou. “Não vamos desistir, amada”! “Mãe, era um
banheiro infantil, as crianças devem estar tentando devolver”! Pensei comigo
que as crianças talvez sim, mas há grandes chances de os adultos que as
acompanham não. Guardei o pensamento; é a hora de ensinar a lidar com a
frustração, mas sem destruir a crença nas pessoas, meio na dúvida se já não era
hora de dar uma amenizada na crença nas pessoas, mas vamos lá!
Nos
dirigimos ao “achados e perdidos”, registramos a queixa, deixamos nossos
contatos, demos umas voltinhas para ver se víamos a bolsinha passeando em
alguém, em meio aos reforços positivos que a situação pedia – não precisa
chorar, é possível que a gente ache, se não mamãe repõe, são apenas bens
materiais, tudo serve de aprendizado, da próxima vez não despendura a bolsa do
corpo (essa não podia faltar!). O que queria na verdade era que as pessoas me
surpreendessem (já que para minha filha crente nas pessoas não seria uma
surpresa) e encontrássemos tudinho intacto.
Está
aí uma coisa especial em criar filhos. Talvez lá em cima, no primeiro
parágrafo, eu tenha feito soar como uma coisa unilateral. Longe de mim. É mão-dupla
total. E desconfio que muito mais aprendo do que ensino. E naquele meu esforço
de tentar ser realista sem ser negativa eis que ela me contagiou com sua
tranquilidade e certeza de que alguém traria a tal bolsa. Porque não se trata
meramente da bolsa – se trata de ter fé nas pessoas, acreditar na bondade e no
respeito ao próximo. Não é isso que venho tentando ensinar? Ela aprendeu. Me
ensinou de volta. Foi bem nessa hora que realizei – eu própria estava
frustrada; por ela estar frustrada, por eu não ter vigiado a bolsa, por ter isso
ao shopping, e sei lá mais pelo quê. Mais uma vez a vida nos golpeia dizendo
que ela é um eterno aprendizado.
Sabe
a frustração? Nós acabamos lidando bem com ela. Mas também o mundo sorriu muito
para nós naquela noite. Depois de muita oração (outro aprendizado valioso que
venho tentando passar) um telefonema nos trouxe a bolsinha de volta, intacta. Meu
pensamento: “ainda tem gente de bem nesse mundo”! O dela: “claro que o mundo
tem muita gente de bem”!
E
foi assim que um episódio talvez cotidiano nos trouxe grandes lições. Muito
provavelmente havia uma mãe ou um pai lá do outro lado, naquele banheiro
infantil, experimentando aquela mesma angústia minha de fazer o certo com seus
filhos. Que bom que não estamos sós!