E ela achou que resolveria o problema com o
mais novo produto de importação. Deve estar mesmo “bolada”. Ora, se o problema
é a concentração de médicos nos grandes centros , deixando os recantos mais
distantes ao “Deus dará”, este precisa ser analisado, em detrimento de medidas
paliativas tidas como emergenciais, até porque, produto de importação ou não,
pelos mesmos motivos, migrará também.
Importar médicos não é idéia genuína do nosso
executivo e pode ser uma forma excelente de intercambio de idéias e crescimento
científico. Já foi reproduzido antes em outros países, com alguns exemplos de
boa prática e de boa integração, contudo o que se vê é, que como tudo, o
exagero e a intempestividade deixa a população mais carente em sério perigo, um verdadeiro cavalo de Tróia. Um
estudo no Reino Unido, país com grande experiência no assunto (de cada dez
médicos no país, quatro são estrangeiros), mostra que 63% dos médicos que
tiveram o registro cassado em 2007 eram estrangeiros, o que é atribuído a
dificuldades na comunicação com os pacientes e desconhecimento da legislação do
país.
Se cogitar a modalidade de importação já é em
grande medida questionável, Trazer médicos sem validação do diploma e sem
proficiência no idioma é um absurdo. Lembra aquela história de “medicina de
rico para rico, medicina de pobre para pobre”. Uma medicina digamos de segunda
classe que se designa aos mais carentes, a título de ser temporário e
emergencial.
Obviamente não se pode ignorar a escassez de
profissionais nas cidades do interior. Vale ressaltar que a questão não é apenas
a distribuição, mas também o número total. No Brasil são 17,6 médicos para cada
10 mil habitantes, número bastante inferior a países mais desenvolvidos (na
Áustria esse número chega a ser quatro vezes maior). Ainda assim, a simples
importação, sem que se resolva nossos problemas cruciais como as condições de
trabalho nestas cidades pequenas, o atrelamento do trabalho do profissional
médico à política local, a falta de um plano de carreira e melhores salários. A
despeito do número total de médicos formados, a concentração nos grandes
centros é o que mais preocupa e distorce o cenário – há uma disparidade
urbano/rural e também de regiões do país; no Sudeste são mais médicos
proporcionalmente do que no Maranhão, por exemplo, além de 397 municípios
brasileiros não terem sequer 1 médico residente. Se as condições de trabalho
para o atendimento no serviço público já são aviltantes nas capitais, imagina
no interior. E para os profissionais vindouros também não se vislumbra um
horizonte dos mais afáveis. Por conta disto já se vez alusão até aos navios
negreiros, uma vez que o médico estrangeiro terá que trabalhar onde e quando o
governo determinar, com registro temporário de trabalho e a salários definidos
ao bel prazer do nosso executivo.
No final das contas repete-se um vício crônico
no “Reino da Brasilândia”; atuar paliativamente no efeito, sem encarar de
frente as causas, até porque aí o “buraco é mais embaixo”. Ainda não
presenciamos o governo capaz de expor a ferida e cortar na própria carne. A
tentativa de trazer médicos aos lotes, sem sequer revalidação de títulos é mais
um capítulo nessa novela – tentativa do
caminho mais fácil, sem estar preso ao Revalida, o que considera burocrático e
rigoroso.
E ela continua achando que resolverá o
problema...