domingo, 10 de setembro de 2017

A PERGUNTA QUE PRECISA PERSISTIR




No fundo tenho uma angústia. Para falar a verdade nem sempre é tão lá no fundo. É a pergunta que persiste. Estou fazendo certo? E quer saber? Cheguei à conclusão que é uma pergunta importante demais e deve persistir sim! Quando o assunto é criar filhos, se questionar sempre é bem-vindo. Afinal eles são fruto de muitas coisas interagindo entre si, mas certamente há um grande peso da forma como foram educados. Principalmente na primeira infância, nos primeiros ensinamentos, nas primeiras frustrações. Fico muito tocada com essa coisa da frustração na vida de minhas filhas. Confesso que tento não as deixar se frustrar, o que é uma luta por vezes inglória já quando os filhos são pequenos e depois que vão crescendo é com derrota certa. Tenho plena consciência. É nessa hora que o outro lado da moeda se mostra – se não pode com o inimigo, una-se a ele; ou melhor, se as frustrações de seu filho são inevitáveis (aquelas que você não pôde driblar, escamotear, disfarçar, esmagar, destruir, adiar, protelar...enfim...você que tem filho sabe do que estou falando), comece a ensiná-lo a lidar com elas. É um dilema! É necessário! É intransferível! É a vida!

Foi com esse dilema que me peguei agora a pouco. Minha pequena esqueceu a bolsinha num banheiro de shopping. Dentro estava seus tesourinhos do dia – seu aparelho celular recém conquistado, seu estimado gloss Victoria Secret e um dinheirinho para o lanche. Demoramos para dar por falta da bolsa. Retornamos ao tal banheiro. Sua carinha arrasada me devastou. “Não vamos desistir, amada”! “Mãe, era um banheiro infantil, as crianças devem estar tentando devolver”! Pensei comigo que as crianças talvez sim, mas há grandes chances de os adultos que as acompanham não. Guardei o pensamento; é a hora de ensinar a lidar com a frustração, mas sem destruir a crença nas pessoas, meio na dúvida se já não era hora de dar uma amenizada na crença nas pessoas, mas vamos lá!

Nos dirigimos ao “achados e perdidos”, registramos a queixa, deixamos nossos contatos, demos umas voltinhas para ver se víamos a bolsinha passeando em alguém, em meio aos reforços positivos que a situação pedia – não precisa chorar, é possível que a gente ache, se não mamãe repõe, são apenas bens materiais, tudo serve de aprendizado, da próxima vez não despendura a bolsa do corpo (essa não podia faltar!). O que queria na verdade era que as pessoas me surpreendessem (já que para minha filha crente nas pessoas não seria uma surpresa) e encontrássemos tudinho intacto.

Está aí uma coisa especial em criar filhos. Talvez lá em cima, no primeiro parágrafo, eu tenha feito soar como uma coisa unilateral. Longe de mim. É mão-dupla total. E desconfio que muito mais aprendo do que ensino. E naquele meu esforço de tentar ser realista sem ser negativa eis que ela me contagiou com sua tranquilidade e certeza de que alguém traria a tal bolsa. Porque não se trata meramente da bolsa – se trata de ter fé nas pessoas, acreditar na bondade e no respeito ao próximo. Não é isso que venho tentando ensinar? Ela aprendeu. Me ensinou de volta. Foi bem nessa hora que realizei – eu própria estava frustrada; por ela estar frustrada, por eu não ter vigiado a bolsa, por ter isso ao shopping, e sei lá mais pelo quê. Mais uma vez a vida nos golpeia dizendo que ela é um eterno aprendizado.

Sabe a frustração? Nós acabamos lidando bem com ela. Mas também o mundo sorriu muito para nós naquela noite. Depois de muita oração (outro aprendizado valioso que venho tentando passar) um telefonema nos trouxe a bolsinha de volta, intacta. Meu pensamento: “ainda tem gente de bem nesse mundo”! O dela: “claro que o mundo tem muita gente de bem”!

E foi assim que um episódio talvez cotidiano nos trouxe grandes lições. Muito provavelmente havia uma mãe ou um pai lá do outro lado, naquele banheiro infantil, experimentando aquela mesma angústia minha de fazer o certo com seus filhos. Que bom que não estamos sós!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

BODAS DE CRISTAL

Ah ... o casamento... união voluntária de duas pessoas de onde se estabelece uma família. E lá se vão 15 anos, Bodas de Cristal.

