sábado, 10 de agosto de 2013



GRITA, PAI!

Papai acordou gritando. Pensei que era um pesadelo, mas ele disse que não, pelo contrário era um sonho, e agora tinha dado seu grito de libertação. Nada entendi, mas com certeza mamãe entendeu, pois deu-lhe aquele sorriso que só adulto sabe a razão. Continuei por ali para ouvir um pouco mais e tentar descobrir do que papai tanto queria se libertar, e o vi tão feliz que soltei um sonoro grita, pai!

Sobre a tal multimulher já ouvi mamãe falar várias vezes, parece que ela se acha uma, e parece que é legal ser, é tipo uma super-heroína que faz tudo, pensa em tudo e resolve tudo. Quando a professora falou em genética na escola me veio logo o pensamento de que eu também devo ser a tal mulher. Mamãe sempre fala sobre as exigências dessa nova mulher, do quanto os homens precisam correr para está em dia com os novos tempos.

Papai eu vejo sempre dizendo que alcança, mas nunca ouvi ele falar do multihomem. Vai ver não existe nem é genético! Tenho uma vaga explicação para isso; outro dia papai falou “homens são de Marte e mulheres são de Vênus”. Aquilo me assustou num grau! Somos todos extraterrestres? Foi nessa hora que pesquei a dita explicação; homens e mulheres são bem diferentes e entendem o mundo de forma distinta. E ele frisou que os homens, diferente das mulheres, não fazem várias coisas ao mesmo tempo. Eu já tinha percebido isso na escola.

Voltando ao grito do papai e do que ele estava se libertando, a verdade é que as mulheres exigiam muito que os homens mudassem, que fossem pais mais participativos (física e emocionalmente), porém não estavam preparadas para isso. Fiquei meio confusa porque a conversa saiu lá de casa para a sociedade – papai falou que a sociedade ainda não acolhe um homem se envolver nos cuidados dos filhos; para ele me levar ao banheiro no shopping foi uma novela, para tentar trocar minha roupa de balé no vestiário foi outra, para escolher nossas roupas na loja precisou enfrentar a ironia da vendedora. Contou que um amigo, recém-separado, optou por uma coisa chamada guarda compartilhada e a mulher resistiu porque achava que ele sozinho não saberia cuidar dos filhos. Foi quando papai falou de preconceito, que os homens já vinham com carimbo das mulheres, tachados de ausentes ou distantes.

O grito foi porque no sonho papai entendeu (na hora ela falou insight, mas ainda não perguntei o que quer dizer) que aquilo tudo era rótulo e que o amor de pai é diferente de amor de mãe sim, mas é tão incondicional quanto. Daí o grito, de argumentação, de posicionamento, de dizer ao mundo que o novo pai está aí dando a cara pra bater, errando, acertando e aprendendo como todo mundo. Então pulei em seu pescoço e repeti; grita, pai!

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