domingo, 13 de julho de 2025

EU ARRANQUEI 8 DENTES

 E se passaram quase 8 anos. A última postagem contando alguma coisa aqui vai longe. Setembro de 2017 eu paralisei.  Sempre tendo algo a contar. Volto hoje a colocar em públicas palavras escritas. Sem acreditar em coincidências. O número é 8 - 8 dentes, 8 anos, 2 do 2 de 2002 - simboliza o infinito, o poder, o equilíbrio. Eu arranquei 8 dentes e de alguma forma isso me moveu daquela paralisia. E seguem as mulheres da casa, fortes, vivas, presentes. 

Em setembro de 2017 o corredor de nosso apartamento testemunhou uma imensa queda, o tombamento, diante das mulheres da casa, vítima de uma acidente vascular cerebral que não o deixaria retornar ao nosso lar. Foram 4 meses de hospital, terapias, UTIs, procedimentos, angústias, incertezas e dor. Também foram meses de amor, entrega, solidariedade e desvelo. O ano virou e foi um novo começo num fim. Ele deixou a casa pronta, mas muitos momentos de uma certa solidão sempre viriam ao meu encontro. Ficou a falta. Seguiram as mulheres da casa, cada vez mais fortes, mais vivas, mais presentes.

A força feminina aqui com certeza é grande marca, a qual herdei, passo adiante, atraio e convivo. Ela permeia tudo e se faz sentida em cada capítulo dessa nossa história. 

Foi assim na partida da grande matriarca, de onde tanto nasceu, a que mais me ensinou a maternar, a que tanta falta faz, para quem todos os dias tenho o impulso de ligar para contar as novidades ou apenas desejar bom dia. Nessa hora lembro que ela já sabe de tudo, lembro que está mesmo sempre em mim e desejo bom dia.

De modo a repetir sentimentos, nesses 8 anos partiu mais um alicerce, aquela que de algum modo também ajudou meu maternar, agente ativo do cotidiano de todas nós. Se for contar bem, foi o convívio maior dos últimos anos, diário, próximo, cuidado.

Ficou a falta. Seguiram as mulheres da casa, ainda mais fortes, mais vivas, mais presentes.

O ciclo foi mesmo transformador. Tudo andando seu rumo predestinado, tudo fluindo ao sabor da vida, cada uma aprendendo e ensinando, o Universo a conspirar, as mudanças lições interpretadas, o crescer, o maturar. Quanta coisa vivemos, compreendendo juntas umas às outras, apoiando, acolhendo, amando. Eu que sentira como se tivesse perdido meu tripé e seguia por aí de certa forma capenga, mas em pé, sustentando posturada o caminho, comecei a sentir que sou parte de outro tripé.

Os dentes, não apenas os 8, são um perfeito retrato desses 8 anos. Lá de trás, dos seus  dentes de leite, a inocência foi vivida intensamente diante de meus olhos, a decídua do existir. A troca dos dentes de leite pelos permanentes, processo que comunga com as mudanças do estar no mundo, comunga com o amadurecer físico e naturalmente o amadurecimento mental e emocional. De fato erupções. A hisória natural dos 32 dentes pode ser diferente para cada indivíduo, assim como nossa passagem por aqui - leva vários anos, varia de pessoa a pessoa, até mais tarde surgirem (ou não) os sisos, em número de 4, encerrando um ciclo.  

Tudo isso para lhe contar que eu arranquei 8 dentes. Não os meus dentes. Os sisos daquelas que formam o tripé comigo. A idéia de extrair os 8 ao mesmo tempo pareceu prática, objetiva, inteligente e capaz de otimizar todos os recursos a serem empenhados. Até foi, contudo revelou sua face aterrorizante quando todos aqueles momentos de uma certa solidão pareceram se condensar de uma só vez, e uma só pancada, na minha mente. É o medo natural que pode aparecer das decisões tomadas única e exclusivamente por você. Tem o discutir, o ponderar, ouvir opiniões, mas no concluir é apenas você. Teria tomado a decisão certa? E se alguma complicasse? Era o melhor momento? As melhores mãos? O melhor lugar? A melhor estratégia? Teimosas interrrogações que te tomaram de assalto.

No fim grande parte desse episódio é fruto da grande responsabilidade que é navegar pelas águas de ser mãe. Pode sim ser dividida, partilhada, mas ainda assim de cada um. É respirar, recobrar o fôlego e seguir, fazer o que tem que ser feito. A sensação de solidão, que chegou gigante, numa enorme erupção cá dentro, foi efêmera. Cumpriu seu papel, creio. Me trouxe outros entendimentos desse lugar, me firmou o tripé equilibrado nesse chão nosso de caminhar e também me moveu. 

Tudo porque eu arranquei 8 dentes.