Casamento não é fácil. No começo é muito querer e vaga noção do que será o convívio. Depois todos os sentimentos e expectativas vão sendo postos à prova e a longevidade vem para quem entende que envolve ceder, moderar, aceitar e muitas vezes procrastinar, mas felizmente também envolve amor, dedicação, parceria e cumplicidade. Sempre os dois lados - sou eu reclamando que você não me ouve, que só faz as coisas quando quer e que precisa ter mais atitude – é você reclamando que sou intempestiva, que tenho reações exageradas e que não sei lidar com as frustrações. E são justamente os contrastes que nos permitem nos completar. Por sorte vem junto eu dizendo o quanto você é carinhoso, marido dedicado e pai presente, e você a elogiar minha garra, determinação e o enorme coração.  Somos nós no nem sempre doce esforço de manter a velha chama acesa.


A rotina frequentemente é uma armadilha, mas o engraçado é que de alguma forma ela nos conforta. É claro que o friozinho na barriga não existe mais, o sabor das surpresas do desconhecido, a expectativa dos primeiros encontros. Agora entra em cena nossa capacidade de transformação, de dar um passo adiante e valorizar o amor das calmarias que pode e deve ser apimentado aqui e ali, basta querer estar junto e cultivar a sintonia. Até porque, chegam as crias e outro tipo de amor passa a transbordar na casa, aflora o melhor de nós, e fica mais complicado se pensar homem e mulher, pois somos invadidos pelo pai e pela mãe, viramos mais família, uma construção que quisemos para nós.


A verdade é que o tempo tem sido nosso amigo; nos ensinou a conhecer um ao outro, e sobretudo a saber o que esperar um do outro. Talvez o segredo, se é que existe, more exatamente neste ponto; nas expectativas dotadas do real e do concreto, longe do fantasiado um dia.  Isto permite, dentre outras coisas, que saibamos onde pisamos, e possamos compor nossas histórias pessoais, preservando interesses individuais, assim mantendo infinitas possibilidades de trocas entre nós e enriquecendo nossa relação.

Nem tudo são flores, as ausências existem, para o bem e para o mal (e hoje tenho a impressão de que soubemos tirar proveito delas), mas nos fortalecemos e chegamos até aqui. E reconheço em nós a alta qualidade e transparência do cristal. Que venham as características de todos os outros materiais que denominam as bodas – prata, rubi, ouro, diamante...sigamos equilibrando os diversos papéis, mantendo ativa a curiosidade mútua, a capacidade de rir junto, um do outro e um para o outro, entendendo as entrelinhas e as meias-palavras, secando as lágrimas que venham a cair, por tristeza ou por felicidade, afinal o combustível que nos move é o amor.

domingo, 7 de agosto de 2016

NA CORRERIA

Parece uma extensão de tudo que vivo no dia-a-dia; correr já é normal para nós mortais na vida moderna. Essa velocidade acabou alimentando uma paixão pelo asfalto e corrida de rua devagarzinho foi entrando em minha rotina.  

São muitos os benefícios da corrida e o que me chama a atenção no geral é o bem-estar físico e mental. Acredite; é uma forma de terapia, um momento de encontro consigo mesmo, seus potenciais e seus limites. Seja sozinho ou acompanhado, seja na rua ou na esteira, a satisfação é crescente. Esse bem-estar vem ainda nas amizades que vão nascendo desta paixão em comum e do convívio com pessoas de todos os tipos. Portanto a corrida, como o esporte em geral, é enormemente uma forma de socialização, até por ser uma atividade física muito democrática. Talvez isso por si só já explique porque as corridas continuamente ganham tantos adeptos. Comprovadamente há também os benefícios físicos concretos, como a redução da gordura corporal quando aliada a uma dieta apropriada, melhora do perfil de colesterol e dos níveis de pressão arterial, maior capacidade cardiovascular, melhor qualidade do sono, além de auxílio na osteoporose.

