Nestes tempos de internet e informação
ultraveloz o que mais tem se visto são as avalanches de compartilhamentos de
coisas que verdadeiras ou não se transformam em ordem do dia. O afã de sair por
aí compartilhando tudo sem nem checar a fonte e a veracidade já é algo de
arrepiar os cabelos. São inúmeros os casos de desmentidos tardios, depois de
alguém ter sido morto a pauladas, tarde para devolver o negócio que sustentava
uma família ou mesmo atrasado ao revelar que o pai não tinha de fato
sequestrado o filho. O estranho mundo do clicar um botão apenas por fazê-lo, e
ser o primeiro. É a cultura do falso engajamento, de estar por dentro de tudo,
que de forma distorcida vem sem se embasar, sem se aprofundar.
Observando esse cenário nada se espalha
mais rápido, tal qual rastilho de pólvora, do que as “palavras de ordem”
precedidas pela hashtag. Em poucos
segundos milhares de pessoas podem segui-la, de forma instantânea, o suficiente
para nem sequer entender o que há por trás. É tão urgente seguir, ser dos
primeiros, estar por dentro da mais nova onda, e dali a pouco da próxima. Se é
para ser uma “palavra de ordem”, que ao menos se discuta e se permita vivenciar seus efeitos.
Recentemente passeou insistentemente
pelas redes sociais a #somos todos macacos, fruto de um episódio lamentável e
infelizmente cotidiano de racismo sofrido nos gramados de futebol, desta vez
pelo jogador Daniel Alves; atiraram uma banana no campo e ele, com muito bom
humor, come a banana. A enxurrada de fotos com bananas foi gigantesca, positivo
por trazer o tema racismo para o primeiro plano, porém raso por não avançar na
discussão, ofensivo travestido na máscara da coletividade por chamar o negro de
macaco. Pergunte quantos dos milhares que repetiram a tal hashtag sustentaram a questão, demoraram-se em raciocinar o efeito
do binômio banana-macaco, num país que foi o último a abolir a escravidão e que
ainda carrega muitas desigualdades que tem nela suas raízes.
A exemplo desta há várias outras
“campanhas” surgindo todos os dias. Algumas caem mais no gosto geral, sofrem o
efeito manada, não se sabe bem porquê, outras são frutos de descontentamentos
reais, como a #foradilma, também positiva por trazer a política para as
primeiras fileiras, contudo igualmente superficial. Onde foram parar os
questionamentos sobre as opções que o país tem hoje, sobre os pontos positivos
e negativos dos candidatos, sobre o que urge mudança e sobre o que deve ser
continuado. Não é necessário ser especialista em política para saber que as
eleições fazem parte de uma engrenagem muito mais complexa do que a flecha
ligeira de uma hashtag. Esta poderia
ser o pontapé inicial de uma discussão mais ampla, de uma conscientização sobre
o poder do voto, sobre a função dos programas de transferência de renda e sobre
o enfretamento da corrupção, dentre outros temas que são cruciais para o país.
A maré das hashtags também é
assolada por interesses espúrios.
Engana-se quem pensa que surgem única e exclusivamente da espontaneidade
popular. Pelo contrário muitas vezes são engendradas por serem facilmente
palatáveis e seguidas por um grande número de pessoas que acabam por servir
apenas como massa de manobra. E some-se a isso aquelas que são campanhas
publicitárias pagas e que na instantaneidade do mundo virtual são travestidas
de apelo popular.
No final das contas, diante de tanta liberdade
de expressão, onde qualquer coisa pode ser dita e ser transformada em verdade
absoluta, é preciso cuidado. Embarcar em tudo sem dispensar sequer um segundo
de análise é no mínimo irresponsável. É sempre mais um grão que pode estar
fomentando alguma inverdade ou injustiça, e que ironicamente em essência o
seguidor discorde. Há a alternativa desse grão fazer parte de algo genial e que
deva ser replicado. Por tudo isso, tenha medo da hashtag; encare ela a fundo antes de seguir com ela.