A medicina veterinária, em seu
ramo da reprodução animal, trabalha com touros, grandes doadores de sêmen do
gado de elite e fêmeas receptoras. São muitas as variáveis para se designar um
animal como bom reprodutor e em geral isto só é sabido quando ele já está mais
velho e as gerações de seus descendentes já foram avaliadas. Se este tipo de
análise fosse extrapolado para a medicina humana seria ainda maior o número de
variáveis estudadas e muito mais tempo para se ter gerações completas.
Devaneios à parte, tentando fugir de um “admirável mundo novo”, transmitir
características para a prole é certo tanto para homens quanto para touros. O
que define o bom reprodutor? Para a reprodução animal é aquele que transmite
para os filhos suas melhores características. Mesmo os estudos de melhoramento
animal se valem da genética quantitativa, em que o fenótipo é resultado do seu
genótipo expresso de acordo com o ambiente em que o indivíduo é exposto. Para humanos,
transmitir qualidades psíquicas e físicas é recompensador, se ver num gesto ou
numa atitude é motivo de alegria, mas constituir a prole vai além da reprodução,
passa principalmente por criá-la.
Existe aquilo que parece ser
da natureza da pessoa, o que às vezes se diz ter “puxado” de um dos genitores.
Pode-se herdar um talento do pai ou uma habilidade da mãe que vai brotar de
forma inata. Tipo de cabelo, cor da pele ou olhos, tudo que acaba por
distinguir uma família da outra é importante no reconhecimento do eu, e é relevante
retratar estes laços. Nada disso deve ser menosprezado pois tem sua influência no
produto final, seja para touros ou para os homens.
Quando se trata de pessoas,
aquilo a cerca de valores que é passado é uma preocupação, principalmente
porque muita coisa se passa de forma subliminar, com exemplos e com o que
sequer foi dito. Apesar de não existirem fórmulas, sempre há o senso comum a
nortear nossas condutas. Nesta seara muita coisa ganha peso e é uma
responsabilidade gigantesca para qualquer pai. Diferentemente de um touro
prestamos conta ao futuro pelo que foi ensinado aos nossos filhos. E parece
haver incessantemente uma linha tênue entre o bom e o ruim quando se trata de
criar filhos; estimular a autoestima versus superestimar as qualidades, cuidado
versus superproteção ou interferência excessiva nos conflitos versus ensinar a
se defender. Tudo isso num mundo que continua girando e com isso gerando novos
desafios a serem transpostos e novas questões a serem respondidas. As diversas disposições
familiares vistas hoje, orientações sexuais mais abertamente seguidas, violência,
drogas e sustentabilidade são temas obrigatoriamente presentes no cotidiano
atual. Fica a sensação de que educar não é mais tão intuitivo quanto um dia
pode ter sido. É preciso basear-se em conceitos nos quais de fato se acredita
para poder responder aos inevitáveis questionamentos com coerência. E com o
agravante de que não há espaço para experimentações inconsequentes; cada passo tem
um resultado. Voltando à analogia com os touros, que bom seria se maior parte
disso fosse um natural transmissão de genes, mas neste caso seríamos meramente
reprodutores.
Muito do que somos é determinado pela herança genética, contudo o homem permanece produto do seu meio e este ponto nos difere dos ruminantes uma vez que temos a possibilidade de transformar o meio em que vivemos.