Claro que tudo tem pelo menos dois lados, riscos podem vir, sejam de lesões osteoarticulares, desidratação e sobrecarga, sobretudo quando se pratica a atividade sem a devida orientação. Aqui entra uma questão que se relaciona à individualização que se precisa fazer em qualquer modalidade esportiva, quer como lazer, quer como terapia. Apesar de bastante democrático como já foi dito, cabe dizer que não precisa ser para todos, uma vez que depende da capacidade e das condições físicas de cada um, dos seus objetivos, e porque não dizer do estilo. É importante respeitar seus limites, sobretudo das questões de saúde que possam influenciar nesta prática. O ideal muitas vezes é começar se movimentando da maneira que dá, com caminhadas, e sem esquecer de ter uma avaliação médica precedendo o início delas.

Uma vez nas ruas, a vontade de ir mais longe, de superação pessoal irremediavelmente vem. E me veio. Me mobilizando tanto, que vou embarcar numa empreitada cheia de alegrias; a minha primeira meia-maratona. Obviamente requer cuidados e disciplina, tema para um próximo papo, mas com certeza muito enriquecedor. Para isso escolhi minha terrinha querida, a Bahia, numa corrida cheia de significados, que me levará entre dois símbolos maravilhosos em Salvador, pontos turísticos lindos; o Farol de Itapoan e o Farol da Barra. Então agora é reta final e sebo nas canelas!

domingo, 8 de maio de 2016

E no dia das mães...

UM AMOR IMENSO

Sempre repito que dia das mães é todo dia.

Nem me lembro de onde ouvi essa frase.

Fato é que todas as nossas relações se desenrolam dia-a-dia, e com a maternidade não é diferente, só que tingida com cores mais fortes, do amor que sentimos pelos nossos filhos,  do peso da responsabilidade pelo seu bem-estar, da culpa pelo pouco tempo que passamos com eles, da alegria de sermos recebidos com o abraço mais sincero, da cotovelada no meio da noite quando invadem nossa cama, das horas velando seu sono febril, do olhar cuidadoso para ver se estão respirando, das horas mal dormidas.

Mesmo assim, se há um dia em que todos lembram disso; é hoje.

Então, fazer de conta que não reparou nas carinhas sapecas escondendo o segredo do presente comprado com o papai, ser acordada com aqueles sorrisinhos, receber na cama o café da manhã e flores certamente muda o dia e o faz especial.

Impossível não sentir uma força descomunal e dizer que tudo vale a pena; a correria para chegar na escola no horário, as broncas para almoçarem direito, as noites fazendo tarefa de casa, os jantares românticos que não tivemos. Porque aprendemos tanto com os filhos, mais do que imaginamos ensinar, por nos tornarem melhores – aprendemos aos poucos recuperar um tempinho para nós mesmas, a otimizar o pouco tempo juntos, a driblar a rotina e dar uma escapada a dois, a entender que estaremos sempre lá, mesmo sendo mulher, profissional, filha e todos os outros papéis que a mãe a maior parte do tempo deixa para trás.


Sim, a mãe é a primeira a cruzar a linha de chegada nessa marotona nossa de cada dia, mas o bom mesmo é a comemoração final com todas as outras faces que nos habitam, mantê-las em sintonia e equilíbrio, cada uma com sua recompensa peculiar – sentir-se recompensada por ser uma filha presente, por ser uma mulher  plena , por ser uma amiga fiel ou por ser bem sucedida na carreira. São essas faces que nos enriquecem e nos alimentam, que nos tornam mais interessantes, possibilitam termos experiências para trocar, sobretudo com os filhos, são o que nos tornam exemplos a seguir. É o jeito de nos sentirmos inteiras no papel mais importante.  

Tudo para no final reconhecer que a recompensa desse amor imenso é a maior de todas.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

O ENCONTRO DO VÍDEO DE IVETE COM A ENTREVISTA DE LÁZARO

                        

