sábado, 17 de setembro de 2011

PRECONCEITO



É muito comum assistirmos cenas de discriminação explícita ou velada. Nossa sociedade costuma ser reacionária e padronizar comportamentos. Aqueles que estão de alguma forma fora do padrão são segregados, mesmo nos dias de hoje, tempos de globalização e de avanços científicos impressionantes. Diversas situações com que nos deparamos estão impregnadas por atitudes hostis baseadas em juízos preconcebidos e generalizações que não levam em conta as pessoas individualmente. Atitudes assim definem o que é preconceito, traço milenar da humanidade.

Quando se fala em preconceito surge uma sensação desagradável e desconcertante. Estranhamente algo tão incômodo persiste através das gerações. O psicólogo de Harvard Gordon Allport, famoso por seus estudos sobre a natureza do preconceito, mencionava a influencia de traços de personalidade na gênese do mesmo, mas estudos recentes dão conta de que o preconceito é algo histórica e socialmente construído; não resulta de processos biológicos, e sim de crenças específicas nascidas na sociedade para equacionar as diferenças. Aliás, a diferença talvez possa ser o símbolo maior nesta questão, já que é justamente na tentativa de lidar com o diferente que surgem os preconceitos. A Psicologia Social aponta estas condutas como adaptativas do ser humano, o qual tenta simplificar sua visão de mundo categorizando as pessoas, criando estereótipos.  A palavra estereótipo vem do grego stereos, que significa rígido e túpos, que significa traço. Há alguns séculos se referia a um processo de impressão e passou a ser utilizada na década de 1920, pelo jornalista americano Walter Lippman, para referir-se ao modo como as pessoas aplicam o mesmo caráter à impressão que têm de determinados grupos de indivíduos. Criar estereótipos pode ser um atalho necessário, porém pode ser uma armadilha quando generalizações incorretas rotulam fortemente as pessoas e não permitem que as mesmas sejam enxergadas através de suas características próprias.

O preconceito pode manifestar-se de diversas formas, desde as mais agressivas que são vistas “à olho nu” até àquela coisa velada, rasteira, que contamina sem mesmo percebermos. O que os psicólogos costumam dizer é que a atitude preconceituosa engloba, além dos componentes comportamentais e cognitivos, o afeto, e que o tipo dominante deste não é o ódio, como poderia se supor, mas o desconforto e a ambivalência que gera o afastamento. Trata-se da estranheza que o diferente provoca, resultando em comportamento de repulsa, ainda que subliminarmente. Da maneira que é colocado pela literatura, a sensação é de que comportamentos assim são inexoráveis ao ser humano, portanto deles não se pode fugir. Um rasgo de esperança neste contexto vem das teorias da psicóloga D.G. Devine que criou os termos ativação automática e ativação controlada dos estereótipos. Segundo a autora, já que grande parte dos estereótipos são disseminados em nossa cultura, eles vêm à mente de forma instantânea, o que seria a ativação automática. Nesta hora entra o bom senso e o livre arbítrio para que, refletindo conscientemente sobre a imagem automaticamente gerada, reavaliemos a impressão inicial e não prossigamos com a discriminação (ativação controlada).  

Quero crer que como seres pensantes possamos fugir destas grades culturalmente impostas e passemos a um outro patamar de convivência com o diferente. A diversidade precisa ser entendida e aceita como fonte de crescimento, e a melhor estratégia para tal é se abrir ao outro, tentando ver além das convenções. E se a distância de fato for intransponível, viva e deixe viver.


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