Um grupo de humoristas
de Mumbai, o “All India Bakchod”, lançou este vídeo após um estupro coletivo na
Índia ano passado. Na época as velhas proposições de culpabilidade da vítima
foram ditas por pessoas importantes no país, o que suscitou muitos protestos. O
vídeo usa a ironia para refutar estas opiniões conservadoras, as quais mostram
que estupro não é apenas uma violência interpessoal, mais que isso, um tipo de
crime com cunho social. Parece coisa lá da distante e populosa Índia, com uma
cultura que escancaradamente coloca a mulher em segundo plano, mas é um
problema em todo o mundo.
Há cerca de dois anos,
após o estupro seguido de morte de uma garota canadense, houve uma declaração
cretina de um policial: “parem de se vestir como vadias”. Este episódio deu
origem à chamada “Marcha das vadias” que saiu de Toronto para o mundo. O
manifesto tocava justamente num ponto que talvez ande por aí no inconsciente
coletivo; o de que a mulher talvez tivesse provocado o criminoso, com o uso de
determinadas roupas e determinadas atitudes, negando-se todos eles. Nada
justifica a violência sexual.
Aqui no Brasil também
pudemos testemunhar nossas “pérolas”, como em outubro passado quando do estupro
de uma jovem catarinense. Um dos policiais no caso, diga-se de passagem uma
mulher, deu dicas de como evitar um estupro; se mora sozinha, evitar chegar sempre no mesmo horário, fazer caminhos diferentes todos os dias, enfim tentar driblar o marginal. Apesar de bem intencionadas, estas dicas dão força à idéia de que o crime possa ser evitado pela vítima. Corroboram uma noção de que a potencial vítima poderia ter evitado a violência sexual, motivo pelo qual muitas mulheres deixam de denunciar as agressões. Posicionamentos assim são antigos; desde muito pequenas as mulheres são orientadas a não se expor para não dar espaço a abusos e assédios. De qualquer modo são baseadas na análise da vitimologia e fazem parte das estratégias para prevenção e alerta da população. Nesse cenário entram diversas questões,
muitas reverberadas por autoridades policiais, como culpabilizar a vítima,
focar prevenção nela própria, a forma como a mulher ainda é vitimada pelo
domínio do homem, aceitar que existam em nosso convívio criaturas capazes de
tamanha atrocidade. Retratam o despreparo das autoridades em tratar um tipo de
crime tão delicado, muitas vezes praticados por pessoas da família ou muito
próximas.
Recentemente
estatísticas do 7º Anuário Brasileiro de Segurança
Pública mostram que em todo o País foram registrados 50,6 mil casos, o
correspondente a 26,1 estupros por grupo de 100 mil habitantes. Em 2011, a taxa
era de 22,1. O número de estupros é maior que o de homicídios dolosos no
período. Reflete, é claro, o maior número de denúncias, em virtude da
conscientização popular e das políticas públicas (hoje, com status de
ministério, existe a Secretaria de Políticas para as Mulheres), a mudança no código
penal que abrange o que deva-se chamar estupro (depois da Lei Maria da Penha
qualquer ato libidinoso, mesmo sem conjunção carnal, é considerado estupro),
mas ainda são números altíssimos.
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