  O vídeo viralizou (para usar o atualíssimo jargão da rede mundial de computadores). Não tardou em virar música. Ivete Sangalo, supostamente dando uma bronca no marido por estar este conversando demoradamente com uma desconhecida, repercutiu no primeiro dia do ano. Nenhuma surpresa, já que tudo referente a ela transborda na mídia e nas redes sociais. O interessante deste episódio é que a avalanche de depoimentos de mulheres fazendo coro, apoiando e se identificando com a cantora foi enorme. Vi mulheres das mais diversas classes e profissões se colocando no lugar dela ou mesmo sentindo-se representadas. O ocorrido reafirma a posição da estrelada artista no imaginário coletivo - com sua humanidade todo o tempo enfatizada. E isso certamente a aproxima do seu público. a alcunha de Diva Pop lhe cai bem justo por esta relação tão natural. Verdadeiro ou não, o pretenso pito no maridão, reagir como alguém normal, é mais um ponto em favor de sua merecida admiração, tão genuína por traduzir um comportamento de uma mulher real. Mais que isso, a torna alguém em quem se espelhar, já pelas qualidades conhecidas e por essa capacidade de ser gente acima de tudo. É este o tipo de ídolo que pereniza.

  É neste ponto que entra Lázaro Ramos, artista de qualidades igualmente reconhecidas, em entrevista a programa que aliás lhe prestou homenagem, o "Grandes Atores" em meados do ano passado. Em dado momento declarou ele esforçar-se em manter suas origens, seus amigos e seus hábitos antes da fama como forma de não se deslumbrar com a popularidade. Tal deslumbramento, um dos riscos do sucesso (sim, há os dois lados da moeda), ameaça a sanidade do indivíduo. Sob pena de esquecer quem é e incorporar um ser inventado, inexistente, o artista (ou qualquer pessoa com notoriedade) pode acabar se distanciando dos predicados de gente de carne e osso. Este depoimento diz muito sobre o que Lázaro representa enquanto cidadão, profissional e personalidade em quem tantas pessoas também se espalham. É fruto de sua formação, e por consequência de seu engajamento nas diversas questões sociais, além de seu amadurecimento, seja pessoal, seja profissional.

  A interpretação do público e a percepção de quem simboliza características admiráveis são tão simples; já dizia Fernando Pessoa - "...estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?". Cada um a seu modo, Lázaro Ramos e Ivete Sangalo mostraram de forma consonante a importância de ser verdadeiro. E mais uma vez ratificam o porquê, além de seu talento, arrastam multidões. Autenticidade é de fato um trunfo valioso na arte e na vida.

domingo, 20 de dezembro de 2015

BOM DEMAIS CHEGAR AO FIM DAS FÉRIAS!




Férias...ah...as férias!

Na grande parte das situações ficamos loucos para que elas comecem e lamentando quando elas acabam.

Neste caso não! Estou ansiando por este último dia de férias (físicas, é importante que se diga) da maternidade! Louca para pôr minhas crias no colo, filhotinhas maravilhosas que aproveitam um pouquinho de suas férias escolares longe dos pais.

Mas essa espera me trouxe reflexões.

Tirar férias dos filhos é saudável (isto dito depois de metade do tempo com culpa, a outra metade justificando que para elas é ótimo ficar se divertindo, e 100% do tempo sentindo muitas saudades). Aproveitamos o tempo para nós mesmas, colocamos a leitura em dia, ficamos mais livres para as saídas com as amigas, assistir aquele filme para maiores e dar mais um impulso na sintonia de casal. Ficar um tempo sozinho, faz bem, aprofunda nosso autoconhecimento e nos faz enxergar pequenos parafusos frouxos que precisam ser apertados na nossa engrenagem. Se presta também a reservar um olhar mais demorado para os nossos tantos outros papéis – mulher, profissional, amiga, estudante, cidadã, atleta, aos quais não podemos dispensar dedicação exclusiva todo o tempo, mas que merecem e precisam sempre ser alimentados. No dia-a-dia os alimentamos de forma mais errática, tirando o tempo de um para colocar no outro, e como uma imagem que me vem sempre à mente; equilibrando os pratos, uma verdadeira malabarista da vida. Essa pausa recarrega as energias para retomar a rotina com todo o gás.

Tudo isso me faz reavivar a prazerosa sensação que agradeço ter desde que as filhotinhas chegaram – a maternidade é meu melhor papel. Você ganha junto muita responsabilidade, trabalho, várias preocupações, alguma culpa, mas o outro e maravilhoso lado é ganhar junto um infinito amor. Este amor incondicional faz tudo valer a pena; até as saudades auto-impostas, que não matam (por pouco), pelo contrário enriquecem nossa relação.

