quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A MULTIMULHER, O CASAMENTO E A PANELA DE PRESSÃO



Com a correria do dia-a-dia é comum não encontrar tempo para se reunir com os amigos. Aquela saída divertida longe das preocupações domésticas é sempre bemvinda e saudável. Ela fortalece os laços de amizade, relaxa das tensões do cotidiano, além de servir para enriquecer as relações dos casais, uma vez que possibilita ter novidades para contar, manter-se vivo e interessante para o outro.

A individualidade é fator importante no casamento. Por mais que se viva em completa harmonia, a simbiose não pode ser tal que anule os anseios e as percepções de cada um. Estar bem consigo mesmo, emitir suas próprias opiniões e manter seus próprios interesses é o que faz o ser humano sentir-se pleno. Um estudo sobre terapia familiar intitulado “O difícil convívio da individualidade com a conjugalidade”, da professora da PUC-RJ Terezinha Féres-Carneiro, aponta bem o que a questão envolve. O título já é bastante esclarecedor, mostrando que de fato a dualidade vivida pelos pares num casamento é delicada e alcançar uma harmonia não é fácil, até porque, à primeira vista parecem excludentes. A pesquisa afirma que na lógica do matrimônio um e um são três – dois sujeitos (duas percepções de mundo) geram uma identidade conjugal, um projeto de vida. Criar este modelo único pressupõe espaço para cada personalidade expressar o que sente. E é neste ponto com muitos relacionamentos engasgam, o que cedo ou tarde traz cobranças mútuas, arestas que se não forem aparadas determinaram o fim.

Manter vivo esse espaço de manifestação das personalidades num casal é um trabalho de formiguinha, uma construção diária que demanda atenção. Um dos pilares desta construção é estar com os amigos (os seus, os meus e os nossos), o que promove equilíbrio emocional para o casal. Ter privacidade com os amigos, falar bobagem, ser confidente de alguém e trocar experiências ajuda no crescimento pessoal e é muito importante, principalmente se imaginarmos que a maioria das amizades duram mais que os casamentos. Cultivar as amizades auxilia a quebrar a rotina e a falta de assunto que muitas vezes mina os relacionamentos. O casal que decide se fechar corre o risco de em algum momento implodir. É como uma panela de pressão; necessita de uma válvula de escape para respirar e ser aquela pessoa pela qual valeu a pena a conquista. As mulheres historicamente reconheceram esta necessidade mais tardiamente que os homens – o futebol com os amigos é um costumaz vilão nas batalhas domésticas. Toda multimulher, mesmo que no campo das idéias, trava um equivalente, mas sua característica primordial é se moldar à tal multiplicidade de papéis. Com o tempo ela foi conquistando um espaço na sociedade, e consequentemente no casamento, que propõe uma relação mais equânime, onde suas realizações pessoais e seu sucesso profissional também têm importância. Esta nova conformação ratifica que há vida fora do casamento e faz com que as pessoas fiquem juntas cada vez mais pelo prazer dessa troca. Ter seu “clube da Luluzinha” é ótimo, faz voltar para casa cheia de energia e disposição, te põe em movimento. No final é tão enriquecedor pessoalmente que reflete de forma positiva na qualidade e longevidade conjugal.

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