Não é fácil. É um exercício calculado, assistido. Permitir autonomia e liberdade para os filhos exige grande dose de desprendimento. Mas desprender-se é uma prova de amor, mesmo nesse quase devaneio de controle que não existe; deixá-las apoderar-se de suas vidas em certa medida as coloca mais firmes no caminho de se tornarem mulheres que desejo que sejam, fortes, guerreiras e donas de seu destino. Para os filhos, tirar férias dos pais também é bom. Experimentam novas coisas, põem à prova limites que só testam na segurança do pai e da mãe, se divertem e se redescobrem a cada dia. Para o amadurecimento deles é um grande passo, se comportar bem longe do olhar quase que obsessivo da mãe, experimentar um nível diferente de liberdade e se sair bem. É uma estrada cheia de dúvidas para todos nós, onde retroceder é lícito, mas que precisa ser trilhada. E lá estamos indo nós!


No final das contas o saldo é positivo. Nos reencontramos na felicidade de doces abraços, beijos infindáveis e do maior amor do mundo!

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

ONDE FOI PARAR A POESIA?

Onde foi parar a poesia? Se perdeu no meio da velocidade do tempo, da correria dos dias, do trabalho, das dissertações. Quero ser sua cúmplice, inspiração, mas tanta coisa me arrebata antes de ti. Sigo tão culpada, mas ouso eliminar a cruel carga da palavra culpa e me permitir perceber a realidade de outra forma.

Pensando mais profundamente, e me dando a dose de benevolência que sinto merecer, entendo que a poesia sempre está aqui. A vejo no brilho do olhar quando vejo meus dois tesouros dormindo tão inocentes. E quanta poesia sinto na alegria de encontrar um velho amigo e matar as saudades. Me pergunto se há algo mais poético do que a paz de estar diante do mar no esperado domingo que demora a chegar. É pura poesia o conforto de um simples abraço das pessoas que amamos. Acredite: nosso cotidiano está repleto de poesia. Há poesia em dar uma parada no final da tarde para um cafezinho com as amigas, mesmo cronometrando o encontro para buscar a criançada na escola. Acordar de madrugada para estudar te põe cercado pela poesia que há no silêncio. Inusitada também é a poesia de estar praticando seu esporte predileto e se perder em seus pensamentos. Mesmo aprontar-se às pressas para um compromisso encerra a poesia, afinal está em tudo que for feito com emoção. O trânsito caótico pode até ser poético se você já o previu. Conseguir entregar os relatórios no prazo tem tanta poesia quanto atravessar a linha de chegada de uma grande corrida. E no final do dia poder descansar com a sensação de dever cumprido é indiscutivelmente muito poético.

Pois bem, a poesia está no que te inspira, mesmo que a velocidade te atropele, mesmo que tudo pareça tão nu e cru, que não consiga tempo para colocar tudo isso no papel. Ter isso em mente é uma forma de garantir alcançar a beleza das coisas. Cada pequeno gesto, cada pequena conquista, tudo conspira para nosso enriquecimento pessoal, sobretudo de aprender a valorizar o que de fato é importante, o que de fato nos move. E se isso não é poesia, o que será?


Enfim, há sempre poesia no turbilhão da vida. Tudo depende do seu olhar. Poesia é o que nos mobiliza, cada um a seu modo, por isso me adianto a responder a pergunta que me motivou no início – a poesia foi parar em cada um de nós!

domingo, 5 de julho de 2015

DESVIRTUARAM OS CONTOS DE FADAS




Quando minhas filhas me apresentaram a Apple White e Raven Queen meu primeiro pensamento foi - desvirtuaram os contos de fadas! (parenteses para explicar aos desavisados; estas são as filhas da Branca de Neve e da Rainha Má, respectivamente). Os personagens dos contos de fadas tiveram filhos? E com quem - pára tudo! Cerise Hood é a filha da Chapeuzinho vermelho com o Lobo Mal! Para onde foram a inocência e a ingenuidade dos tais contosÉ...o mundo gira, as coisas mudam e a indústria resolveu capitalizar na modernização das heroínas boas, ingênuas e com seus finais felizes. Se não há como deter o avanço dos novos tempos, vamos aprender alguma coisa com ele. 

Mattel é uma gigante dona das marcas Barbie, HotwheelsFisher-price e Monster High, para citar alguns, cujo lema é "A gente cria. Seu filho imagina". Não chegou onde está à toa, mas sim às custas de muita pesquisa de mercado e parcerias pelo mundo. O seguimento lúdico dos contos de fadas não podia ficar de fora, e trazê-los a um conceito atual, com uma historinha bem amarrada, com livros, série de TV e culminando com lindos bonecos (sim, pois não só personagens femininos entram em cena; Dexter Charming e Hunter Huntsman são alguns dos "garotos" do enredo), é sucesso na certa.  

O cenário principal de toda trama é uma escola chamada Ever After High, localizada em algum reino distante e que reúne todos filhos adolescentes de personagens famosos dos contos de fada, como por exemplo a Bela Adormecida e a Cachinhos Dourados. Os alunos fazem com que a série fique muito mágica e interessante, e estão lá para perpetuar a história de seus pais e serem ensinados a seguirem as tradições de suas famílias.  Assim, todas as futuras gerações podem continuar vivendo esses incríveis contos de fada que as crianças tanto adoram. O ponto de inflexão na história é que uma das alunas começa a pensar um pouco em sua vida e passa a questionar esse futuro já traçado, manifestando a vontade de escrever seu próprio destino. Sob essa influência o colégio se divide em duas facções; os Royals, que seguem as tradições e os Rebels, que questionam sua predestinação. Em comum o encantamento e a magia, além de todos almejarem um final feliz. 

A essa altura já me vi apreciadora da invencionice, achando que se tudo evolui, por que não as histórias infantis? Tantas vezes torci o nariz para a fixação das crianças em heroínas tão passivas, mas era o que tinha disponível, e sempre procurei dar ênfase no lado positivo. Agora, apesar de manter em mente que tudo não passa de um apelo mercadológico, nos é apresentada uma nova forma de dialogar com as crianças, afinal toda essa linguagem subliminar sempre permeou o universo infantil. 

Por fim ainda temos os contos de fadas e suas virtudes, mas podemos fazer uma releitura que intensifique seu papel na educação de nossas crianças nos dias de hojeEntão que bom ter os dois lados da moeda, vivenciar o poder da bondade e benevolência, e ao mesmo tempo discutir o quanto podemos ser agentes em nossas escolhase ficarmos felizes ao final do nosso próprio conto.

domingo, 3 de maio de 2015

SOU A FAVOR DA CENSURA (AUTOCENSURA)



Verdade que muitos de nossos posicionamentos são relativos. Mas verdade também que alguns comportamentos são obviamente inapropriados, principalmente quando diz respeito ao convívio social. O que dizer a uma criatura que não tem o menor bom senso em suas colocações? A melhor resposta é aquela que não se dá? Com a falta de noção da dita é bem possível que ela nem entenda suas entrelinhas.

Se for o preconceituoso típico, aquele que ninguém suporta, menos complicado para lidar; dele se espera tudo. Agora as pessoas com quem convivemos até bem e que vira e mexe "derrapam", requerem um pouco mais de estratégia ou mesmo cuidado para serem rechaçadas. Fato que vivemos numa sociedade preconceituosa por essência; racismo, machismo, homofobia, gordofobia e tantos outros preconceitos, o que é por demais empobrecedor. Entendo que não é fácil livrar-se destas amarras tão entranhadas. Entendo que no final somos frutos de um meio que direta ou subliminarmente nos ensina certos preconceitos. Contudo a gente cresce, o mundo vem mudando e a globalização nos aproxima de toda a diversidade que nele existe, sendo primordial convivermos bem e sobretudo com respeito.

Nessa tentativa de fugir das tais amarras é fundamental perceber que o preconceito vem sim disfarçado e de várias maneiras, vem muitas vezes velado. Escamotear o preconceito com o humor, por exemplo é bem comum; aquela piadinha de que "tá tudo preto" ou "onde comprou tinha pra macho?" não tem mais espaço para ser compartilhada! Ela é uma atitude negativa de quem a tem e ofensiva a quem ouve, seja o interlocutor negro ou branco, hétero ou gay, pois no fim nos arrasta a todos para a o não saber lidar com as diferenças, para o desrespeito ao próximo e para a reafirmação de comportamento que deveria nos repugnar. Pode parecer exagerado, ou que nada tenha haver com você, mas em maior ou menor medida o preconceito acaba por se revelar. E lembre-se que esse preconceituoso cria filhos preconceituosos e dessa forma perpetua uma situação já tão ingrata (ou de onde será que o menino ouviu "sai da frente, macaco!"). Mais um motivo para ficarmos atentos aos pequenos atos muitas vezes tão carregados de preconceitos, bem como à discriminação escancarada (essa sujeita a penas previstas por lei).


Por essas e outras sou a favor da autocensura! Abaixo a liberdade de falar a besteira hipócrita que lhe vier à mente. De volta (nunca nos afastemos) a máxima de que seu direito termina quando acaba o do outro. Vamos pensar um pouco se o que estamos soltando aos quatro ventos ofende ao outro. E é hora de responder diretamente àquela criatura desprovida de bom senso, fazer ela entender que seu comportamento é inaceitável, afinal outra máxima que também não se perdeu, "quem cala consente",  vem bem ao encontro, não despropositadamente, da célebre frase de Martin Luther King "o que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons".

domingo, 8 de março de 2015

CRÔNICAS DE MARÇO: O OSCAR, O ABORTO E O DIA INTERNACIONAL DA MULHER




O  Prêmio Oscar foi em no mês de Fevereiro, mas bem podia ter sido em Março, mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher. Abro parênteses aqui para falar da importância desse dia, que muitos não vêem; não é nascido da vontade de render homenagens e sim da necessidade de parar para pensar no quanto ainda há de preconceito contra elas, do quanto ainda tem condições de trabalho inferiores aos dos homens, de apesar de serem em maior número nas faculdades, serem número muito menor nas empresas, de que continuam sendo subjugadas pela força sofrendo maus tratos, agressões (físicas e psicológicas) e estupros.

Voltando ao Oscar, ele acabou coroando o mês de Março nesse pensamento voltado à mulher no momento em que se destacou a participação da atriz hollywoodiana Patrícia Arquete. Vencedora do prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante pelo filme Boyhood – da infância a adolescência, a atriz voltou seu discurso de agradecimento a essa luta, a pela igualdade de gêneros. Sim, a indústria do cinema também é dada a sectarismos; profissionais de várias áreas ainda hoje, ano de 2015, são vistas de forma diferentes por serem mulheres, independente de sua qualidade técnico. E isso se estende por vários campos em nosso cotidiano, contaminando a visão do meu colega de trabalho, do meu fornecedor, do meu cliente e do meu chefe (isto também, pois tenho muito mais chefes de sexo masculino do que feminino); as minhas roupas têm que ser “anti-estupro”, minha dedicação é menor, aguento menos trabalho, o fato de ter licença maternidade atrapalha a empresa, por  minha família em primeiro lugar desvia minha atenção. Esta visão da mulher é absolutamente equivocada – a competência não se esvai com a multiplicidade de interesses, pelo contrário, a torna mais robusta. É claro que ser mulher ou homem encerra algumas particularidades, mas num mundo de tanta diversidade quanto o que vivemos hoje, estes traços, que são meramente culturais, vão se diluindo e embricando. Lembrar o discurso de Arquete me trouxe à mente o caso da jovem que foi denunciada pelo médico por ter praticado o aborto. Como resultado, saiu do posto de saúde presa, humilhada. Não vou me ater a julgar a atitude do meu colega; sobre ela o Conselho Federal de Medicina já se posicionou, mas todo o problema reside na criminalização de um ato de foro tão íntimo da mulher. Independente de ser a favor ou contra (em que pese que sou contra), não é o tipo de atitude que deva ser considerada criminosa uma vez que a mulher precisa ter o direito de decidir o que fazer com seu próprio corpo. Aqui entram diversas questões a serem discutidas, argumentos de muitas procedências, mas o episódio retrata o quanto ainda temos, enquanto sociedade, o que debater e encarar de frente.


Então mulheres, aproveitem as homenagens, mas não percam de vista a verdadeira razão dele, que é fruto de luta e de luto de mulheres que lá no início do século XX já bradavam pelas demandas que, a despeito de obviamente muita coisa ter melhorado, ainda são nossas nos dias atuais.